Ana Varela. “O preconceito só existe na cabeça de quem o tem”

Nasceu numa família que queria vê-la ser ‘alguém na vida’. Economia foi o caminho que inicialmente escolheu, mas o caminho da representação foi o que a escolheu a ela. Senta-se à mesa com uma garrafa de água de metal e o olhar sereno de quem, conscientemente, escolhe fazer (e ensinar a fazer) o melhor pela…

Ainda se lembra do primeiro casting a que foi?

Na vida? Quando me falas em primeiro casting eu lembro-me automaticamente do primeiro casting para ficção a que fui, um casting ao qual fui parar sem ter a mínima noção do que era. Na altura, as agências mandavam uma mensagem – e eu estava inscrita numa agência, mas fazia publicidade. As mensagens diziam apenas: «Casting x, às y horas, no local z».

E, naquele dia, eu achava que ia a um casting para publicidade, como sempre. Quando cheguei percebi que era um casting nacional para uma série da RTP [T2 para 3], onde estavam à procura dos três protagonistas. Só me lembro de pensar “O que é que eu estou aqui a fazer? Eu nunca peguei num texto na minha vida. Porque é que eu estou aqui?”.

Mas depois pensei “Já que aqui estou, vou experimentar”. Lembro-me de estar na fila para dar o nome, os contactos, o nome da agência e receber o texto – era um texto que davam na hora – e escolhíamos a personagem. Eu recordo-me que havia a “Clara” e a “Diana” e eu achava que o meu perfil era de “Diana”, mas o senhor disse: «Não, tu és a Clara». Eu pensei logo que a Clara era super sem graça. Mas, quando chegou a altura de anunciar as finalistas para a Clara, eu lembro-me de estar no palco e de só faltar uma candidata, de pensar “ou eu estou neste núcleo ou eu não estou” e, naquele momento, eu tenho a consciência total de desejar fazer aquilo.

O meu nome estava entre as três finalistas e fomos para votação do público [última fase do processo de casting]. Como eu estava em Lisboa a estudar Economia nem disse a ninguém para votar em mim. Não sei se havia redes sociais naquela altura, mas não fiz publicidade para votarem e a verdade é que acabei por ser a mais votada para o papel de “Clara”. Penso que isto foi em janeiro de 2008. Quando comecei a gravar, as experiências eram todos os dias diferentes…

Nasceu uma paixão dentro de mim como eu nunca tinha sentido em nada da minha vida. Aí eu percebi que não podia fazer mais nada sem ser representar. É uma coisa que se sente, não se explica. Depois desta experiência a minha vida mudou totalmente, não havia como voltar para o curso de Economia. Quis inscrever-me no Conservatório para ainda fazer a licenciatura, mas a verdade é que comecei a trabalhar e nunca mais parei. Mas faço sempre formações entre projetos, acho importantíssimo, para reciclar e para adquirir novas ferramentas, descobrir novas abordagens, para construir personagens diferentes. E foi este o grande casting da minha vida. 

Nem de maneira amadora tinha feito alguma coisa relacionada com a representação?

Nada. Há aquelas pessoas que dizem: «Eu sempre quis ser ator». Era muito difícil para mim eu querer ser atriz desde pequena. Eu tinha incutida – socialmente e familiarmente – a ideia de que era muito importante para mim tirar um curso superior porque os meus pais não tiveram acesso a essa oportunidade e queriam muito que eu tivesse. Por isso, já nasci formatada com a ideia de que tinha de ir para Lisboa e tirar um curso superior para ser “alguém na vida”.

Este alguém na vida é um pouco vago… Quantos licenciados hoje em dia têm graves problemas ou ainda estão em casa dos pais, etc…? Ser alguém na vida é descobrires as tuas paixões e vivê-las, eu acho que isso é o ser o mais alguém na vida possível.

Como é que essa mudança de rumo foi depois vista pela família?

Foi surpreendente, para toda a gente, não só para a família. Eu hoje olho para trás e acho isto tudo too much… Eu era a melhor aluna da turma, a melhor aluna da escola, a melhor aluna do distrito, presidente da associação de estudantes, representante dos alunos no concelho pedagógico e na Câmara Municipal, eu era aquela que supostamente ia ter mais sucesso. Foi um choque para toda a gente.

