Viva a Liberdade!

Neste 48º aniversário do 25 de Abril celebremos o dia que nos devolveu o nosso destino.

por Isilda Gomes
Presidente da Câmara Municipal de Portimão, Membro do Comité das Regiões

O processo de construção europeia leva já setenta anos. No próximo dia 18 de abril cumprir-se-á o 71.º aniversário da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, que foi a precursora da Comunidade Económica Europeia, que evoluiu já no nosso tempo de vida para a União Europeia, na qual atualmente vivemos.

Os primeiros passos dados na construção europeia aconteceram num período em que a Europa se tentava reconstruir, depois da mais terrível das guerras que a assolou. Os objetivos da CECA foram muito claros, facilitar as trocas comerciais de carvão e de aço, que eram os recursos essenciais para a industrialização, mas também para a construção do poder militar. Quando a França e a Alemanha Ocidental se juntaram numa organização transfronteiriça que partilhava os recursos necessários para se travar uma guerra, foi lançada uma semente, que o futuro da Europa seria construído em Paz.

Temos portanto que os alicerces da nossa Europa são muito diferentes dos da Europa de séculos passados, onde a competição por território, as rivalidades dinásticas e religiosas ou o simples imperialismo mercantilista a mergulharam em períodos constantes de guerra.

Os fundamentos desta nova Europa são indissociáveis da Paz, do progresso económico e social, mas também e fundamentalmente da Liberdade.

O processo de construção europeia que iniciou com o tratado de Paris em 1951 e se aprofundou com o tratado de Roma em 1957 nunca reconheceu as ditaduras sobreviventes da segunda guerra mundial como seus pares. Só quando Portugal, Espanha e Grécia se democratizaram é que recuperaram o seu justo e digno lugar à mesa desta Europa que se quer de cidadãos e não de súbditos.

O nosso 25 de Abril de 1974 foi uma data fulcral neste processo. Fomos o primeiro dos países do sul a enveredar pelo caminho da Liberdade e da Democracia, e o nosso exemplo inspirou outros provocando a queda progressiva de quase todas as ditaduras do continente, como uma peça de dominó que ao cair provoca a queda da próxima e assim sucessivamente. Este movimento só terminou com a queda do muro da vergonha em 1989, muro esse que muitos pensaram eterno e alguns ainda lamentam o seu desaparecimento.

A Liberdade é o valor essencial da vida em sociedade. Ao longo da História sempre foram os países mais livres as que criaram mais riqueza e, distribuindo-a, melhores e mais igualitárias sociedades criaram. A Liberdade favorece a educação, solta a cultura e incentiva a produção científica e o desenvolvimento tecnológico, e todas estas em conjunto promovem o desenvolvimento.

Muitos pensam que a Liberdade é apenas um meio para atingir um determinado fim, normalmente o desenvolvimento económico. Esses são os que em momentos de crise ou dificuldade se viram contra a própria Liberdade, apoiando ou fomentando partidos políticos ou discursos populistas que nada criam, nada resolvem, apenas vivem de federar ressentimentos gritando ao vento o que está mal e de quem é a culpa.

A Liberdade é em si o fim por que tantos lutaram, pois sendo o fim é o início, a única base sólida sobre a qual uma sociedade democrática pode ser construída.

Festejaremos recentemente o 48.º da revolução que nos devolveu essa Liberdade, mas não podemos correr o risco que essa data se transforme numa rotina no calendário, onde alguns repetem os discursos e lugares-comuns de sempre.

A Liberdade é, e será sempre, uma obra inacabada. Em todas as gerações ela enfrenta inimigos que a desejam cercear ou destruir, muitas vezes à sombra dessa mesma Liberdade que abjuram.

Fomos, contra a nossa vontade, obrigados a assistir de novo à guerra na Europa. Uma guerra causada pela ambição territorial de um tirano e impingida a um povo pacífico, honesto e trabalhador, que tão bem conhecemos por muitos dos seus cidadãos viverem entre nós.

Não estávamos preparados para ver entrar nas nossas casas imagens de cidades bombardeadas, civis massacrados e milhões de pessoas em fuga, tudo isto aqui, no nosso continente. Menos ainda esperámos ter que assistir à quantidade de pessoas, que sendo minoritária é significativa, que professando sempre um amor pela Liberdade, demonstraram um vil e ignóbil desdém pelo sofrimento de outros, que nada menos ambicionam do que escolher o seu destino sem serem obrigados a lamber a bota do vizinho que lhes pisa a garganta.

Neste 48.º aniversário do 25 de Abril celebremos o dia que nos devolveu o nosso destino, mas nunca nos esqueçamos nem que esse destino só continuará nosso enquanto mantivermos sob controle os que no-lo querem roubar, nem nos esqueçamos por um só momento dos que, enquanto vos escrevo, são bombardeados, exilados e assassinados, por quererem o mesmo que nós temos.

A nossa Europa só terá futuro se formos capazes de a construir em Paz e em Liberdade. Caberá a cada um de nós encontrar a melhor forma de dar o nosso contributo, e de transmitir estes valores primordiais às novas gerações, para que não termos que ver os nossos filhos e netos em trincheiras, a dar a vida pelo que temos como garantido.

Viva o 25 de Abril!

Viva a Liberdade!