A árvore, o bosque, a floresta e a selva

Eldrick Tont Woods nasceu a 30 de dezembro de 1975, em Cypress, na Califórnia, e o nome com que se celebrizou nos campos de golfe ficará para a História como o de um dos jogadores mais extraordinários de sempre. Aconteça o que acontecer.

Tiger Woods conquistou uma legião de fãs inigualável e atraiu para a prática de um desporto de elite que entretanto, e com o seu contributo, também se massificou milhares ou milhões de jogadores pelo mundo inteiro.

Longe de ser daqueles que fazem o campo sempre com tacadas certeiras, muito regulares e direitinhas, com a bola do tee ao green quase sem sair do fairway, Tiger é o homem das pancadas impossíveis, seja com que taco for, madeira, ferro ou putter.

Não, não é um jogador perfeito, mas faz do golfe arte.

Uma arte que mesmo um leigo, como eu, não se cansa de apreciar e que até os melhores, como o espanhol e ex-número um mundial Jon Rahm, humildemente reconhecem ser um privilégio acompanhar.

A semana passada, no mítico campo de Augusta (EUA), Tiger Woods regressou às competições maiores do golfe mundial após o acidente de automóvel que, há um ano, quase o condenou à amputação de uma perna e fez o mundo temer nunca mais poder ver a sua magia.

Puro engano. Mais uma vez, Tiger Woods provou que, sendo imperfeito como qualquer outro ser humano e cometendo erros que quase o fizeram perder todo o brilho mesmo para quem dele fez ídolo – numa sociedade global em que o pensamento e a amoralidade dominante destroem até os melhores –, é mesmo um fora de série.

Trabalhou incansavelmente para reconquistar a forma e poder voltar a jogar ao mais alto nível. E a verdade é que conseguiu fazê-lo, a semana passada, num dos campos mais difíceis do circuito mundial. Passou o cut, o que significa que conseguiu ficar entre os 52 melhores do Masters, e jogou, por isso, até ao último dia da competição, arrastando milhares e milhares de adeptos. Acabou em 47.º lugar, com 13 pancadas acima do par, recebendo o prémio pecuniário de 43 500 dólares (o equivalente a 40 mil euros menos uns trocos).

Muito também por mérito de Tiger Woods, é esse o nível de prémios a que chegou o PGA Tour.

Para se ter uma ideia, o vencedor do Masters no passado domingo, o jovem de Nova Jersey Scottie Scheffler, de 25 anos, levou para casa, além da tradicional jaqueta verde atribuída aos campeões do torneio, 2,7 milhões de dólares (2,4 milhões de euros).

É certo que uma percentagem caberá ao seu caddy e outra ao seu treinador e outra ainda ao seu preparador físico mais a quem contribuiu para o seu sucesso e dele depende, mas não deixa de ser uma fortuna por uma semana de competição.

A verdade é que os prémios no PGA Tour estão cada vez mais milionários. Não é só em Augusta, onde o prémio para o vencedor do Masters aumentou quase meio milhão de dólares de um ano para o outro. É em todo o PGA Tour.

Ou seja, o desporto de elite que se massificou está mas é cada vez mais transformado numa indústria milionária.

Tanto assim que o European Tour já não consegue sequer reter os melhores jogadores europeus.

Nada que espante, atendendo ao volume de prémios, com um gap cada vez maior em desfavor da Europa.

Dir-se-ia que aquilo a que estamos a assistir no golfe é, na mesma ordem de razão, o que se passa em toda e qualquer outra atividade.

E é verdade. E a Europa atrasa-se cada vez mais em relação à América e a outros continentes, deixando ir os seus melhores.

E se pensarmos à escala nacional, então é ainda mais e muito mais preocupante.

É que Portugal está cada vez mais próximo da cauda da Europa e atrasa-se a cada ano que passa.

Da incapacidade para reter os seus melhores valores já nem se fala.

E a de dar oportunidades a quem com arte e engenho consegue resistir e persistir, essa então menos ainda.