Filipe VI de Espanha, um dos monarcas “mais pobres” do mundo

Rei de Espanha, Felipe VI revelou toda a extensão da sua fortuna: é uma mais modestas entre as da realeza mundial.

Numa tentativa de introduzir uma maior transparência na coroa espanhola, o Rei Filipe VI revelou pela primeira vez a sua fortuna pessoal. O património, onde estão incluídas antiguidades, joias, mas nenhuma propriedade imobiliária, equivale a um total de cerca de 2,6 milhões de euros.

Esta revelação chega depois de o governo liderado por Pedro Sánchez, que ainda tem bem presente o caso dos escândalos do pai de Filipe VI, o Rei Emérito Juan Carlos, exilado nos Emirados Árabes Unidos desde agosto de 2020 depois de diversas acusações de corrupção, ter anunciado que iria aprovar um decreto para “fortalecer a transparência, a responsabilidade e a eficiência” da família real.

“Hoje, mais do que nunca, os cidadãos exigem com toda a razão que os princípios morais e éticos inspirem e o exemplo presida a nossa vida pública”, declarou o Rei, citado pela Reuters.

Pouco menos de 2,3 milhões de euros dos bens do Rei são atribuídos a contas correntes ou poupança e títulos, enquanto o restante valor, numa quantia superior a 305 mil euros, diz respeito a arte, antiguidades e joias.

No comunicado publicado pela Casa Real espanhola é ainda especificado que os mais de 4,3 milhões de euros que Filipe VI acumulou ao longo dos últimos 25 anos foram tributados e utilizados para pagar despesas pessoais, como o custo do internato da sua filha, Leonor, a Princesa das Astúrias, no País de Gales.

Este milhões resultam maioritariamente da “remuneração que recebeu dos orçamentos da Casa de S.M. o Rei, ao longo dos últimos 25 anos – primeiro como Príncipe das Astúrias, a partir de 1998, e depois como Rei, desde 2014”. O seu ordenado é de cerca de 253 mil euros anuais brutos.

Já a rainha Letizia recebe uma remuneração anual de cerca de 140 mil euros, enquanto a sua mãe tem direito a um salário de 117 mil euros por ano. O Rei Emérito deixou de receber estes benefícios da família real por decisão do próprio filho, Filipe VI.

Contudo, algo que despertou a atenção de diversos observadores foi a questão de não ser mencionada qualquer propriedade ou imóvel, algo que se justifica pelo facto de Filipe VI ter renunciado a toda a herança que deveria ter recebido de Juan Carlos, enquanto propriedades como o Palácio Real fazem parte do Estado espanhol.

Felipe VI subiu ao trono em 2014, depois do seu pai ter abdicado do cargo devido aos escândalos de fraude fiscal, e, desde então, tem dedicado os seus esforços para modernizar e moralizar a monarquia, distanciando-se dos escândalos que envolveram o seu pai e o seu cunhado, Iñaki Urdangarín, que foi condenado a seis anos e três meses de prisão por prevaricação, fraude e tráfico de influência, no âmbito do caso Nóos.

“Sua Majestade o Rei, guiado por este espírito de serviço e compromisso cívico, acrescentou hoje às suas responsabilidades constitucionais a sua decisão pessoal de tornar públicos os seus bens”, refere o comunicado.

A postura do atual Rei espanhol tem-lhe valido novos seguidores. Segundo uma investigação conduzida pelo jornal espanhol El Espanol, em 2020, 64% da população via com bons olhos o reinado de Felipe VI, notando ainda um aumento considerável na popularidade entre a geração mais jovem, algo que surge da perceção que o público tem do monarca enquanto homem de família.

Fortuna real na Europa Apesar de muitas famílias reais terem os seus gastos e fortunas envoltos em secretismo, depois da revelação do Rei espanhol surgiram comparações com outros monarcas europeus, com jornais como o Telegraph a classificarem Filipe VI como um dos “monarcas mais pobres da Europa”. 

Comparado, por exemplo, com a Rainha de Inglaterra, Isabel II, que, segundo a lista de pessoas mais ricas do Reino Unido do Sunday Times, tem uma fortuna avaliada em cerca de 437 milhões de euros, o monarca espanhol tem apenas uma “pequena fortuna”.

A Rainha, de 96 anos, é ainda proprietária da Sandringham House e do Castelo de Balmoral e recebe 15% dos lucros do portfólio de propriedades da Crown Estate, que está atualmente avaliada em cerca de 16,8 mil milhões de euros, incluindo grandes áreas no centro de Londres e cerca de 400 mil hectares de terras rurais no Reino Unido (o equivalente a cerca de 560 mil relvados de futebol), escreve o Sunday Times.

Apesar do valor exato da coleção de arte e das joias da Rainha ser desconhecido, o valor dos objetos guardados na Royal Collection – que inclui as joias da Coroa, cerca de 7 mil pinturas, incluindo uma coleção única de 600 desenhos de Leonardo da Vinci avaliados em 3,7 mil milhões de euros, 500 mil gravuras e milhares de fotografias, cerâmicas, esculturas e manuscritos – estima-se em cerca de 14 mil milhões de euros, afirma o Guardian.

Outro impressionante ativo da realeza britânica é a coleção de selos reais (ou Royal Philatelic Collection) que valorizou ao ponto de estar avaliado em cerca de 120 milhões de euros desde que foi criada em 1864.

Mas o cargo de realeza também acarreta despesas, nomeadamente a “doação soberana” anual do governo do Reino Unido de cerca de 98 milhões de euros para ajudar a pagar despesas como viagens reais e manutenção de residências como o Castelo de Windsor e o Palácio de Buckingham.

Segundo o Telegraph, o património do Rei de Espanha está mais próximo do de monarcas de países como o Lesoto ou Butão, enquanto o Rei mais rico do mundo é Vajiralongkorn da Tailândia, com uma fortuna avaliada em cerca de 40 mil milhões de euros. Segue-se o sultão do Brunei (cerca de 20 mil milhões de euros) e o Rei da Arábia Saudita (15 mil milhões) fecha o pódio.