Adão e Silva. Assim se vê a força dos socráticos

O PCP continua a acusar a NATO, os EUA e a União Europeia pela tragédia ucraniana. Não há vergonha.

Há histórias que são bastante reveladoras do caráter de cada um e Pedro Adão e Silva tem um currículo que fala por si. De socrático ferrenho, o futuro ministro da Cultura chegou em tempos a defender o fim do telejornal da TVI de Manuela Moura Guedes. Tudo porque dividia as opiniões, calculo eu agora. De soldadinho de chumbo do antigo primeiro-ministro, Adão e Silva começou a notabilizar-se pelo comentário político, onde, calculo, dividia bastante as opiniões, e entrou pelo comentário desportivo, sendo considerado um dos cartilheiros do Benfica. Por artes mágicas, há uns tempos foi nomeado comissário executivo das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e antes de ser nomeado ministro da Cultura deu uma entrevista onde assumia que «devemos concentrar-nos em celebrar aquilo que nos une e não o que nos divide», referindo-se ao 25 de Novembro. Como alguém lhe respondeu, e bem, foi o 25 de Novembro que nos permite discordar dos outros e que nos divide. Se o 25 de Novembro não tivesse existido, talvez Portugal tivesse sido, até à queda do Muro de Berlim, uma espécie de Roménia com laivos de Albânia. Mas Pedro Adão e Silva não quer divisões.

Ainda no papel de comissário das comemorações do 25 de Abril, Pedro Adão e Silva esqueceu-se de convidar o general Ramalho Eanes com a antecedência devida, tendo os seus serviços apenas ligado ao antigo Presidente da República, curiosamente um dos obreiros do 25 de Novembro, na véspera, altura em que o general Eanes já estava em preparação para um exame médico. Penso que este cartão de apresentação seria o suficiente para um país civilizado não convidar tal personagem para ministro da Cultura, onde se pretende que existam opiniões e correntes bem divergentes. Mas estamos em Portugal, país onde os socráticos mais ferrenhos estão quase todos muito bem na vida, muitos deles em cargos institucionais de relevo. Estou mesmo em crer que nenhum Governo deu tantos talentos à política como os Executivos de José Sócrates. Curiosamente, quase nenhum  viu a estranha forma de vida do antigo primeiro-ministro. É caso para dizer: ‘Viva os socráticos’.

Deixando Pedro Adão e Silva entregue às suas novas tarefas, o que dizer da posição do PCP em relação à guerra bárbara russa na Ucrânia? Quem se dê ao trabalho, eu gosto de o fazer, de espreitar o site do Avante! tem sempre direito a umas pérolas. Na primeira página, do que pouco que está acessível a não assinantes, pode ler-se em manchete: ‘Militarismo e sanções são gasolina na fogueira’. ‘EUA, NATO e União Europeia reúnem-se por estes dias em Bruxelas para avançar ainda mais no militarismo, prolongar o con­flito na Ucrânia e reforçar as medidas coercivas contra a Rússia’. Palavras para quê? Um povo está a ser dizimado, não há um pingo de humanismo nas tropas enviadas por Putin, e o PCP insiste na culpa da NATO, EUA e UE! A cegueira é tal que não conseguem condenar abertamente as atrocidades russas – o sonho da reconstrução de parte do império soviético ainda faz alguns comunistas portugueses sonharem com os amanhãs que cantam…

Nem as imagens repugnantes de vítimas civis os faz abrir os olhos e perceber que Putin não passa de um ditador louco que quer impor a lei do terror. Mas contra isso, o PCP levanta a bandeira da paz e que não é com militares que se combate o terrorismo russo. Quererá o PCP que se enviem para a Ucrânia pombas de papel para combater os mísseis russos?

vitor.rainho@sol.pt