Gouveia e Melo frisa que não quer “arruaceiros” na Marinha nem militares “sem valores”

Para o Chefe de Estado-Maior da Armada, é lamentável “ver fuzileiros envolvidos em desacatos e em rixas de rua”, uma atitude que “não demonstra qualquer tipo de coragem militar, mas sim fraqueza, falta de autodomínio, e uma necessidade de afirmação fútil e sem sentido”.

Gouveia e Melo frisa que não quer “arruaceiros” na Marinha nem militares “sem valores”

O Chefe de Estado-Maior da Armada (CEMA), Gouveia e Melo, não poupou na dureza das palavras, ao criticar os fuzileiros que estão alegadamente envolvidos na agressão mortal do agente da PSP Fábio Guerra, notando que na Marinha não quer "arruaceiros" nem militares "sem valores, sem verdadeira dedicação à pátria". 

No dia em que esteve presente, na Covilhã, para o funeral de Fábio Guerra, Gouveia e Melo juntou o corpo de fuzileiros e fez um discurso ríspido quanto ao sucedido e às marcas que deixam nas Forças Armadas portuguesas. 

"Os acontecimentos do último sábado já mancharam as nossas fardas, independentemente do que vier a ser apurado", começou por dizer Gouveia e Melo, ao considerar a agressão a Fábio Guerra um "ataque selvático e despropositado", que não tem "desculpas e justificações" para os valores defendidos pelas Forças Armadas. 

"O agente Fábio Guerra era a nossa pátria, a PSP e as Forças de Segurança são a nossa Pátria e nela todos os nossos cidadãos", sublinhou o Almirante. 

Para Gouveia e Melo, é lamentável "ver fuzileiros envolvidos em desacatos e em rixas de rua", uma atitude que "não demonstra qualquer tipo de coragem militar, mas sim fraqueza, falta de autodomínio, e uma necessidade de afirmação fútil e sem sentido".

"Já ouvi vezes demais que não se pode ter cordeiros em casa e lobos na selva, eu digo-vos enquanto comandante da Marinha que se não conseguirem ser isso mesmo, lobos na selva, mas cordeiros em casa, então não passamos de um bando violento, sem ética e valores militares, sem o verdadeiro domínio de nós próprios e se assim for não merecemos a farda que envergamos, nem os 400 anos de história dos Fuzileiros", notou o CEMA, que apelou aos militares que fossem corajosos nos momentos em que o inimigo os acorrenta, e não "em pistas de discotecas, em rixas de rua, em disputas de gangues". 

Já comovido, Gouveia e Melo fez questão de ainda partilhar o momento em que contactou a família de Fábio, admitindo que estava "profundamente triste". 

"Quando telefonei à família para lhes dar os meus pêsames não sabia o que dizer, não sabia como justificar, como explicar, só uma profunda tristeza e um nó na garganta que me sufocava as palavras. Como explicar a aridez desta morte sem sentido? Como explicar que nos eventos que levaram a isto estavam dois homens sob o meu comando? Não consegui dizer nada mais que prometer justiça e lutar para que não voltasse a acontecer", acentuou o CEMA. 

No final da sua intervenção, Gouveia e Melo frisou que não quer "arruaceiros na Marinha" nem "militares sem valores". 

"Não quero arruaceiros na Marinha; não quero bravatas fúteis, mas verdadeira coragem, física e moral; não quero militares sem valores, sem verdadeira dedicação à Pátria; não quero militares que não percebam que na Selva temos que ser Lobos, mas em casa cordeiros, pois isso é a verdadeira marca de autodomínio, autocontrole e de confiança dos outros em nós. Nós somos os guerreiros da Luz e não das trevas! Quem não agir e sentir isto que parta e nos deixe honrar a nossa farda, o nosso legado de mais de 700 anos de Marinha e de 400 de Fuzileiros", vincou.