Candidatos ao PSD apelam a toque a reunir

Moreira da Silva confirma hoje a candidatura à liderança do PSD e a palavra de ordem é comum a Montenegro: a unidade do partido é fundamental para construir uma alternativa.

Arrumada a casa na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), em Paris, Jorge Moreira da Silva deverá confirmar hoje a candidatura à liderança do PSD. A data foi definida pelo próprio, na semana passada, alegando que ainda estava concentrado «enquanto diretor da Cooperação para o Desenvolvimento na OCDE», depois de várias semanas de muita especulação sobre se ia, ou não, a jogo para disputar com Luís Montenegro as eleições que vão decidir o sucessor de Rui Rio.

Tal como o Nascer do SOL noticiou na edição passada, Moreira da Silva reúne passistas e rioístas numa candidatura para ser uma «alternativa» a Montenegro, além de convencer outros setores do partido que orbitam em torno de Marcelo Rebelo de Sousa.

De qualquer modo, esta será, sem dúvida, uma corrida marcada pelo regresso do passismo ao PSD, numa luta interna que opõe, pelo menos para já, o antigo delfim de Passos Coelho e o ex-líder parlamentar de… Passos Coelho.

Nas hostes de Luís Montenegro, a  candidatura de Moreira da Silva não suscita motivos de preocupação maior. Ao Nascer do SOL, apoiantes da ala montenegrista dizem esperar uma «discussão elevada» e de «respeito mútuo» até porque reconhecem que – com Montenegro e Moreira da Silva na liça – trata-se de «dois candidatos fortes».

Apesar de anotarem  a disponibilidade de Jorge Moreira da Silva para retomar a vida partidária, dizem que esta não é maior que a de Luís Montenegro. «Se Moreira da Silva tem de abandonar um cargo na Europa para regressar ao seu país, Montenegro deixa o seu ambiente, para sair da sua zona de conforto da sua vida pessoal e profissional, em Espinho, para se dedicar ao partido», atiram fontes sociais-democratas.

O certo é que Montenegro já leva semanas de vantagem a somar apoios e a preparar a campanha interna, com o aparelho mobilizado e operacional no terreno há meses.

Aliás, o social-democrata escolheu o momento para a formalização da sua candidatura, desde logo anunciando os nomes dos seus principais colaboradores e apoiantes nesta campanha – com Carlos Coelho na direção e outros ‘pesos-pesados’ sociais-democratas no seu núcleo de ativos colaboradores.

Montenegro apresentou-se com uma candidatura sobretudo virada para o país, «mais dinâmica com propostas concretas», fundada em três princípios: uma reforma fiscal, para as empresas e as famílias verem a sua carga fiscal diminuída; um pacto nacional sobre as alterações climáticas, que seja «motivo de convergência entre os vários partidos e a sociedade civil»; e ainda uma «política de atração de emigrantes, capaz de os acolher, mas que aproveite a sua mão de obra».

Já Moreira da Silva soma pontos no campo das políticas ambientais, sendo estas uma das suas bandeiras desde que foi ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, entre 2013 e 2015.

O ex-ministro de Passos Coelho dirige a Plataforma para o Crescimento Sustentável, que fundou em 2011 – demarcando-se então da linha de austeridade de Vítor Gaspar –, e está ligado a uma agenda ligada às alterações climáticas e à modernidade, aproveitando esse campo para dar prova viva das suas capacidades.

Contudo, segundo as mesmas fontes partidárias, este é mais um motivo para demonstrar a unidade no partido, uma vez que tanto um candidato como o outro têm em vista novos rumos para o PSD. «É normal que em matéria de questões ambientais, este seja um ponto transversal a outros candidatos porque é algo que o PSD quer que seja transversal ao país».

Na apresentação da sua candidatura, e tal como Luís Montenegro o fez há duas semanas, Moreira da Silva deverá também apelar à unidade do partido como forma de o PSD se reafirmar como alternativa ao PS_aos olhos do eleitorado e responder a um dos piores resultados eleitorais da sua história. Sublinhe-se que esse foi sempre também um dos fantasmas agitados pelo líder cessante, sendo que o próprio Rui Rio se afirmou entre os sociais-democratas pela sua oposição ao anterior líder, Pedro Passos Coelho.

