Wet Leg. “Não queremos estar sujeitas aos padrões da música pop perfeita”

Com contagiantes músicas como Chaise Lounge ou Wet Dream, as Wet Leg são um dos mais recentes fenómenos da música inglesa.

Uma das novas coqueluches da música indie rock britânica, as Wet Leg, banda constituída por Rhian Teaslade e Hester Chamber, pode não ser um nome familiar para todos, mas os seus contagiantes singles, como Chaise Longue ou Wet Dream, já foram ouvidos por dezenas de milhares de fãs ainda antes do duo ter dado sequer o seu primeiro concerto.

Em entrevista, a banda inglesa falou sobre o lançamento do seu primeiro disco, homónimo, editado no dia 8 de abril, a sua ascensão meteórica, como as redes sociais ajudaram à divulgação da sua música e como tem aprendido a lidar com fãs… estranhos. 

 

A vossa banda é bastante recente e começou a surgir nos ouvidos do público há pouco tempo, por isso, gostava de ter algum contexto sobre o vosso grupo. Como é que se conheceram?

Rhian Teasdale: Conhecemo-nos quando estávamos na Faculdade, devíamos ter uns 18 anos. No início do nosso percurso académico não falávamos muito, mas, com o passar do tempo, depois de termos acabado o curso, começámos a conhecer-nos melhor e decidimos que queríamos fazer música juntas.

Quando se conheceram, a música foi um tópico importante na vossa relação?

Rhian Teasdale: Sem dúvida. Não sei como é no teu caso, mas com os meus amigos todos eles amam música e têm uma relação muito forte. Nem sempre é a melhor abordagem, mas quando conheço alguém novo tudo o que falo com eles é sobre música, por isso, foi definitivamente algo que nos fez aproximar uma da outra.

Quando é que decidiram que queriam colaborar num projeto juntas?

HC: Há muito tempo que fazíamos música, mesmo antes de entrar na faculdade, mas só decidi que gostava de trabalhar com a Rhian depois de a ver a atuar nalguns concertos.

RT: Lembro-me muito bem dessa fase. Às vezes contratavam-nos para atuarmos na mesma noite, mas em bandas diferentes.

HC: Por acaso, houve uma vez que acabámos por tocar juntas, era apenas eu na minha guitarra e a Rhian no seu piano…

RT: E o meu namorado também estava a acompanhar-nos, acho que esse foi o meu primeiro concerto… que coincidência.

Foi nessa altura que decidiram que iriam criar as Wet Leg?

RT: Ainda demorou algum tempo até chegarmos a essa fase. As Wet Leg foram formadas há coisa de três ou quatro anos atrás. Estava a trabalhar em algumas músicas a solo, mas odiava todo esse processo. Era muito aborrecido aparecer sozinha no soundcheck, conduzir sozinha até ao fim do Planeta Terra só para dar um concerto (risos). Era uma experiência solitária e cheguei a equacionar parar, mas, como estava dentro deste ritmo e ainda tinha alguns concertos marcados, decidi honrar este compromisso, mas, assim que terminassem, seria o final da minha carreira musical. Mas mesmo assim era um fardo que não estava a conseguir carregar sozinha, felizmente, a Hester apareceu e começou a colaborar comigo e, no fim, depois de participarmos em vários pequenos festivais por todo o Reino Unido, percebemos que foi muito divertido estarmos a fazer música juntas e decidimos que iríamos unir os nossos esforços e tocar algo completamente diferente, algo que nunca tínhamos experimentado antes.

Qual é que foi a maior diferença nessa transição?

RT: Na altura não tocava guitarra, foi a Hester que me encorajou para podermos tocar as duas juntas.

HC: E aprendeu tão rapidamente, foi um orgulho (risos).

RT: E quando nos sentimos mais confortáveis para criar música juntas foi quando decidimos criar uma banda chamada Wet Leg.

Pouco tempo depois de terem criado a banda lançam o vosso primeiro disco, porque é que decidiram lançar o disco agora?

RT: Todo este período tem sido uma completa loucura. Assim que assinámos com a nossa editora [Domino], começaram a surgir planos para começarmos a gravar o disco, ainda antes sequer de termos tido qualquer concerto. Tivemos um certo tempo morto, quando era impossível darmos espetáculos ao vivo, e aproveitámos para gravar o disco, agora, depois de termos tido oportunidade de o apresentar um pouco por todo o lado, vai finalmente ser lançado. 

Muito do sucesso recente da vossa banda deveu-se à enorme divulgação das vossas músicas através de redes sociais, acham que esta rede de partilha ajudou a criar um seguimento tão grande no início da vossa carreira?

