O PCP escolheu ser irrelevante

O Partido Comunista Português, cego pelo ódio ao capitalismo e ao grande satã EUA, parece ter regressado a 1953 e ao apoio aos mais sórdidos crimes de Estaline

Após a morte de Estaline, em 1953, o seu sucessor, Nikita Khrushchov, denunciou os ditos crimes do ‘estalinismo’. Esta denúncia, que teve lugar no 20.º Congresso do Partido Comunista da União Soviética, à porta fechada, marcou a possibilidade do renascimento do novo poder soviético, livre que estava daqueles crimes.

No mesmo congresso, foi declarado o fim do ‘dogma da inevitabilidade do conflito, permitindo uma coexistência pacífica entre estados capitalistas e socialistas.

Nas últimas semanas, e após a invasão da Ucrânia pela Rússia (cujos horrores são cada vez mais evidentes), o Partido Comunista Português, cego pelo ódio ao capitalismo e ao grande satã Estados Unidos da América, parece ter regressado a 1953 e ao apoio aos mais sórdidos crimes de Estaline.

O muro de Berlim ainda não caiu, a União Soviética ainda não acabou, vivemos em doutrina da soberania limitada, reconhecemos as esferas de influência e ‘aturamos’ as deportações e os homicídios estalinistas. Só que não! Este mundo, que parece ser aquele ao qual o PCP quer regressar, já não existe. Falhou. Acabou em 1991!

A Guerra Fria, que marcou a segunda metade do século XX, teve como pano de fundo o antagonismo entre dois modelos de sociedade, era esse o suporte ideológico do conflito. Esse suporte hoje não existe mais. A Rússia, que o PCP parece defender, não é um ator desse tempo, é muito mais uma potência expansionista e revisionista do século XIX do que uma superpotência do século XXI. 

Tal como a União Soviética era anacrónica, esta Rússia de Putin também o é: desbaratou, nas últimas semanas, toda a credibilidade e boa vontade que tinha ganho desde o final da Guerra Fria, é agora uma ditadura brutal, um Estado-pária.

As atuais gerações não vão esquecer os massacres sem sentido, como o já descoberto de Bucha, e os que estão para vir a público.

Ao PCP, deixar-se confundir com o atual poder russo é, em primeira instância, o reconhecimento que o ódio aos Estados Unidos da América, e ao capitalismo, os move muito mais do que o humanismo e os mais básicos princípios de respeito pela dignidade da pessoa humana.

A invasão da Ucrânia pela Rússia é um ato miserável de agressão do bully ao mais fraco, um ato de prepotência. Na última semana, o PCP acabou sozinho na oposição ao discurso de Volodymyr Zelensky no Parlamento português. Não ser solidário com o mais fraco, quando este é atacado, é ser cúmplice do agressor. 

Esta posição do PCP acontece na mesma semana que foi conhecido o massacre de Bucha. A cegueira do PCP, que o leva a colocar no mesmo plano de moralidade o agressor e o agredido, constituiu uma abjeção, e uma ofensa à maior parte dos portugueses, mesmo aqueles que, como eu, aprenderam a respeitar o legado do partido. 

O PCP parece estar sem bússola moral e sem orientação para outro destino que não o da irrelevância. Tal como farão para com a Rússia, as atuais gerações não esquecerão o comportamento do partido perante a guerra das suas vidas. A indiferença é homicídio!