Macron em vantagem no debate, mas a vitória não está garantida

Depois do último debate antes da segunda volta das eleições francesas, Macron está à frente nas sondagens. Contudo, a vitória não está garantida, com Le Pen a revelar uma evolução positiva desde 2017.

Naquele que foi um dos últimos testes antes da segunda volta das eleições presidenciais francesas, que vai levar, novamente, os eleitores às urnas este domingo, o atual Presidente, Emmanuel Macron, enfrentou a candidata de extrema-direita, Marine Le Pen, num debate televisivo e, segundo as sondagens, terá saído por cima.

Uma repetição do debate de 2017, que viu os mesmos candidatos a lutar para conquistar o cargo de Presidente na segunda volta das eleições, Macron e Le Pen debateram durante cerca de três horas sobre os mais variados assuntos, nomeadamente, a economia do país, com a custo de vida a ser um dos assuntos centrais da discussão, questões sociais, como a entrada de imigrantes ilegais no país, e ideologias, discutindo se o hijab (véu islâmico) deve ou não ser banido.

Depois de se ter recusado a comparecer noutros debates, Macron não demorou a “atacar” a sua opositora, apontando para as ligações de Le Pen com o Presidente russo, Vladimir Putin, um dos principais responsáveis pela atual guerra na Ucrânia, referindo o empréstimo de 9 milhões de euros feito ao partido da União Nacional em 2014 de um banco com origens na República Checa e Rússia, afirmando que esse facto tornava Le Pen “inadequada para lidar com Moscovo”.

“Quando fala da Rússia está a falar do seu banqueiro, esse é o problema”, disse Macron. “Não pode defender corretamente os interesses da França neste assunto porque os seus interesses estão ligados com pessoas próximas do poder russo”.

O Presidente francês mencionou ainda o plano da candidata de extrema-direita para proibir todas as mulheres muçulmanas de usar o hijab, afirmando que esta medida poderia provocar uma “guerra civil” nos subúrbios franceses.

O Le Monde comparou a atitude do Presidente francês com a de uma jiboia, no sentido em que “sufocou lentamente o seu oponente até à morte”, escreve o Guardian. 

A atitude de Le Pen, mesmo tendo sido considerada a derrotada da noite, acabou por ser elogiado, especialmente pela evolução desde o debate de 2017, apresentando-se mais calma e ponderada ao contrário da campanha passada quando “se mostrou perdida em relação a assuntos económicos importantes, recorrendo constantemente com notas excessivamente volumosas e, para encobrir o seu crescente embaraço, recorria a risos estranhos e desconcertantes”, escreveu a BBC.

A candidata de extrema-direita procurou desmentir as ligações a Moscovo, descrevendo-se como totalmente livre, apelando aos votos dos eleitores que enfrentavam dificuldades devido à subida de preços durante a guerra entre a Ucrânia e Rússia, afirmando que, no caso de se tornar a primeira mulher Presidente de França, a sua primeira medida seria baixar o custo de vida.

Le Pen acusou Macron de dividir o país, mencionando os protestos dos “coletes amarelos” contra as suas medidas económicas, e afirmou que esta é a candidatura ideal para voltar a “unir” a França. 

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, considerou que, no geral, este foi um debate satisfatório: “Se a campanha presidencial em si foi dececionante, aqui foi possível determinar que é possível escolher dois tipos diferentes de líderes para a França, com duas visões distintas”, disse Darmanin ao Europe 1.

Conquistar o eleitorado de esquerda Após o debate, visto por cerca de 15,6 milhões de franceses, menos de um milhão de espetadores, quando comparado aos números de 2017 (apesar de não contar com as pessoas que viram o debate online), o centro de investigação Elabe concluiu, através de um estudo, que 59% acharam Macron mais convincente em comparação com 39% de Le Pen.

Um dos dados mais relevantes desta sondagem, foi descobrir que entre os apoiantes questionados do líder de esquerda, Jean-Luc Mélenchon, que ficou em terceiro na primeira volta com cerca de 20% dos votos (cerca de 7,7 milhões de eleitores), um eleitorado que pode decidir o destino deste novo exercício democrático, 61% ficaram convencidos com os argumentos convincentes de Macron contra 36% de Le Pen. 

Contudo, é complicado perceber o que poderão representar estes números, uma vez que, este domingo, um inquérito concluiu que 67% dos apoiantes do partido França Insubmissa de Mélenchon revelou que não iria votar ou votar em branco ou nulo na segunda volta das eleições.

O líder da esquerda radical francesa apelou ao seu eleitorado para que “não dê um único voto” a Marine Le Pen, mas continuou a não apoiar diretamente Macron.

Apesar da incerteza dos eleitores de esquerda, as sondagens continuam a dar a vitória a Macron, mesmo que seja mais à justa face a 2017, com 55,5% das intenções de voto na segunda volta e uma margem de erro de 3,3 pontos.