Onde estava o PCP em 56, 68, 79, 2014 e 2022?

O perigo das redes sociais é bem evidente nesta história. Com as bandeirinhas da Ucrânia no lugar da foto da praxe, os novos vingadores decretam guerra a tudo o que é russo. São os novos julgamentos populares, muitas vezes de pessoas sem nome, covardes e medrosos que só sob o anonimato é que declaram guerra…

É difícil entender o comportamento de pessoas que agora, em Portugal, são hostis a russos que cá vivem, muitos deles nada tendo a ver com Putin. Os amigos do ditador que possam cá estar são uma imensa minoria e não costumam misturar-se com o povo. Já tinha visto, nos últimos dias, situações tensas entre comunidades do Leste, mas o  medo que está a instalar-se entre os russos pode muito bem ser ilustrado por um episódio que vi esta semana durante a entrevista a João Soares. Quando estávamos à mesa de um café da Praça das Flores, em Lisboa, sentou-se uma mulher na mesa ao lado, e depois de ter feito o pedido, um copo de vinho rosé e um doce, escusou-se a dizer qual a sua nacionalidade quando alguém lhe perguntou. Reparei, pois estava mesmo ao nosso lado, que abria os olhos sempre que na entrevista o nome de Putin vinha à conversa. Minutos depois acabou por revelar que é russa, mas sempre a medo. Alguém lhe disse para estar à vontade e que era muito bem vinda, mas nem isso a fez libertar-se.

Também os professores dão conta que os miúdos russos são alvo de bullying nas escolas portuguesas, o que é verdadeiramente inaceitável. O que têm essas crianças a ver com um louco que decretou guerra à Ucrânia e ameaça o mundo com uma guerra nuclear?

O perigo das redes sociais é bem evidente nesta história. Com as bandeirinhas da Ucrânia no lugar da foto da praxe, os novos vingadores decretam guerra a tudo o que é russo. São os novos julgamentos populares, muitas vezes de pessoas sem nome, covardes e medrosos que só sob o anonimato é que declaram guerra ao mundo. Podemos bem dizer que são os novos Torquemadas dos tempos modernos.

Mudemos de protagonistas. A invasão russa tem servido para mostrar de que lado estão as duas alas do PS: a mais à esquerda e a mais ao centro. Mas, o mais engraçado, é que a ala mais geringonçada mantém-se muda e calada para não ferir suscetibilidades e, talvez, para acautelar o seu futuro com o que restar do PCP e do BE. Passam hoje 16 dias que começou a invasão bárbara russa à Ucrânia e o todo-poderoso ministro Pedro Nuno_Santos continua desaparecido em combate, no que à matéria diz respeito. Já Francisco Assis e Sérgio Sousa Pinto não tiveram problemas em dizer o que pensam: que o PCP não é um partido democrático, apesar de conviver bem em democracia.

Explicação curiosa para não se pronunciar sobre o assunto tem João Soares, que fala do papel importante dos comunistas na luta pelos mais oprimidos e vulneráveis e de como pode ficar Portugal se desaparecerem do mapa – dando lugar a ‘rebeldes’ como os coletes amarelos franceses. Penso que disso ninguém tem dúvidas. O PCP, à sua maneira, procura estar do lado dos mais desprotegidos, e é a sua voz que faz com que tenham algumas conquistas. Já quanto ao modelo de sociedade que defendem também não há muitas dúvidas.

Recordemos só o que disseram sobre as invasões na Hungria em 1956, na Checoslováquia em 1968 – que fez muitos intelectuais abandonar o partido perante as evidências –,  do Afeganistão em 1979 ou da Crimeia em 2014. Quem tem dúvidas que faça uma simples pesquisa no Google e vai reler discursos inflamados contra os americanos e a NATO, os verdadeiros culpados de tais invasões.

O PCP só defendeu a paz quando a União Soviética e a Rússia não estiveram envolvidas nos confrontos. A pomba da paz só serve mesmo para atacar o modelo ocidental. E os discursos patéticos de alguns dos seus dirigentes, perante o massacre russo na Ucrânia, dá dó. Felizmente vivemos num país onde todos podem dizer o que pensam, embora se o PCP estivesse no poder tenho grandes dúvidas que pudessem.

vitor.rainho@sol.pt