Mariupol. “As pessoas começaram-se a atacar-se umas às outras por comida”

Além da falta de comida, sabe-se ainda que os doentes – nomeadamente diabéticos e doentes oncológicos – não estão a ter assistência médica.

Mariupol. “As pessoas começaram-se a atacar-se umas às outras por comida”

O Comité Internacional da Cruz Vermelha alertou esta quinta-feira para a situação humanitária na cidade de Mariupol, revelando que está a tornar-se "cada vez mais terrível e desesperante". De acordo com a organização, centenas de milhares de pessoas estão atualmente sem acesso a comida, água, aquecimento, eletricidade e assistência médica e os habitantes “atacam-se uns aos outros por comida”.

A representante do Comité, Sasha Volkov, revelou, através de um testemunho partilhado na página oficial da organização, que "as pessoas ainda encontram algumas maneiras de recolher água" mas que, apesar de a Câmara Municipal de Mariupol "entregar algumas garrafas de água”, ainda é “insuficiente". "Muitos não têm água para beber", sublinhou.

As lojas e farmácias da cidade foram "saqueadas" há alguns dias e "algumas pessoas ainda têm comida", mas "não se sabe quanto tempo vai durar". Além disso, sabe-se que há pessoas, especialmente diabéticos ou doentes oncológicos, que estão sem assistência médica.

"As pessoas começaram-se a atacar-se umas às outros por comida. As pessoas começaram a arruinar os carros de outras pessoas para tirar gasolina", denunciou.

Numa altura em que se registam graus negativos em Mariupol, os habitantes “começam a ficar doentes por causa do frio” e “não têm para onde ir”.

“Os abrigos, as caves, estão abertas apenas para as crianças e para as mães. Os restantes adultos e as crianças acima dos 12 anos dormem nos escritórios [do Comité]”, contou.

Através de uma chamada telefónica, a responsável realçou que "está muito frio" e que, por agora, as instalações do Comité "ainda tem algum combustível para geradores, conseguindo ter eletricidade para 3/4 horas".

Os voluntários da Cruz Vermelha “trazem a comida que têm em casa” e “visitam as casas destruídas e danificadas” pelos bombardeamentos das tropas russas dos colegas para “recolher a comida que se encontra lá”. “Temos comida para alguns dias. Começamos a adoecer, muitos de nós, por causa do frio e da humidade. Tentamos alcançar os padrões de higiene tanto quando possível, mas nem sempre dá”, reiterou. 

Os próprios membros da Cruz Vermelha encontraram "uma maneira de recolher um pouco de água", sendo que, quando acabar o stock, vão "ferver água dos regos". 

O apartamento de Cruz Vermelha alberga atualmente cerca de 65 cidadãos ucranianos, número que aumenta durante a noite, quando as pessoas que vivem no prédio levam os filhos para a cave "com receio" dos bombardeamentos. 

"Tentamos fazer o melhor que podemos. Encontrámos uma espécie de mercado negro com vegetais. Está a funcionar até agora, mas não é possível comprar carne ou algo do género. Tentamos comprar alguma comida e comer alguns vegetais. Compramos lenha – que é extremamente valiosa – porque precisamos de usar lenha para cozinhar. É isso que tentamos fazer", concluiu.