Qatar 2022. Sorte grande saiu a Portugal

A participação de Portugal no Campeonato do Mundo do Qatar é a sorte grande para as cores nacionais. Além da enorme exposição mediática, a presença num dos países mais ricos do Mundo tem forte impacto económico e vale muitos milhões de euros.

Não é todos os dias que se encontra uma simpática Macedónia do Norte no caminho para uma fase final de um mundial de futebol. A empreitada correu bem, o futebol não foi de encher o olho, e valeu o folclore vivido depois de confirmada a presença no Qatar 2022, competição onde foram investidos mais de 140 mil milhões de euros em infraestruturas – é o mundial mais caro da história – muito acima dos 13 mil milhões de euros gastos pelo Governo russo na preparação do seu mundial em 2018. A grandeza deste evento mede-se também pela brutal exposição mediática. As expectativas da Fédération Internationale de Football Association (FIFA) apontam para que cerca de 5 mil milhões de pessoas (63,2 por cento da população mundial) acompanhe o primeiro Campeonato do Mundo realizado num país árabe, também aqui é algo nunca visto e bem diferente do mundial russo que foi visto por 3,5 mil milhões de pessoas.

A seleção reergueu-se no playoff e garantiu a presença no maior evento desportivo do Mundo, só comparável aos Jogos Olímpicos de verão. O futebol-espetáculo é, cada vez mais, um negócio milionário para os países participantes. Daniel Sá, diretor executivo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM), disse à Renascença que a presença da seleção no Campeonato do Mundo do Qatar poderá trazer à economia nacional um retorno superior a 200 milhões de euros.

PONTAPÉS QUE VALEM MILHÕES O futebol e a economia caminham lado a lado, e são vários os setores de atividade que beneficiam com a presença da seleção no Qatar, começando pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Num mundial rico e sumptuoso – é o modus vivendi deste emirato – a FIFA abriu os cordões à bolsa e aumentou o Prize Money em 29 por cento relativamente ao mundial da Rússia, cabendo-lhe distribuir 410 milhões de euros pelas 32 seleções.

Sem delongas, o apuramento conseguido no playoff e os três jogos da fase de grupos (Gana, Uruguai e Coreia do Sul) valem 9,5 milhões de euros. A palavra de ordem é ganhar, e se Portugal ficar nos dois primeiros lugares do grupo H passa aos oitavos de final e recebe mais 10,9 milhões de euros, mas aí poderá apanhar o Brasil! As dificuldades aumentam e os prémios também. Se a equipa das quinas continuar a vencer e passar aos quartos de final recebe mais 14,5 milhões de euros. Caso a seleção continue em prova e chegue às meias-finais tem direito a receber 20 milhões (4.º lugar) ou 23,6 milhões (3.º lugar). Se fizer história e for à final recebe 29,1 milhões (2.º lugar) ou faz bingo, levanta o troféu mais desejado do futebol, e o prémio é de 43,2 milhões de euros. São estas as contas que a FPF irá fazer ao longo da competição sediada num minúsculo país, com apenas 11,521 km2, mas dos mais ricos do Mundo com um PIB per capita de 45,663 euros (valores do Banco Mundial referentes a 2020). 

Durante quase um mês, o planeta vai viver ao ritmo do Campeonato do Mundo e Portugal vai sentir efeitos múltiplos em várias áreas de atividade.  As agências de publicidade, as agências de meios, a hotelaria, o setor da restauração, as empresas de catering e de entregas de comida ao domicílio, as grandes superfícies, as empresas de segurança e de transporte, a comunicação social e as casas de apostas, entre outros, só têm a ganhar com a dinâmica do mundial.

O investimento publicitário na marca seleção e nos seus principais jogadores atinge valores estratosféricos, bem guardados no segredo dos deuses. A isto junta-se a atividade turística com a venda de viagens e bilhetes para os jogos de Portugal, haverá muita gente interessada em conhecer aquele que é provavelmente o país mais icónico do Médio Oriente. Às viagens junta-se o merchandising da seleção, há produtos para todos os gostos com as cores nacionais. Este megaevento é também um mundo de oportunidades para muitas empresas. Estão preparadas ações em Portugal e no Qatar com o objetivo de influenciar potenciais consumidores e manter ou aumentar a sua notoriedade no mercado. Existem outros aspetos que são igualmente fontes de receita independentemente do percurso da seleção, nomeadamente o consumo em casa, na restauração e as apostas online. O futebol provoca emoções, e a festa popular faz disparar o consumo antes, durante e depois dos jogos. Além da componente económica, o mundial tem também grande impacto a nível social, já que afeta uma parte significativa da população durante o mês da competição. Porém, não é expectável que atinja a mesma dinâmica e valores de outros grandes eventos desportivos devido à altura do ano em que se realiza – de 21 de novembro a 18 de dezembro. Significa isto que enquanto os participantes fogem do calor, nós, por cá, fugimos da chuva e do frio. Os encontros de amigos nas esplanadas com écrans gigantes devem passar para o interior ou para casa de alguém que tenha o frigorífico bem abastecido. Mas festa é festa, e o futebol tem a capacidade de fazer desaparecer momentaneamente as rivalidades e tornar-se num escape da vida real pintado em tons de verde e vermelho.