A Ana que tinha um futuro tão promissor na parte empresarial acabou por “desperdiçar isso”. As pessoas todas diziam: «Que desperdício, Ana. Tanta inteligência e agora vais ser atriz?». Mas o que as pessoas não percebiam é que para ser atriz tens de ser inteligente, tens de ser inteligente em vários aspetos, não só no palco, mas também em gerir todas as equipas, a tua carreira, a vida, tens de ser inteligente na mesma, mas as pessoas têm esta noção de que não é preciso assim tanta inteligência para fazer isto, uma ideia que eu acho completamente errada.

O meu pai, que trabalhou a vida toda para me dar aquela oportunidade [de se licenciar], foi talvez o que ficou mais chocado na altura, mas hoje é o meu maior fã. Primeiro estranha-se e depois entranha-se. Hoje em dia, no sítio onde eu vivo, se calhar sou uma referência, continuo a estar ligada à Câmara Municipal porque me convidam para estar associada a ações deles. Até acho que, de onde eu venho, há um certo reconhecimento por aquilo que consegui fazer, porque ninguém estava à espera, e este mundo às vezes é difícil de entrar, de continuar…

Às vezes nem é tão difícil de entrar, mas sim de continuar cá. É preciso um trabalho constante, uma entrega constante, uma esperança constante, uma dedicação constante, muito trabalho e, para isso, é mesmo preciso seres apaixonada por aquilo que fazes. Portanto há uma espécie de admiração por aquilo que consegui. Já não há aquela opinião de que desperdicei o que tinha em mim, é mais um: «Olha o que tu conseguiste, uau».

Nessa altura de mudança, sentiu que estaria a ‘desperdiçar’ a sua inteligência, como lhe disseram?

Há sempre muitos ‘e se…’ ao longo da tua carreira, apesar de eu ser extremamente obstinada e teimosa, eu sei sempre muito bem para onde ir, nem que seja ir bater com a cabeça naquela parede. Sou muito trabalhadora, é esse o meu perfil, muito profissional, sei bem o que quero mesmo quando a vida muda toda. Mas sim, houve muitos ‘e se…’ ao longo deste percurso, eu nunca estive muito tempo parada, mas se estiveres algum tempo parada perguntas: «Estou parada porquê? Se calhar já não tenho nada para oferecer a este mercado».

Claro que quando comecei, e era bastante jovem, também havia ‘e se…’, mas não tinha muito a perder porque também não tinha nada garantido. É aquela a altura ideal para tomar decisões e decidires o rumo da tua vida e eu sou super grata por ter descoberto… Quantas pessoas andam a vida inteira sem descobrir o seu rumo e não estão apaixonadas pelo que fazem?! Eu sou loucamente apaixonada pelo que faço, por isso só tenho de agradecer.

Faz parte de uma geração de atores para a qual a Internet teve uma grande importância, tanto que a primeira série que fez [T2 para 3] foi inicialmente na Internet. Talvez a primeira geração até…

Exato. Sentiu o peso da mudança? Uma vez que foi um projeto pioneiro… Apesar de o primeiro projeto que eu fiz estar muito ligado à Internet, os seguintes não, viviam da televisão. Portanto, não senti tanto esse impacto. Acho que hoje em dia, as gerações de atores que estão a começar sentem muito mais isso. tens de ser multilateral em todos os meios, não basta fazeres apenas um projeto em televisão, ou em teatro, ou em cinema, todos os meios definem o ator e as suas experiências. Posteriormente vieram as redes sociais e aí, sim, tens uma maior proximidade e um maior contacto com o público.

Deixou de haver aquela coisa, que eu até gostava, para ser sincera, em que o ator é um mistério. O ator encara aquelas personagens, mas tudo o resto que ele faz é misterioso. Hoje em dia eu até acho que assistimos a uma exposição demasiada do ator e das suas ferramentas, o que retira um bocadinho este misticismo. Eu, quando olhava para os atores, gostava deste mistério, deste «Uau, como é que eles fazem isto»…

Como se fosse magia?

