Marcelo rejeita tese de ultimato. Costa “ficou refém não de mim, mas do povo”

O chefe de Estado afastou qualquer intenção de ter feito um ultimato a António Costa, no discurso da tomada de posse do Governo, reiterando que o aviso não é seu, mas do povo.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, explicou o aviso que fez ao primeiro-ministro no discurso da tomada de posse do XXIII Governo Constitucional, afirmou que António Costa se tornou "refém do povo", uma vez que votou "numa cara, num rosto", esclarecendo que o ultimato não foi feito por si, mas sim pelo "povo", que foi quem lhe atribuiu maioria absoluta. 

“O primeiro-ministro [com a maioria absoluta] ficou refém do povo português no voto do dia 30 de janeiro. Foi isso que eu quis dizer. No momento em que votou, o povo votou num partido e votou num homem, portanto esse homem ficou refém não de mim, mas do povo. Foi isso que quis dizer e vejo que também aí estamos de acordo que é essa a lição”, disse Marcelo, em declarações aos jornalistas, à margem do evento "Artistas no Palácio de Belém", esta quinta-feira. 

Desta forma, o chefe de Estado afastou qualquer intenção de ter feito um ultimato a António Costa, reiterando que o aviso não é seu, mas do povo. "O povo disse ‘queremos este partido e queremos o senhor’, portanto nesse sentido é refém do povo, que quis dar maioria absoluta aquele partido e aquele primeiro-ministro“, assinalou, negando ter informação sobre possíveis planos do primeiro-ministro para sair do Governo a meio do terceiro mandato. 

“E tenho a certeza que o primeiro-ministro compreende isto, percebe a importância disto e o facto de o ter recordado [ontem] disso não significa senão isso mesmo”, rematou Marcelo, lembrando que “quem votou como votou foi o povo”.

No discurso da tomada de posse de ontem, Marcelo deixou alguns "avisos" a Costa, de forma a evitar que o primeiro-ministro não tenha a mesma intenção de abandonar o cargo a meio do mandato, como aconteceu em 2004 quando Durão Barroso, então primeiro-ministro, saiu para presidir à Comissão Europeia.

O chefe de Estado pediu aos ministros que foram empossados “segurança, estabilidade, unidade no essencial, concentração no decisivo, recusa de primazia de incertezas ou tensões secundárias”, num tempo de “muitas missões” e marcado por “difíceis embates”.

No meio de vários avisos, Marcelo ainda dirigiu um "recado" a Costa sobre a confiança depositada pelos portugueses, depois de obter a maioria absoluta nas eleições legislativas de 30 de janeiro. “É o preço das grandes vitórias, inevitavelmente pessoais e intencionalmente personalizadas. E é sobretudo o respeito da vontade inequivocamente expressa pelos portugueses para uma legislatura", concluiu.