Rússia aposta no mercado asiático

China e Índia aumentaram a compra de energia russa, aproveitando que está em saldos. 

A Rússia procura rapidamente diversificar os seus compradores de gás natural, petróleo ou carvão, consciente de que os seus principais clientes, os países europeus, estão a tentar – com muitas dificuldade (texto ao lado) – arranjar alternativas. Não é uma discussão que tenha surgido agora, mas ganhou uma nova urgência com a invasão russa da Ucrânia.

«Tanto a Rússia como a Europa têm estratégias muito semelhantes», considera Carla Fernandes. «Evitar países de trânsito, fugir da dependência dos mercados, que são muito interdependentes, e apostar na diversificação», resume esta investigadora do IPRI, especializada em Energia e Segurança.

Aliás, até há quem se aproveite de que a energia russa está em saldos, como já fez a China, mas também a Índia. Apesar de Nova Deli manter muito boas relações com Washington e Bruxelas, tem uma amizade histórica com Moscovo, o seu principal fornecedor de armamento, contando com o apoio geopolítico dos russos caso colida com Pequim, seu velho rival.

Por isso não espanta que, discretamente, as refinarias indianas até estejam a escalar a compra de crude à Rússia, que já quadruplicou desde o início da invasão da Ucrânia, batendo os 360 mil barris por dia, segundo os cálculos do Financial Times.

«As empresas indianas não estavam a comprar muito à Rússia devido aos altos custos do transporte», explicou Vivekanand Subbaraman, analista da Ambit Capital, citado pelo Business Standard. «Isso parece estar a mudar agora».

E também faz parte da estratégia de Vladimir Putin, que certamente contava com uma perturbação do mercado energético antes da invasão. «Já houve várias crises de gás natural na Europa, embora nunca tenha havido um corte direto no fornecimento», recorda Carla Fernandes. «Foram crises de gás em países de trânsito, em 2006», explica, referindo-se à disputa entre a a Gazprom e a Naftogaz, a empresa energética estatal da Ucrânia, por onde passam gasodutos rumo à Europa, «e ainda houve a guerra da Geórgia, em 2008, e 2010», continua, mencionando outro conflito entre a Gazprom e a Naftogaz.

Ou seja, «quando a Europa começou a sua diversificação, a própria Rússia, no âmbito da sua estratégia segurança energética, também criou políticas de diversificação», aponta.

Na Europa, desde essas crises, apostou em gasodutos alternativos para chegar ao gás natural russo – como o Turkey Stream ou os NordStream 1 e 2, que cruzam o Báltico até à Alemanha –  mas também nas energias renováveis ou no corredor sul, com um gasoduto até ao Azerbeijão. Já a Rússia apostou no Força da Sibéria, um gasoduto que vai até ao norte da China. Dias antes da invasão da Ucrânia, Putin até assinou um acordo para vender mais 10 mil milhões de m3 de gás natural aos chineses.

Agora, é ver quem deixar de depender do outro mais depressa, se é a Rússia, apostando no insaciável mercado asiático, ou a Europa, com o apoio dos seus aliados. «Aqui, a questão é o tempo», frisa a investigadora do IPRI.