CDS-PP: Uma Presidência interina

Mais do que uma liderança “carismática” ou uma “cara conhecida”, o CDS-PP precisa, para os próximos dois anos, de uma equipa constituída por pessoas com disponibilidade, competências de gestão reconhecidas, independência financeira e inquestionável idoneidade, para levar a cabo esta missão que é muito mais de natureza “empresarial” do que política. 

Por Mário Cunha Reis

O CDS-PP vive tempos conturbados. Depois de mais de uma década de descaracterização, de relativização de alguns dos seus valores fundamentais, de tentativa de transformação num partido (mais) liberal na economia e nas questões da moral social, favorecendo, por acção dúbia ou tibieza, a agenda fracturante esquerdista no parlamento, a maioria do seu eleitorado tradicional deixou de considerar-se adequadamente representada.

A sua participação no Governo de coligação com o PSD, num dos períodos mais difíceis da história recente de Portugal, após a situação de bancarrota a que nos conduziu o Partido Socialista, penalizou-o fortemente, nuns casos justa e noutros injustamente, deixando algumas más memórias que o eleitorado não compreendeu ou não perdoou.

A adesão a uma visão globalista da governação do mundo nas suas mais variadas vertentes, económica, financeira, social, política, cultural, etc., que não atenta às características intrínsecas dos países, dos povos e culturas, a uma progressiva (e tida como inevitável) integração política europeia, da qual resulta a perda de soberania nacional, eufemisticamente referida como “partilha de soberania”, em áreas vitais para o interesse nacional, nalguns casos inconciliável com interesses dos parceiros europeus, como a política diplomática e económica, de segurança e defesa, energética e alimentar, relativa à soberania e jurisdição territorial e marítima, sem exigência de debate ou auscultação pública, representou para muitos o abandono de um espaço político que permanece por ocupar.

Pelo caminho, resultante de uma certa forma de fazer política, quase exclusivamente através dos meios de comunicação social, desprezou ou abandonou o trabalho de terreno nas estruturas de base, mantendo-as formalmente, em muitos casos, como instrumentos de manutenção de poder interno, sem qualquer propósito de captar novos militantes, pessoas com intervenção relevante na vida cívica, profissional, académica, e motivá-los para o trabalho político interno e autárquico. Com uma irrealista ambição de tornar o CDS uma alternativa de governo, gastou-se o que não havia para gastar, delapidando património e contraindo dívida, que hoje condicionará fortemente a capacidade para recomeçar.

Aqui chegados, sem representação na Assembleia da República, após dois anos consumidos num lamentável clima de guerrilha interna, mas ainda assim com presença nos dois Governos Regionais, com seis presidências de câmara e participação no governo de 41 câmaras municipais, cabe à próxima presidência do CDS-PP pacificar o partido, juntar-lhe os cacos e realizar um trabalho árduo de reestruturação financeira, organizacional, estatutária, comunicacional, de renovação da militância activa e da revitalização das suas estruturas de base, as concelhias e distritais, em estreita colaboração com a vasta rede de autarcas existente por todo o território nacional.

Mais do que uma liderança “carismática” ou uma “cara conhecida”, o CDS-PP precisa, para os próximos dois anos, de uma equipa constituída por pessoas com disponibilidade, competências de gestão reconhecidas, independência financeira e inquestionável idoneidade, para levar a cabo esta missão que é muito mais de natureza “empresarial” do que política. Para preparar estruturalmente o partido para os desafios eleitorais que acontecerão no mandato seguinte, as europeias em 2024, as autárquicas em 2025 e as legislativas em 2026.

O CDS-PP precisa, portanto, de uma presidência interina, capaz de restaurar a credibilidade da instituição, honrando os compromissos financeiros assumidos e as responsabilidades para com aqueles que o serviram, respeitando o legado patrimonial tangível e intangível, tomando decisões de gestão com transparência e lisura de processos e acautelando os reais interesses do partido, sem deixar de ter presentes os seus valores e princípios fundacionais, que sempre devem orientar a conduta de todos os militantes e, por maioria de razão, os seus dirigentes.

Não é coisa pouca!

Esperamos que o Congresso Nacional que irá reunir em Guimarães o reconheça e saiba, com serenidade e sensatez, encontrar uma solução adequada.

*Engenheiro e gestor
Porta-Voz da TEM Esperança em Movimento

O autor não reconhece o AO 1990.
25 de Março de 2022