Quando chegam as perguntas difíceis

Todas as perguntas, por mais incómodas que sejam, são pertinentes e devem ser respondidas. E muitas vezes são mais incómodas para nós do que para elas.

Todas as crianças são curiosas por natureza. E isso é um sinal de saúde. À medida que vão crescendo, a informação de que dispõem começa a ser escassa quando confrontada com a realidade. Se até então não se questionavam muito em relação ao que viam e aprendiam, a partir dos três ou quatro anos, quando a fala já está bem estabelecida, começam a querer aprender mais sobre si e sobre os outros, sobre tudo o que as rodeia.

Esta fase pode ser extenuante para os pais porque as perguntas são frequentes e a resposta raramente arruma o assunto, pelo contrário, pode abrir a porta para uma torrente de novas questões.

Mas pior do que extenuante, é quando as perguntas são muito difíceis de responder, por vezes incómodas ou até perturbadoras. Há perguntas que parecem fáceis para quem as coloca mas que implicam uma resposta difícil para quem responde.

Infelizmente não existe um manual de respostas certas para perguntas difíceis. Mas deve existir uma regra: nenhuma questão deve ficar por responder. As crianças contam com os mais velhos, por os saberem mais sábios e mais experientes – na verdade consideram-nos uns verdadeiros gurus –, para as ajudarem a entender o mundo e a elas próprias e nós não as devemos deixar ficar mal. 

Todas as perguntas, por mais incómodas que sejam, são pertinentes e devem ser respondidas. E muitas vezes são mais incómodas para nós do que para elas. A resposta deve ser dada de acordo com o nível de maturidade da criança e de acordo com o que ela pretende mesmo perceber. Não devemos fingir que não ouvimos, que não percebemos, não entendemos ou não sabemos. Se a questão foi colocada é porque a dúvida existe, pode até haver alguma inquietação em relação ao assunto e adiar uma resposta ou ignorá-la não fará com que a dúvida desapareça, muito pelo contrário.
As perguntas mais difíceis costumam estar relacionadas com os dois pontos mais distantes da vida – o nascimento e a morte. E se a primeira pode causar embaraço, a segunda é mais delicada e difícil de responder. As explicações – e esta em particular – nunca devem ser dadas de forma crua, mas também não devem ser embelezadas de tal forma que deixam rapidamente de fazer sentido e podem desencadear ainda mais dúvidas ou inseguranças. Com a melhor das intenções e de forma a causar a menor tristeza possível, há quem diga que quem morre fica a dormir para sempre, o que pode levar a inseguranças em relação ao sono; ou que foi viajar e não voltou, o que pode trazer receio em relação a quem viaja; ou que foi para um sítio melhor, o que as fará perguntar por que não as levaram também para esse sítio fantástico e as abandonaram ali e, se for alguém muito próximo, podem mesmo questionar-se que sítio melhor poderá existir do que estar ao seu lado.

Não há respostas certas nem universais e cada pai, que conhece o seu filho, conseguirá encontrar uma explicação que, mesmo não sendo perfeita, consiga deixar a criança mais esclarecida e tranquila. Muitas vezes também desvalorizamos a capacidade que as crianças têm para receber informações que para nós podem parecer mais difíceis. O mais importante será sempre a disponibilidade dos pais, a capacidade para ouvir atentamente e até ao fim e entender as dúvidas e receios dos mais pequenos para, com tranquilidade, conseguir dar uma resposta verdadeira adequada à sua maturidade cognitiva e emocional.

É importante crescer num mundo conhecido e não ser deixado sozinho com as suas dúvidas num mundo desconhecido e deixar as respostas para o acaso, para a escola, ou a internet e a televisão.