HC: Eu diria que sim, as redes sociais podem ser um espaço de muita coisa boa e má. Tem um lado negativo em que está repleto de ódio e vibrações muito más, mas também existe um sítio mais positivo, onde podemos partilhar algo com as pessoas e, quando damos por ela, já atingiu um número enorme de pessoas. Mas para nós foi uma grande surpresa. Não diria que nenhuma de nós é muito boa nas redes sociais, temos muita sorte por podermos trabalhar com pessoas mais experientes na Domino que conhecem o ramo e podem ajudar-nos. 

RT: Quando começámos a ter mais seguidores fiquei com muito mais medo das redes sociais e a ficar mais desinteressada com o que se estava a passar por lá. Algumas pessoas quando começam a ter mais pessoas a acompanhar o seu trabalho ficam mais ligados às redes sociais, mas é algo muito estranho para mim.

Quando é que foi a primeira vez que se aperceberam que a vossa música era um sucesso e que estava a ser ouvida por tanta gente?

RT: Se calhar foi durante a nossa estadia em Paris e antes de virmos para Portugal. Foram os nossos primeiros concertos internacionais e correram muito bem quando comparados com os concertos que demos no Reino Unido. Podemos ter mais ondas de fãs para nos virem ver em casa, mas foi uma energia incrível ver isto a acontecer num país diferente, com fãs que conheciam as nossas músicas de cor. Foi uma experiência muito estranha.

Depois de ver alguns concertos vossos no YouTube, nomeadamente no Festival Greenman, reparei que vocês têm uma audiência muito variada, com crianças e adultos a surgirem na primeira fila. Têm noção que existe esta disparidade entre os vossos fãs e acham que esta é gerada pela forma como a vossa música existe nas redes sociais ao contrário de meios tradicionais? 

RT: A maior parte dos concertos que demos eram todos para maiores de 18 anos, mas nesse caso foi um exemplo muito feliz porque não existiam restrições de idades. É uma pergunta difícil de responder, no nosso caso, porque a maior parte dos nossos concertos tem tido essas restrições. 

E alguma vez adaptaram alguma música para existir neste tipo de plataformas? Por exemplo, existem muitos músicos que estão a criar músicas mais pequenas para que estas possam ter mais sucesso no TikTok.

HC: Nós gostamos imenso de músicas pequenas, mas não diria que existe uma razão maior que essa para as fazermos assim.

RT: As nossas músicas não surgem de ideias pré-fabricada, não queremos estar sujeitas aos padrões da música pop perfeita. O tempo ideal da indústria para uma música pop são 3 minutos e 30 segundos, é o que se diz, mas acho que se quisermos fazer uma música mais curta ou mais longa não temos nenhum tipo de problema. 

Quando ouço as vossas músicas deteto algumas influências muito interessantes, desde o movimento das riot grrrl, algumas influências mais modernas do post-brexit punk. Quais foram as principais influências deste projeto?

RT: Quando começámos este projeto nunca pensámos em soar a alguém em específico. Queríamos antes pegar em várias influências e tentar criar algo novo. Às vezes até existem alguns sons que de forma subconsciente acabam por tingir as nossas canções. Nós crescemos a ouvir muito neo-folk, quando tínhamos 17 anos, mas, pelo menos pessoalmente, também ouvia muitas bandas rock como os The Strokes, os Black Rebel Motorcycle Club, os Black Keys ou os Kings of Leon. No fundo, a minha expressão acabou por incorporar todos esses elementos, do rock mais distorcido, com influências de cantautores, mas de uma forma que fosse divertida de tocar ao vivo.

Uma banda em particular que vocês me fizeram lembrar foram as Le Tigre, especificamente pelo vosso sentido de humor sarcástico e irónico. Este é um elemento importante na composição de canções?

RT: O humor é importante em toda a nossa vida. Por isso, de certa forma, acaba por afetar a forma como escrevemos as nossas músicas. 

Também tem vídeo-clips muito engraçados, como é o caso da Oh No, onde aparecem inúmeros comentários depreciativos do YouTube. Foi também uma forma de exorcizarem as pessoas que duvidam do vosso trabalho?

RT: Decidimos fazer uma seleção de todos os comentários negativos nos nossos vídeos. Alguns eram extremamente destrutivos, alguns eram positivos, mas alguns eram apenas muito estranhos. Lembro-me de alguém comentar “molhem-me a perna” (risos). Lembro-me de falar com a Hester sobre como não interagimos muito com os nossos fãs, então ficamos sempre impressionadas com a energia que algumas pessoas gastam a tentar desconcertar-nos e acabam por escrever coisas na internet como “molhem-me a perna”. Não tenho como hábito falar com as pessoas dessa forma na internet, por isso é um mundo muito estranho. Até mesmo com alguns comentários positivos que às vezes recebemos, não é por esse tipo de interação que estamos a criar música. Para nós tem sido uma experiência muito catártica digerir todos os comentários positivos, negativos e até os mais estranhos.