Como se fosse magia. Eu acho que a magia faz parte do teatro e de todo este mundo da representação. Os grandes atores não têm contas de Instagram, eu acho isso incrível. O que será que eles fazem no dia a dia? É um mistério e um encanto que te alicia para, quando eles sobem ao palco ou quando entram num filme, tu saberes que vais ver uma coisa única.

As redes sociais são boas porque nos põem um bocadinho em contacto com o nosso público, e isso é ótimo. Por exemplo, nós em novela abordamos temas muito transversais. A minha última personagem sofria de violência doméstica e esse era um tema muito recorrente. Através das redes sociais nós conseguíamos estar em contacto com pessoas que passavam por isso e que se sentiam representadas. Eu acho isso muito bom. Mas, ao mesmo tempo, é uma faca de dois gumes, o segredo está no equilíbrio.

E sente que esta magia se está a perder?

Acho que continua a existir um certo misticismo. Pelo menos as pessoas, nomeadamente as mais novas, perguntam como é que faço determinadas coisas. Ainda há pouco tempo fiz um projeto com não atores e estavam todos muito fascinados, ou seja há uma curiosidade tão grande que me mostra que esse misticismo não se perdeu. O meu medo é que, com a banalização das redes sociais e do dia a dia dos atores nas redes, se perca um bocadinho dessa magia, mas cabe-nos a nós não deixar que isso aconteça. E esta é uma visão que eu tenho, se calhar não é transversal. Penso que tem de ser feito com conta, peso e medida, de modo a que não aconteça essa banalização da profissão. 

E existe uma Ana Varela atriz e uma Ana Varela cidadã? Ou coexistem as duas?

Coexistem as duas porque não existe um sítio onde acaba uma e começa a outra. A atriz é a cidadã, as minhas preocupações como cidadã são transportadas para o meu dia a dia como atriz e até aproveito a exposição que a minha carreira como atriz me dá para ter a oportunidade de disseminar mensagens que, enquanto cidadã, considero importantes. Por isso, acho que está tudo interligado.

Sente que a sua projeção a obriga a ser uma voz ativa em determinados assuntos?

Não, a minha projeção não me obriga, é uma escolha minha. Mas eu sinto a necessidade de falar sobre determinados temas e, já que tenho acesso a um público que vê os meus projetos e se identifica com o meu estilo de vida, porque não falar de temas que eu acho que são tão urgentes como as alterações climáticas ou o futuro dos recursos naturais no planeta e a questão da sua sobrevivência e a nossa sobrevivência nele? Já que tenho este público que me segue com tanto carinho, aproveito essa oportunidade.

Como se deu esta mudança para um estilo de vida mais sustentável?

Eu comecei esta mudança de estilo de vida porque eu queria fazer melhor. Eu, sozinha, em minha casa com as minhas filhas e nas nossas rotinas. Depois achei que havia tanta curiosidade em relação a este tema que eu tinha de partilhar. Depois senti que não era só importante falar sobre o assunto, mas também envolver a comunidade.

E, hoje em dia, das coisas que mais gozo me dão é exatamente isso: ações de limpeza de praia, ações de reflorestação, pôr a mão na massa, participar ativamente nos projetos das autarquias, como, no meu caso, na Câmara Municipal de Loures, ter um impacto também nos sítios onde trabalho. Gosto de contribuir ativamente e palpavelmente. Hoje vivemos tão as nossas rotinas que sinto as pessoas desconectadas da comunidade.

Eu dei por mim, há uns anos, a pensar que eu própria tinha de acordar esse espírito de comunidade dentro de mim e estar mais presente nos sítios onde eu realmente vivo, não viver só para mim, para o meu amigo e para os meus objetivos e sonhos, mas sim viver também para os outros que estão à minha volta. E aconteceu tudo ao mesmo tempo.

Quando é que surgiu esta preocupação?

