Falta de vigilância e temperaturas altas levam a aumento de mortes por afogamento

Morreram, desde o início do ano, 29 pessoas por afogamento – o pior registo dos últimos quatro anos. Ontem, um banhista foi resgatado na praia de Santo Amaro de Oeiras.

O ano de 2022 está a ser, dos últimos quatro, aquele em que se tem registado o maior número de mortes no meio aquático. São já 29 as fatalidades, em Portugal, desde o inicio do ano. Os dados são do Observatório do Afogamento da Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores (FEPONS). “Nestes últimos dias, as temperaturas elevadas desta Páscoa trouxeram vários salvamentos e mortes por afogamento por todo o país”, acusa o organismo.

Em comunicado, a Federação de Nadadores Salvadores alertou para o risco acrescido de afogamentos na época da Páscoa, em que muitos banhistas se aventuram nas praias do país, que ainda não contam com vigilância, pedindo às autarquias portuguesas medidas para reduzir os riscos acrescidos.

“Num momento em que ainda não existe assistência a banhistas nas praias portuguesas, por ainda não estarmos na época balnear, a afluência de banhistas […] traz um elevado risco de afogamento”, pode-se ler no mesmo comunicado, onde a FEPONS deixava um pedido às Câmaras Municipais do país: “Embora a legislação não o obrigue, sendo a assistência a banhistas uma competência das autarquias, estas devem ter uma maior sensibilidade para a área.”

Como? Através da criação de dispositivos de segurança nas suas praias nestes momentos, “pois sendo Portugal um país de turismo, não existe pior publicidade que alguém morrer ou ter se de ser salvo numa praia sem vigilância, quando o marketing territorial vende estes espaços como locais seguros”.

Em conclusão, a Federação de Nadadores Salvadores deixou um apelo à difusão da mensagem que estas condições (calor e turismo de massas num período fora da época balnear), “trazem alto risco de afogamento”.

números altos “Há mais óbitos fora do verão, as coisas não são bem como as pessoas imaginam. No mar, houve 21 mortes e apenas duas foram em zonas vigiadas. No Interior, 45 mortes e apenas uma foi numa zona vigiada. Conclui-se que as pessoas estão a morrer por afogamento fora da época balnear e mais no Interior do que no Litoral”, explicava Alexandre Tadeia, presidente da FEPONS, em declarações ao i, em janeiro deste ano, sublinhando que, todos os meses, a Federação faz chegar relatórios de mortes por afogamento aos órgãos de comunicação social, lamentando a “falta de interesse” dos mesmos. “Temos 100-120 mortes por afogamento, por ano, e este tema devia ser sempre assunto. A verdade é que os portugueses não têm cultura de segurança aquática: o assunto não é convenientemente ensinado nas escolas e há pouca oferta na idade adulta. Não havendo esta educação, este tema é algo que não levanta interesse. Só quando, de facto, alguém próximo morre afogado ou se aproxima a época balnear tudo é mais divulgado”, realçava o também Presidente da BÚZIOS-Associação de Nadadores Salvadores de Coruche. 

crescimento O alerta da FEPONS surge depois de se ter igualado o pior registo dos últimos anos: os 29 mortos em 2020. E mais: o número de mortos no mesmo período temporal é o mais alto desde 2017. Nesse ano, registaram-se, no mesmo período temporal, 32 mortes. Depois, no entanto, a contagem manteve-se nos 28 mortos em 2018, 18 mortos em 2019, 29 mortos em 2020 e 26 mortos em 2021. No último ano, aliás, morreram um total de 101 pessoas afogadas, segundo os dados do Observatório do Afogamento da FEPONS.

Significou isto, no entanto, uma redução de 17,2% relativamente a 2020, ano em que 122 pessoas perderam a vida vítimas de afogamento. Analisando melhor os dados da FEPONS, encontra-se um detalhe que está por trás de todo este apelo da Federação: em 2021, apenas três das 101 pessoas que morreram afogadas se encontravam num local com vigilância. Significa isto que 97% das mortes por afogamento em 2021 se deram em locais sem vigilância, realçando o papel que esta atividade tem na prevenção das mortes por afogamento. Note-se também que a maioria dos afogamentos, no ano passado, aconteceu em rios (35,6%).

semana atribulada No domingo, às 13h45, os bombeiros de Oeiras receberam um alerta para o perigo de afogamento de um banhista de 21 anos, na praia de Santo Amaro de Oeiras. Ao chegar ao local, no entanto, o jovem já tinha sido resgatado por banhistas. O jovem foi transportado para o Hospital de São Francisco Xavier, considerado ferido ligeiro, após um incidente que levou à ativação dos bombeiros de Oeiras, bem como duma viatura médica e ainda uma lancha salva-vidas da Polícia Marítima de Lisboa.

O incidente deu-se depois de, no sábado, ter sido encontrado na mesma praia o corpo de um homem, não sendo, no entanto, conhecidas as causas de morte. “Foi encontrado um corpo por uma embarcação de pesca. Trata-se de um indivíduo do sexo masculino que aparenta 30 e poucos anos e que não aparenta ser banhista”, informou Diogo Vieira Branco, capitão do Porto de Lisboa, referindo que o alerta foi dado ao final da manhã e avançando ser “precipitado tecer qualquer conclusão” sobre as causas de morte do corpo, que não aparentava estar no mar há muito tempo.

Já na Boca do Inferno, em Cascais, um jovem de 22 anos de nacionalidade moldava caiu ao mar, acabando por morrer, quando se encontrava acompanhado pelo irmão, que ficou em estado grave.