Pessoas estão a ser enterradas em valas comuns em Mariupol

Deputado ucraniano afirma que a cidade já só tem alimentos para três dias. 

Pessoas estão a ser enterradas em valas comuns em Mariupol

A cidade de Mariupol está cercada há uma semana pelas forças russas, estando agora sem acesso total a água, eletricidade e gás.

O autarca de Mariupol, Sergiy Orlov, fala num cenário de "genocídio", na cidade que já conta com 1.170 mortos, tendo 47 pessoas sido esta quarta-feira enterradas numa vala comum. Sem acesso a alimentos e até mesmo água, muitos estão a comer "neve". 

Por existirem morgues sobrelotadas e muitos cadáveres por recolher nas casas, foi escavada uma vala funda com cerca de 25 metros de comprimento num dos mais antigos cemitérios do centro da cidade, onde assistentes sociais apareceram hoje a transportar 30 corpos envoltos em tapetes ou sacos, sendo que, na terça-feira, levaram outros 40.

Entre os mortos enterrados nas valas comuns, há vítimas civis dos bombardeamentos à cidade, bem como alguns soldados. Funcionários dos serviços sociais municipais têm também ido recolher cadáveres em casas de habitantes da cidade, incluindo de pessoas que morreram de doença ou causas naturais, sendo que não houve qualquer cerimónia, nem familiares a despedir-se.

O autarca de Mariupol descreveu esta manhã aos jornalistas a cidade como "medieval", adiantando que a população tem de se aquecer com fogueiras. 

Sergiy Orlov diz que “Putin quer uma Ucrânia sem ucranianos, é genocídio puro. É um crime de guerra, estão a atacar-nos com aviões, com múltiplos ataques de míssil”.

Citado pelo The Guardian, o autarca afirma que as forças russas dispararam sobre o corredor humanitário, minaram os caminhos e colocaram um check-point na saída. “Há 200 mil pessoas desesperadas para sair, só dois ou três mil conseguiram em autocarros municipais. Os outros foram destruídos", diz, acrescentando que os soldados russos dispararam ainda sobre carros privados que tentaram sair da cidade, fazendo-os recuar. 

“A Rússia continua a fazer refém mais de 400 mil pessoas em Mariupol, a bloquear a ajuda humanitária e a evacuação. O bombardeamento indiscriminado continua”, lê-se numa publicação na rede social Twitter de Dmytro Kuleba, ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia.

Segundo o ministro, “quase três mil recém-nascidos” não têm acesso a medicamentos e comida. Kuleba pede ainda “ao mundo” para agir. “Obriguem a Rússia a parar a guerra bárbara contra civis e bebés.”

Dmitro Gurin, um deputado ucraniano, cujos pais continuam em Mariupol, referiu que a cidade tem neste momento provisões para três dias até que os seus habitantes comecem a passar fome, descrevendo à BBC a situação humanitária como muito precária.

Foi também em Mariupol que morreu um bebé de 18 meses, vítima de bombardeamentos, bem como uma menina de 6 anos, vítima de desidratação.