Médicos defendem avaliação da resposta à pandemia

Portugal precisa de fazer uma “análise séria” para tirar ilações para o futuro, dizem médicos.

Portugal precisa de fazer uma avaliação “externa e independente” à forma como o Serviço Nacional de Saúde (SNS) deu resposta à pandemia de covid-19 para preparar o futuro, defenderam vários especialistas durante o 24.º Congresso Nacional da Ordem dos Médicos, que decorreu em Lisboa.

“É importante olharmos para o que aconteceu e fazermos uma avaliação externa, independente, para reconhecer aquilo que foram as boas práticas, mas também para reconhecer as nossas vulnerabilidades, para que isso possa servir de contexto e diagnóstico para avançarmos e suprirmos essas necessidades”, afirmou o presidente da Assembleia Geral da Associação dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, um dos oradores no debate “O que aprendemos com a covid-19”.

No entender do epidemiologista, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem as ferramentas para essa avaliação, considerando que deveria haver uma postura mais proativa e menos reativa, quer na capacidade de prevenção, de deteção e posteriormente na resposta às necessidades.

Também o presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, João Gouveia, afirmou que a pandemia “expôs o que há de bom e o que há de mau na saúde em Portugal”, considerando, por isso, de “extraordinária importância” fazer-se “uma análise séria do que se passou para se tirarem ilações para o futuro”.

“Temos que tirar lições e aprender. É essencial avaliar o que se passou, mas percebemos que temos de investir em recursos humanos e na sua formação”, frisou o médico intensivista do Hospital de Santa Maria, defendendo em concreto uma análise geral da mortalidade, além dos resultados da resposta em UCI e diferenças regionais.

Já o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, no final do debate, voltou a reforçar a questão, considerando que é praticamente unânime a necessidade de uma avaliação da resposta à pandemia. “É importante perceber o que fizemos bem e o que fizemos mal, para tirarmos lições para o futuro. E parece-me que é também fundamental exigir uma reserva estratégica na área da saúde”, para assegurar um “estado de preparação e prontidão” para responder a desafios do quotidiano, mas também aos “desafios extra”, apontou.

Segundo o responsável da OM, “é fundamental que exista uma avaliação da pandemia feita por entidades independentes, para no futuro estarmos mais preparados e para que sejam corrigidas as decisões que os políticos tomam”. “Este é um desafio que espero que seja concretizado brevemente e que seja da iniciativa do poder político”, referiu ainda. No encerramento do Congresso, este domingo, também o Presidente da República insistiu na necessidade de uma “análise” da pandemia, como uma “oportunidade para fazer ilações para o futuro”. “Prevenir e antecipar passa por uma resposta a posteriori da saúde”, referiu Marcelo Rebelo de Sousa.