Esquerda e direita exigem que Sánchez explique alteração do Saara

Pedro Sánchez enviou uma carta ao rei de Marrocos, Mohamed VI, na qual afirmava que a proposta apresentada por Marrocos em 2007 é “a base mais séria, credível e realista para a resolução deste litígio”.

Os partidos políticos de esquerda e direita em Espanha exigem que o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, dê explicações no parlamento sobre a mudança de posição do executivo sobre o Saara Ocidental e o seu apoio a Marrocos.

No total são 13 os partidos de diferentes convicções políticas que já solicitaram a presença de Sánchez para dar explicações pela mudança histórica na política internacional do país que não foi previamente discutida com os grupos parlamentares: PP (direita, maior partido da oposição), Cidadãos (direita liberal), ERC (independentistas catalães), EH Bildu (esquerda separatista basca), PNV (nacionalistas bascos), JxCAT (independentistas catalães), PDeCAT (independentistas catalães), BNG (esquerda nacionalista galega), CUP (esquerda radical independentista catalã), Más País (esquerda de Madrid), Compromís (nacionalistas valencianos), Nueva Canarias (nacionalista das ilhas Canárias) e Coalición Canária (regionalista).

O parceiro do PSOE (Partido Socialista) na coligação governamental minoritária, O Unidas Podemos, é o único grupo parlamentar que ainda não registou qualquer iniciativa ligada ao novo apoio dado pelo Governo espanhol à proposta marroquina de autonomia para o Saara Ocidental.

Pedro Sánchez enviou uma carta ao rei de Marrocos, Mohamed VI, na qual afirmava que a proposta apresentada por Marrocos em 2007 é "a base mais séria, credível e realista para a resolução deste litígio".

A segunda vice-presidente do Governo, Yolanda Díaz, do Unidas Podemos, acusou o primeiro-ministro de agir com "opacidade" e "incoerência" na mudança de posição da Espanha, embora tenha excluído o abandono do governo de coligação por esta razão.

Díaz assegurou que não partilha "nem as formas" nem "a substância" da decisão, que foi tomada sem ter em conta o Unidas Podemos, não cumprindo "o mandato do país", apesar de, num Governo de coligação, "as questões fundamentais serem discutidas entre as partes".

Por seu lado, a maior formação da oposição de direita, o Partido Popular (PP), considerou que é "intolerável" que esta mudança de posição política tenha sido feita sem consenso parlamentar e que uma política de Estado, com 47 anos de idade, tenha sido alterada "sem informar o principal partido da oposição".

O ministro dos Negócios Estrangeiros, o socialista José Manuel Albares, já manifestou a vontade de comparecer no Congresso dos Deputados (câmara baixa do parlamento) para informar os grupos da mudança política do Governo, e tudo indica que irá à comissão que trata esta matéria na quarta-feira.

Contudo, a maioria dos grupos parlamentares exigiu que fosse o próprio Pedro Sánchez a responder perante a câmara sobre a questão, que não tem a aprovação de todo o seu gabinete, uma vez que o Unidas Podemos continua a apoiar o referendo sobre a autodeterminação do Saara Ocidental, tal como as Nações Unidas.

O primeiro-ministro espanhol considerou que uma proposta para criar um Saara Ocidental autónomo controlado por Rabat é a iniciativa "mais séria, realista e credível" para solucionar décadas de disputa pelo vasto território, anunciou na sexta-feira o palácio real de Marrocos.

Numa carta enviada ao rei Mohammed VI, Pedro Sánchez, reconheceu "a importância da questão do Saara para Marrocos" e que "Espanha considera a iniciativa de autonomia apresentada por Marrocos como base em 2007 a mais séria, realista e credível para solucionar a disputa", indicou o palácio real marroquino em comunicado.

Espanha, que ainda é considerada a potência administrativa colonial do Saara ocidental desde que abandonou o território, em 1975, defendeu durante muito tempo que o controlo de Marrocos sobre o Saara Ocidental era uma ocupação e que a realização de um referendo patrocinado pela ONU deveria ser a forma de decidir a descolonização do território.

Confirmando a alteração da sua posição, o Governo de Madrid emitiu um comunicado para anunciar o início de uma "nova fase" na relação com Marrocos, assente "no respeito mútuo, no cumprimento dos acordos, na ausência de ações unilaterais e na transparência e comunicação permanente".

Na sexta-feira, a Frente Polisário, que defende a independência do Saara Ocidental, defendeu que Espanha "está errada" e "sucumbiu à pressão e chantagem permanente de Marrocos", ao aceitar a proposta marroquina de autonomia para o Saara ocidental como base para a resolução do conflito.

Segundo declarações do representante da Frente Polisário em Espanha, Abdulah Arabi, divulgadas pela Televisão Sarauí, "Marrocos tem exercido pressão de forma insistente com o único objetivo de tentar condicionar a posição do Governo de Espanha em relação ao Saara ocidental".