E a divisão nas hostes laranjas já vem de trás: sendo que Passos Coelho abriu clara rutura com a sua antecessora, Manuela Ferreira Leite.

Apesar de um vasto currículo  – que é apontado como um ponto a favor da sua candidatura – , há quem acuse Moreira da Silva de falta de ‘tração’ e de ‘carisma’, que fazem com que tenha poucas ‘tropas’ no partido.

«O PSD precisa de um líder combativo, capaz de fazer uma oposição feroz ao PS para voltar a ser uma alternativa de governação em Portugal», defende um influente social-democrata ao Nascer do SOL, lembrando que «sempre que o PSD esteve na oposição, Moreira da Silva esteve afastado do país. Só esteve a dar a cara pelo PSD quando o partido estava no Governo». Já Montenegro, que foi líder da bancada parlamentar social-democrata na oposição ao Governo de António Costa entre 2016 e 2017,  «nunca virou a cara à luta».

Não falta também quem veja em Montenegro «uma componente forte de aparelho», reconhecendo em Moreira da Silva uma ‘lufada de ar fresco’,  como alguém que é «antissistema e antiaparelho».

Esta será também a primeira candidatura de Moreira da Silva à presidência dos sociais-democratas, ao contrário de Montenegro, que vai disputar o cargo pela segunda vez, depois de não ter tido êxito contra Rui Rio.

Nas últimas diretas, em novembro do ano passado, o antigo ministro ainda ponderou avançar contra o eurodeputado Paulo Rangel, mas acabou por não o fazer depois de o ainda presidente do PSD, Rui Rio, ter confirmado a sua recandidatura.

 

Mais um protocandidato desiste da corrida

Um mês depois do último conselho nacional do PSD, onde tinha jogado à cautela com um «vamos ver», o ex-deputado Pedro Rodrigues acabou por seguir o rumo de outros putativos candidatos, colocando-se fora da corrida e engrossando a lista de não-candidatos à liderança social-democrata, que conta já com nomes como Paulo Rangel, Miguel Pinto Luz, Carlos Moedas, Ribau Esteves ou Miguel Poiares Maduro. «Fazia sentido ir num caminho diferente daquele seguido nos últimos anos. É sabido que a opção que o partido e principais dirigentes seguiram foi outra, foi achar que resolvendo o problema da liderança, resolver-se-iam os problemas profundos que o PSD tem. Perante esse cenário uma candidatura que eu poderia protagonizar, animada pela ideia e propósito de reposicionar o PSD na sociedade, não tinha um ecossistema adequado para se afirmar», explicou, ao anunciar que não seria candidato.

 

Rioísmo na Assembleia da República

Com a eleição de Paulo Mota Pinto como novo líder da bancada parlamentar – com o voto favorável de 71 dos 77 deputados eleitos – a representação do rioísmo na Assembleia da República saiu reforçada.

Neste cenário, quem vier a ser o próximo líder do PSD terá de saber navegar ao leme com uma herança pesada deixada por Rui Rio, porque a marca rioísta não se esgota com o presidente do Conselho Nacional dos sociais-democratas. Foram também eleitos como vices da bancada parlamentar André Coelho Lima, Ricardo Baptista Leite, Hugo Carvalho, Catarina Rocha Ferreira e Paulo Rios de Oliveira, todos destacados apoiantes de Rui Rio.

Em declarações aos jornalistas, Mota Pinto não adiantou se colocará o lugar à disposição aquando da escolha do próximo líder do PSD, dizendo  que a questão ainda é «prematura».

Notoriamente, este grupo parlamentar foi escolhido a dedo pelo ainda presidente do partido e dificilmente aceitará sem levantar ondas a saída do presidente do grupo parlamentar agora eleito.

Resta saber como é que o sucessor de Rio irá lidar com a bancada rioísta.

Na apresentação da candidatura, Montenegro recusou dizer o que faria se fosse escolhido como presidente do partido, prometendo «coordenação total» e um «trabalho muito profícuo» com o grupo parlamentar herdado de Rui Rio.