Talibãs voltam a proibir mulheres de receber educação

Apesar das promessas, no regresso às aulas foi declarado que as raparigas depois do ensino básico não podem receber educação. Só o podem fazer no privado em Cabul.

Depois de sete meses encerradas devido à pandemia provocada pela covid-19, o regresso às aulas no Afeganistão não foi como muitos jovens estavam à espera.

O primeiro dia de escola foi marcado pelo anúncio dos talibãs de que jovens do sexo feminino estarão proibidas de frequentar escolas do ensino secundário, apesar da promessa do grupo insurgente que as escolas voltariam a permitir o regresso das adolescentes às aulas.

“As escolas para as raparigas adolescentes entre o 7.º e 12.º anos (dos 12 aos 18 anos de idade) continuam fechadas”, afirmou à agência de notícias EFE o porta-voz adjunto do Governo dos talibãs, Inamullag Samangani, no mesmo dia em que as escolas reabrem após as férias de Inverno.

Este mais recente revés para a educação das jovens afegãs foi recebida com apreensão pela comunidade internacional, que acusa o novo Governo de manter a mesma repressão que o caracterizou no passado.

A comunidade internacional fez do acesso à educação a raparigas uma das bases das negociações sobre as ajudas e reconhecimento do regime islâmico que dirige o país. No entanto, a maioria das instituições de ensino encerrou a porta a meninas e mulheres. Na capital Cabul, escolas e universidades privadas continuam a funcionar sem problemas.

Os talibãs justificam esta decisão como uma “concessão à espinha dorsal rural e profundamente tribal do movimento talibã”, escreve o Guardian, explicando “que em muitas partes das zonas mais rurais do Afeganistão, membros deste movimento recusam enviar as suas filhas para a escola”.

O Ministério da Educação alertou, esta quarta-feira, que as escolas para estudantes do sexo feminino continuariam fechadas até que fosse elaborado um plano de acordo com a lei islâmica e a cultura afegã, avançou a agência de notícias do governo, Bakhtar News Agency, que, quando questionado se podia elaborar esta decisão, o porta-voz, Aziz Ahmad Rayan, revelou “que não estava autorizado a comentar esta situação”.

“É muito dececionante para todas as meninas que estavam à espera deste dia, em que podiam finalmente regressar à escola. disse a política e jornalista afegã, em Londres, Shukria Barakzai, à Al Jazeera. “Esta decisão mostra que os talibãs não são de confiança e que não são capazes de cumprir as suas promessas”.

O regime talibã tinha insistido precisar de tempo para garantir que as adolescentes eram separadas dos rapazes e que as escolas funcionassem de acordo com os princípios islâmicos.

“Os líderes do regime ainda não decidiram quando ou como irão permitir que as meninas voltem à escola”, disse o representante das relações exteriores dos talibãs, Waheedullah Hashmi.

Segundo o meio de comunicação do Médio Oriente, o suposto primeiro dia de aulas de inúmeras estudantes foi marcado pelas lágrimas, com as jovens a serem obrigadas a guardar os seus pertences e a ter de regressar para casa.

“Vejo as minhas alunas a chorar e a abandonar relutantes as aulas”, disse Palwasha, professora da escola para meninas, Omra Khan, em Cabul. “É muito doloroso ver os meus alunos a chorar”, confessou a professora.

Em sete meses de Governo, os talibãs impuseram várias restrições às mulheres, que se viram excluídas de muitos empregos públicos, controladas na forma de vestir e proibidas de viajar sozinhas para fora da cidade onde vivem.

O grupo islâmico também deteve várias ativistas que se manifestaram pelos direitos das mulheres.