Ucrânia evacua o leste, antecipando uma ofensiva russa

Enquanto o Governo de Zelensky se preparava para uma ofensiva russa contra Donbass e Kharkiv, as misteriosas filhas de Putin foram alvo de sanções americanas, suspeitas de esconder o dinheiro sujo do pai. 

Com as forças do Kremlin a retirarem-se do norte de Kiev, presumivelmente para se reagruparem e se lançarem contra Donbass, o Governo de Volodymyr Zelensky apelou à população do leste para que fuja assim. O apelo foi feito no mesmo dia em que Washington apertou as suas sanções à Rússia, atingindo até as duas misteriosas filhas de Vladimir Putin, que sempre tentou esconder do público. 

Perante os receios de um assalto russo, os líderes militares em Donetsk e Lugansk já estão a ajudar os civis a escaparem “de forma organizada”, declarou no Telegram, a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk tendo sido ordenada também a evacuação de Kharkiv.

Se o próprio Kremlin anunciara que ia atingir Donbass, o destino que pretende dar à segunda cidade da Ucrânia era motivo de interrogação. Por um lado, as sucessivas tentativas para cercar Kharkiv têm falhado, à semelhança do que se viu em Kiev e, como tal, não seria descabido que as tropas russas se retirassem das suas posições para se concentrarem em ganhar terreno no Donbass. Por outro lado, trata-se de uma cidade russófona, marco histórico do império russo, a poucos quilómetros da fronteira, que certamente Putin faz questão de tomar.

Também o Governo da Ucrânia parece estar convencido que uma ofensiva contra Kharkiv está para breve. Sendo esse o caso, poderia ser indício da queda iminente de Mariupol, cujos defensores estão cercados há semanas, sem acesso a água, comida, medicamentos ou eletricidade, e sem conseguirem repor as suas munições. E como as comunicações estão cortadas, ninguém faz ideia do que se passa na cidade. No entanto, analistas têm apontado que, caindo Mariupol, boa parte das forças russas lá colocadas ficariam livres para se lançarem contra o resto de Donbass.  

O horror de Mariupol, onde os russos sucessivamente continuaram os bombardeamentos – mesmo durante os cessar-fogos temporários – não foi esquecida pelo Governo ucraniano. Mais uma vez, o risco é que os civis sejam impedidos de escapar, por não se sentirem suficientemente seguros para saírem dos seus abrigos e acorrerem aos corredores humanitários.

A evacuação dos oblasts – qualquer coisa como distrito ou província – de Donetsk, Lugansk e Khakiv “tem de ser feita agora, porque mais tarde as pessoas estarão sob fogo e a enfrentar uma ameaça de morte”, explicou Vereshchuk. E nessa altura “não há nada que consigam fazer quanto a isso”, alertou.

Já o Governador de Kharkiv, Oleh Sinehubov, não se mostrou intimidado, assegurando que, por mais que Kremlin queira tentar tomar de de novo a capital do seu oblast, enfrentará uma resistência feroz.

“Sabemos que o inimigo não alterou os seus planos. Mas acreditamos nas nossas forças armadas ucranianas, na força das nossas defesas”, escreveu Sinehubov numa publicação no Telegram, recusando as ordens para uma evacuação geral. Ainda que admitisse que Barvenkove e Lozoviyinda, as duas localidades mais próximas de Dontetsk, devem ser evacuadas.  

As Filhas secretas de Putin Perante atrocidades reveladas em Bucha, poucos ucranianos arriscarão não fugir das suas casas perante um avanço das tropas russas. Já Washington reagiu ao massacre com novas sanções à Rússia, esta quarta-feira, as mais poderosas das quais contra a banca, atingindo o Sberbank, a maior instituição financeira russa, e o Alfa-Bank, que ficam proibidos de fazer qualquer transação com empresas ou indivíduos americanos.

No entanto, as sanções que mais chamaram a atenção talvez tenham sido as que foram levadas a cabo contra Katerina Vladimirovna Tikhonova, de 35 anos, e Maria Vladimirovna Vorontsova, de 36 anos. As duas são apontadas como as misteriosas filhas que Vladimir teve com a sua ex-mulher, Lyudmila Putina. Suspeita-se que o Presidente tenha outra filha, com a ginasta Alina Kabaeva, de 38 anos, relativamente à qual mantém um segredo ainda maior.

O paranoico líder russo, talvez recordando os seus tempos de agente do KGB, e consciente que ter família é uma vulnerabilidade, sempre se esforçou para manter até as suas filhas oficiais longe da ribalta. Ao contrário de outros líderes autoritários, Putin nunca apresentou as filhas como potenciais sucessoras, permitindo-lhes viver vidas normais.

Maria estudaria medicina em São Petersburgo e Moscovo, tornando-se investigadora e especializando-se no sistema endócrino, ao mesmo tempo que investia numa empresa que está a construir um centro de clínico na Rússia, avançou a BBC. Já Katerina tornou-se conhecida pelos seus talentos como dançarina de rock n’ roll, participando em competições – mas sem nunca se apresentar como filha do Presidente russo. 

“Acreditamos que muitos dos bens de Putin estão escondidos com familiares e é por isso que os estamos a visar”, explicou o Presidente americano, Joe Biden, quando anunciou as sanções contra Maria e Katerina. 

Não é a primeira vez que familiares de Putin são alvo de sanções. O seu antigo genro, Kirill Shamalov, ex-marido de Katerina e filho de um confidente do Presidente, já fora sancionado por Washington em 2018. A Tesouraria americana disse, na altura, que a fortuna de Shamalov teria aumentado “drasticamente depois do casamento”.