O meu blog – greenlittlesteps.com – é de 2019 e eu comecei a sentir a necessidade de falar sobre isto em 2018. A mudança começou a acontecer na minha vida e na minha casa mais ativamente, e com a consciência de que ela estava a acontecer quando a Alice (filha) nasceu, ou seja em 2017. Foi aqui que a mudança começou a ser mesmo consciente, que existiu uma procura de informação para mudar comportamentos.

Lembro-me perfeitamente que, quando a Alice começou a introdução alimentar, eu tive de pensar que alimentos poria nesse processo, qual era a origem dos alimentos, a alimentação biológica. Depois, onde é que eu guardo as sopas da Alice? Porque o plástico contém BPA’s que podem passar para a comida e eu não quero que isso aconteça. A informação veio atrás da informação, comecei a ficar mais alerta sobre os plásticos, consumo de plástico excessivo, o plástico vai parar ao ambiente… acabou por ser uma bola de neve.

O assunto da sustentabilidade levou-me a outros temas e acho que, mesmo que queiras, não consegues tomar uma medida num só campo. Não consegues ser preocupada com o problema do plástico no planeta e não reciclar. Se reciclas o plástico, reciclas os outros materiais: o papel, o vidro, as pilhas, os medicamentos, todos eles. Se te preocupas com o impacto do descarte, automaticamente ponderas em fazer compostagem e se ponderas fazer compostagem, automaticamente pensas, e se eu tivesse uma horta? E depois entras num ciclo, o ciclo da sustentabilidade e das mudanças, uma vez que estas mudanças levam umas às outras.

E de onde veio esta ideia de criar um blogue e partilhar a sua visão?

Não fui eu, foram as pessoas à minha volta. Eu quis fazer esta mudança para mim, para ser melhor, porque comecei a preocupar-me bastante com o impacto que eu estava a ter no meio ambiente onde vivia, no planeta Terra, e por isso comecei a fazer estas mudanças. Mas, depois, o que acontecia é que eu, por exemplo, chegava ao estúdio com os meus snacks dentro de um frasco de compota que estava a reutilizar e as pessoas perguntavam: «Ah, porque é que fazes isso?».

Depois, passado uma semana, já alguém estava a replicar essa ação. Diziam: «Tu não bebes de garrafas de água de plástico, pois não?» e eu dizia que não, que ando sempre com a minha garrafinha reutilizável para todo o lado. E as pessoas perguntavam-me porquê, porque é que eu deixei de comer carne e depois porque é que deixei também de comer peixe. E, cada vez que havia estas perguntas, havia uma oportunidade para eu explicar.

E, ainda sem redes sociais nem nada, comecei a sentir uma curiosidade e a ver que, todas as conversas onde eu estava envolvida iam parar à sustentabilidade. Acredito que um consumidor informado vai fazer melhores escolhas e, por isso, toda a informação que encontro coloco à disposição. Tento simplificar esta coisa da sustentabilidade dando o exemplo e a informação.

E sente que as pessoas estão cada vez preocupadas com o meio ambiente e a adquirir hábitos que refletem essa preocupação?

É um assunto cada vez mais falado e todos os dias sentimos essas consequências do nosso impacto humano. O clima está a mudar, as temperaturas estão cada vez mais elevadas, as tempestades tropicais têm um cada vez maior impacto, as chuvas torrenciais que destroem tudo são cada vez mais constantes e nós sentimos isso, sabemos que estamos a mudar e que precisamos de fazer alguma coisa para reverter isso, é um trending topic.

Cada vez são mais as notícias sobre o aumento do nível do mar, as pessoas começam a perceber que temos de fazer alguma coisa, que entramos num consumo desmedido e que, se calhar, agora temos de entrar num equilíbrio. Eu vejo isso não só nas pessoas, mas também nas marcas.

As marcas já estão a fazer todas a transição, eu já vejo montes de marcas que antes não estavam nem aí para esta preocupação ambiental e que agora fazem cada vez mais mudanças dentro da estrutura e que comunicam essa mudança. E, se isto chegou às marcas, se chegou ao lado da oferta, é porque a procura o quis.

