Combustíveis. O que justifica os preços não terem caído tanto?

Governo previa uma descida maior. Apetro diz ao i que a diferença pode ser justificada com a cotação do crude e o reporte dos preços pelas gasolineiras. Analista também explica o que pode ter acontecido.

Os preços dos combustíveis começaram esta semana a descer mas, feitas as contas, não caíram tanto como o Governo previu na passada sexta-feira. O Executivo previa uma quebra na ordem dos 13 cêntimos no preço do litro de gasolina e uma queda na ordem dos 17 cêntimos no litro de gasóleo. Mas, segundo dados da Direção-Geral da Energia e Geologia (DGEG), até 21 de março, o preço médio da gasolina simples 95 só caiu 11,3 cêntimos, para 1,927 euros, ao passo que o gasóleo simples desceu 14,7 cêntimos, para 1,844 euros.

Como se explica que o Governo tenha errado nas contas? “Embora desconheçamos em detalhe como é que são efetuados os cálculos pelo Governo, consideramos que uma explicação para essa diferença tem a ver com o número de dias considerados”, começa por explicar ao i a Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (Apetro). “O valor da cotação do preço dos produtos refinados que é utilizado para estimar o preço para a semana seguinte, é a média dos preços da semana anterior. Dado que na semana passada, embora estes valores tenham descido nos primeiros três dias da semana, subiram significativamente nos últimos dois, pelo que, não considerar as cotações da sexta-feira, justifica essa diferença”, acrescenta.

Mas há mais. A associação lembra que “poderá haver atraso na comunicação da atualização de preços por parte de alguns postos, o que acabou por fazer aparecer um preço médio superior à realidade. Isto mesmo se pode verificar no portal da DGEG, onde a média na terça-feira já é inferior à de segunda”.

Por seu turno, Henrique Tomé, analista da XTB, diz ao i que o petróleo “tem estado exposto a períodos de elevada volatilidade devido ao clima de incerteza que se continua a viver em torno do conflito armado entre Ucrânia e Rússia e à iminência de novas sanções por parte dos países ocidentais que podem deixar de importar petróleo russo”.

Assim, “apesar da cotação do Brent ter registado fortes correções de baixa, a verdade é que no final da semana passada assistimos a uma grande recuperação dessas quedas que condicionou a diminuição dos preços dos combustíveis, tornando difícil avançar com previsões precisas sobre as variações nos preços dos combustíveis”.

Questionado sobre como se explica que quando o preço do barril de petróleo está em baixo esse valor não é imediatamente refletido no preço final ao consumidor mas quando aumenta sente-se logo esse impacto, Henrique Tomé avança: “Existem vários fatores que devem ser tidos em conta”. E explica-os: “Além de a cotação ser estabelecida a nível internacional, há que ter em conta que qualquer fator de instabilidade nos países produtores pode afetar o preço da matéria-prima, sendo que o atual conflito no leste da Europa tem vindo a causar uma grande instabilidade nos preços dos produtos energéticos, tanto no petróleo como no gás natural”.

Mas não é só. Lembrando que, no continente europeu, a cotação do barril é baseada no valor do Brent que serve como referência, o analista acrescenta que “a cotação do Brent é estabelecida em dólares americanos e não em euros, o que significa que existem riscos associados ao câmbio. As taxas de câmbio estão constantemente a flutuar e não é possível controlar as cotações. Em momentos de maior tensão nos mercados, o dólar americano tende a valorizar e este é outro fator que condiciona também a fixação dos preços”.

Por fim, diz Henrique Tomé, “acrescem ainda os custos com o transporte, armazenamento e distribuição da matéria-prima”.

Mas há margem para descer mais os preços? “Temos que ter em mente que, dado não se puder influenciar a cotação dos produtos refinados, que é definido pelo mercado a nível global , nem a cotação do euro face ao dólar, nem a parte referente à necessária e ambientalmente correta incorporação de biocombustíveis, a significativa mitigação do preço de venda só pode advir da redução de impostos”, diz ainda a Apetro.

 

Governo podia ir mais longe

Ao nosso jornal, Henrique Tomé defende também que “poderia existir uma maior intervenção por parte do Governo com vista a um maior controlo dos preços que são comercializados pelas petrolíferas”.

No entender do analista, “o regulador do mercado não tem tido papel muito ativo e essa ausência de regulação notou-se sobretudo durante o período de 2020 quando assistimos aos preços do petróleo a atingirem mínimos históricos, mas ao mesmo tempo as descidas sobre os preços dos combustíveis praticados em Portugal sofreram apenas reduções marginais”.