De Aveiro a Lisboa a pedalar para tomar posse na AR

António Topa Gomes (PSD) rumou de Aveiro a Lisboa para tomar posse como deputado… de bicicleta. O novo Parlamento traz consigo novas curiosidades, e novas estatísticas.

Tomou posse, esta semana, uma refrescada Assembleia da República. Uns entraram, outros saíram e pelo meio contam-se várias curiosidades e detalhes interessantes sobre o novo Parlamento. São 230 deputados os que vão representar os eleitores portugueses, cada um com a sua história para contar, oriundos dos mais variados cantos do país. E, como não podia deixar de ser, as curiosidades são inúmeras.

António Topa Gomes, deputado do PSD que foi cabeça-de-lista no distrito de Aveiro, escolheu uma forma ‘diferente’ de chegar à tomada de posse dos deputados da nação, na passada terça-feira. O sobrinho do histórico deputado social-democrata António Topa é um fervoroso adepto do ciclismo e de tudo aquilo que a esse mundo diz respeito. É um utilizador diário da bicicleta como meio de transporte e, na deslocação até Lisboa, para tomar posse como deputado, não podia falhar a sua ‘amiga’ de duas rodas. Topa Gomes partiu de Vila Maior, em Santa Maria da Feira, no distrito de Aveiro, no passado domingo, completando quase 172 quilómetros entre essa localidade e Leiria, em pouco mais de 7 horas de viagem. No dia seguinte, o deputado seguiu o seu rumo até à capital, perfazendo mais 134 quilómetros até Lisboa.  No dia da tomada de posse, deixadas para trás as vestimentas de ciclista e vestido de fato e a gravata, o deputado completou os últimos dois quilómetros de distância até à Assembleia da República, onde tomou posse como deputado. Uma forma ‘pouco ortodoxa’ de se movimentar pelo país, bem como de chegar ao Parlamento no dia da tomada de posse, mas que, quando se conhece o amor que o deputado tem por este meio de transporte, percebe-se melhor. «Eu, no dia a dia, ando de bicicleta com frequência, e ando mesmo, em distâncias curtas. A determinada altura, com aquele entusiasmo da campanha, disse que quando ganhássemos as eleições, ia de bicicleta à tomada de posse.

Depois, de facto, a promessa não se cumpriu, porque os eleitores assim não o quiseram, mas eu decidi vir de bicicleta à mesma», começa por explicar o deputado e professor universitário ao Nascer do SOL.

«Eu confesso que se calhar vou ter de mudar um pouco a minha vida. Eu fiz esta viagem porque gosto de andar de bicicleta, e muitos colegas questionaram logo porque é que eu não tinha enviado uma nota de imprensa. Como não era político, não tive a preocupação de publicitar isto. Fiz isto porque era uma alternativa, e claro que os restantes colegas, à medida que foram sabendo, foram ficando mais interessados», revela ainda, aproveitando para promover a bicicleta como «um meio muito sustentável», realçando a componente da saúde, ambiental e económica como as «principais» razões para utilizar a bicicleta.

Agora, em Lisboa, garante o deputado, a bicicleta continuará a ser o meio de eleição, sempre que tal seja possível.

Música para todos os gostos no hemiciclo
Se António Topa Gomes trouxe o ciclismo e, de uma forma mais global, a atividade física ao hemiciclo, outros deputados trarão, por sua vez, muita música e cultura. Trata-se dos casos, por exemplo, da estreante Elisabete Matos (PS), e do algarvio Luís Gomes (PSD), nome inconfundível das hostes ‘laranjas’ em Vila Real de Santo António, onde foi presidente de Câmara, antes de se apaixonar pelo mundo do Reggaeton numa viagem a Cuba. A socialista, por sua vez, é cantora lírica de profissão, e diretora do Teatro Nacional de São Carlos, cargo que não abandonará até ao fim do mandato, empurrando a sua estreia oficial no parlamento para outubro deste ano, conforme o Nascer do SOL apurou.
Elisabete Matos, natural de Guimarães, foi eleita deputada pelo círculo eleitoral de Braga, e até marcou presença na tomada de posse dos 230 novos deputados da Assembleia da República, na passada terça-feira. A socialista, no entanto, terá o mandato suspenso até outubro, já que primeiro vem um outro cargo: a direção do Teatro Nacional São Carlos, que assumiu em 2019. A cantora lírica conta mais de 30 anos de carreira, e, citada pela Renascença, admitiu estar prestes a ‘mudar de vida’ com a entrada no Parlamento. Isto sem, no entanto, deixar para trás o canto lírico.

«Continuarei a cantar sempre que as responsabilidades me permitam. Cantar, para mim, é algo fundamental, que só terminará quando as minhas condições físicas me impedirem de o fazer. Essa é a minha vontade», garantiu.

É também a cantar que o social-democrata Luís Gomes vive a sua vida, e agora, no Parlamento, o algarvio terá a oportunidade de expressar a sua voz na política nacional, depois de mais de 12 anos de experiência nos meandros da política regional no Sotavento algarvio, como presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António.

Experiência à qual se junta uma passagem pela Assembleia da República, entre 2002 e 2005. Luís Gomes é licenciado em Engenharia do Território pelo Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, pós-graduado em Ciências Económicas e Empresariais pela Universidade do Algarve, e doutorando em Engenharia e Gestão, também no Técnico, mas a música faz parte dos seus dias, e, tal, como Elisabete Matos, não pretende abandonar a atividade ao entrar no Parlamento. Questionado pelo Jornal i, a 26 de janeiro deste ano, o agora deputado disparou, sem hesitar: «Claro. Se eu fosse escritor perguntavam-me ‘e vai continuar a escrever?’. É quase ridículo perguntar isso [risos].»

Curiosidades estatísticas
Como em todas as legislaturas, interessa também analisar estatisticamente a nova ‘formação’ da Assembleia da República, dos mais novos aos mais velhos, dos homens às mulheres, dos músicos de profissão aos ciclistas. 
Em termos etários, o prémio da deputada mais jovem vai para Rita Matias, do Chega, que conta 23 anos de idade. Significa isto que, entre Matias e Alexandre Quintanilha, o socialista que ocupa o lugar de deputado mais velho, distam 53 anos de diferença, com Quintanilha a contar 76 anos de idade. Jerónimo de Sousa, do PCP, é o último deputado da Assembleia Constituinte em funções, aos 74 anos.

A entrada de Rita Matias no Parlamento gerou polémica, já que a deputada se autodeclarou, em várias ocasiões, ‘antifeminista’, e a realidade é que este é um Parlamento com menos mulheres do que aquelas que se contavam na XIV legislatura. Dos 230 deputados que se sentam agora no hemiciclo de S. Bento, apenas 85 são mulheres, o que representa a primeira quebra nesta estatística desde 2011. Dessas, 46 são deputadas socialistas, o que se traduz em 38% da bancada ‘rosa’. São os comunistas, no entanto, que representam, no hemiciclo, uma total paridade no seu grupo parlamentar. Dos seis deputados do PCP eleitos à Assembleia da República, três são homens e três são mulheres. E o Bloco vai além da partidade, contando 3 mulheres e 2 homens no seu grupo parlamentar.

Em sentido inverso, o Chega é o partido representado por menos mulheres, contando com apenas 1 mulher – Rita Matias – no total de 12 deputados eleitos (cerca de 8.3%).