Eu sou de economia e sei que a curva da oferta é definida pela curva da procura. Portanto, quando isto chega às marcas, às autarquias, às comissões europeias, à ONU e a todo o lado, é porque já se tornou numa preocupação transversal a toda a gente. Todos nós temos de participar nesta mudança e tem de ser uma interligação de todos os meios, de todo o planeta, com todos os países porque de nada vale Portugal diminuir imenso as emissões de CO2 para a atmosfera quando a Alemanha as continua a aumentar. Na realidade o planeta é só um.

Cada vez mais vejo as pessoas a pensarem que têm mesmo de reduzir o consumo de carne, por exemplo, uma coisa de que, há uns tempos, ninguém falava. Nada de fundamentalismos, falamos sim em responsabilidade.

Pode-nos falar de projetos futuros?

Agora estamos super focados em promover o filme Km224, chega aos cinemas dia 21 de abril. Foi filmado no ano passado, foi uma oportunidade maravilhosa de trabalhar com o António Pedro Vasconcelos, cujo trabalho já sigo há muitos anos e acaba por ser uma referência no cinema português.

Esta história é um drama familiar que fala sobre a separação de um casal e como é que essa separação acontece, não só para o casal como também para os filhos. Há uma frase do filme, que para mim tem um impacto gigante, que é: «Todos somos monstros nas medidas dos nossos medos».

Na realidade, quando duas pessoas se separam estão magoadas, estão com medo da mudança e acabam por, talvez, não ser a melhor pessoa para a outra. Há muitas pessoas que, ou já passaram por uma separação, ou são filhas de pais separados e, por isso, é algo com o qual se identificam. É um filme que nos mostra que não vale tudo, que às vezes nos esquecemos do que é realmente importante quando estamos nas nossas guerrinhas entre uns e outros.

É um filme que eu acho que vai ter um impacto gigante no público, exatamente porque é muito fácil de nos identificarmos com ele, é muito fácil de vermos o filme e pensarmos: “Eu já fiz aquilo, eu já passei por isto”. E a arte, o teatro e o cinema, têm este poder de nos pôr a ver de fora coisas que estão relacionadas connosco. A partir do momento em que nós vemos no ecrã, parece que se faz um clique, que nós tomamos consciência.

Espero que este filme traga essa consciência, da humildade e da compaixão, mesmo numa separação, que é tão necessária, não só para os dois seres humanos que se estão no processo de separação como também para toda a família e para as crianças que estão a assistir àquele processo. É uma mensagem que eu acho muito importante. 

E como olha para o cinema português neste momento?

Um cinema que precisa da ajuda de todos para levar pessoas às salas. É muito difícil combater com os “Batmans” da vida. Mas continuamos a contar histórias, continuamos a contar histórias em português, que é a única língua em que eu gosto de representar. E acho que faz sentido continuarmos a contar estas histórias, mas temos concorrentes super pesados e precisamos de levar o público às salas para ver as nossas histórias, na nossa língua, porque não faz só arte quem a cria, fazemos todos parte do processo.

Portanto, nós precisamos que o público vá as salas e que partilhe as histórias, porque é para ele que continuamos a fazer isto. Somos dos países que tem menos apoios do Estado em relação à cultura, menos de 1%. É muito importante que o Estado perceba que faz mesmo muita falta apostar na cultura. Mas não é só o Estado que tem este papel, o público também tem este papel. 

Entre todos os meios, cinema, televisão, teatro, o que é que mais a entusiasma fazer?

É impossível escolher. Cada uma delas, a televisão, o teatro e cinema, trabalham diferentes ferramentas em nós. Não tenho nenhum preconceito com nenhum dos meios, já tive experiências riquíssimas no teatro, experiências riquíssimas em televisão e tive experiências riquíssimas nos projetos de cinema que fiz. Gosto de todas, quero fazer todas até ao fim da minha vida.

Apesar de não ter esse preconceito, em relação a algum dos meios, sente que há quem o tenha?

Existe preconceito, sim, mas os preconceitos existem na cabeça das pessoas. Se não existirem na nossa, aquilo que vamos acabar por fazer é, se calhar, conseguir quebrar alguns. Também existe algum preconceito dentro do próprio meio, mas estamos cá exatamente para quebrá-lo. O preconceito só existe na cabeça de quem o tem.