Portugal, o país adiado

Se a economia não crescer, os salários não crescem, os nossos jovens emigram, a população envelhece, a Segurança Social não tem sustentação e o país definha!

Por Francisco Gonçalves

Toda a minha vida adulta tenho ouvido falar de infraestruturas e reformas estruturais, supostamente essenciais, que nunca são feitas. O novo aeroporto de Lisboa, a terceira e quarta travessias do Tejo, o TGV, as reformas administrativas e na Justiça Civil e Administrativa. O contínuo arrastar de todas estas infraestruturas e de todas estas reformas faz de nós um país adiado, que parece não encontrar solução para o seu futuro coletivo.

Há algumas semanas um médico amigo disse-me com desgosto que ‘perdeu’ os filhos. Ambos licenciados em universidades públicas portuguesas, custando, naturalmente, caro ao erário público nacional, viram-se obrigados a emigrar porque sentiram que Portugal não lhes oferecia oportunidades de futuro. Tinham emprego, mas sentiam que o país não lhes permitia sonhar construir uma vida que correspondesse às suas expectativas. 

Há alguns anos, um primeiro-ministro sugeriu delicadamente aos portugueses para emigrarem. O atual primeiro-ministro, que já o é há 6 anos, não o diz diretamente, mas a condução política dos seus governos tem feito com que o fim seja o mesmo. Ainda que não lhes diga para emigrar, a única solução que dá a muitos portugueses é essa.

O dilema de termos investido na geração mais bem formada de sempre está no facto de não termos, hoje, um país que sirva a sua formação e a sua expectativa. 

Quando um jovem emigra, e a geração cosmopolita atual não emigra com perspetiva de amealhar – fazer o seu ‘pé de meia’ e, mais tarde, regressar – mas, sim, com perspetiva de fazer vida fora de Portugal, o país perde um contribuinte, que depaupera a segurança social das suas contribuições, e a família perde o filho – o país empobrece, a família perde os laços e a solidariedade intergeracional, e a comunidade nacional desagrega. 

Portugal teve, goste-se ou não, um ciclo frutuoso após a adesão à CEE/EU, entre 1985 e 2000, no qual o país cresceu muito e modernizou-se ainda mais, mas, após esse ciclo, entrou num tempo de estagnação de modelo e de profunda incapacidade de crescer.

A grande equação dos próximos anos é simples: fazer crescer a economia nacional. Esse deveria ser o grande desígnio. Se a economia não crescer, os salários não crescem, os nossos jovens emigram, a população envelhece, a Segurança Social não tem sustentação e o país definha!

As últimas décadas em Portugal foram passadas em indecisão e incapacidade de reformar. Um país que se adia é um país que se atrasa e é também um país sem respeito pelos seus. Será que os portugueses são dispensáveis a Portugal?