Sem surpresas: PIB cresce 11,9% no 1º trimestre

Especialistas ouvidos pelo Nascer do SOL consideram os valores positivos mas acenam com os efeitos futuros da inflação, que terá chegado aos 7,2% em abril , e da guerra.

Sem surpresas: PIB cresce 11,9% no 1º trimestre

Por Daniela Soares Ferreira e Sónia Peres Pinto

O Produto Interno Bruto (PIB) português, em termos reais, registou um crescimento homólogo de 11,9%, nos primeiros três meses do ano. Os dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) dizem que esta evolução «reflete, em parte, um efeito de base dado que, em janeiro e fevereiro de 2021, estiveram em vigor várias medidas de combate à pandemia que condicionaram a atividade económica». Segundo o gabinete de estatística, neste período cresceu o contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB «destacando-se o crescimento mais acentuado do consumo privado». 

E lembra que o contributo positivo da procura externa líquida para a variação homóloga do PIB também cresceu «verificando-se um abrandamento em volume das importações de bens e serviços e uma ligeira aceleração das exportações de bens e serviços, refletindo a recuperação da atividade turística». Ainda no período em análise, «a perda nos termos de troca foi mais intensa do que nos três trimestres precedentes, em resultado do crescimento pronunciado do deflator das importações». 

Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, diz ao Nascer do SOL que este valor é «bastante positivo e releva uma procura interna resiliente, nomeadamente o consumo privado». E acrescenta que a procura externa líquida «também aumentou devido ao abrandamento do volume das importações de bens e serviços e a uma ligeira aceleração das exportações, nomeadamente do turismo».

Já Mário Martins, analista da ActivTrades, garante que o resultado era expectável «tendo em conta que no início de 2021 existiram medidas de contenção da pandemia de Covid que condicionaram a atividade económica, levando a uma contração de 5.4% no PIB no primeiro trimestre do ano passado, além de que era igualmente previsível o aumento do contributo do turismo já nestes primeiros meses de 2022, um vento favorável que deverá manter-se nos próximos dois trimestres».

Questionado sobre o que terá levado a este crescimento, Paulo Rosa destaca o gradual  levantamento das restrições que impulsionaram a procura interna e o turismo em território nacional. «Os incrementos nestas duas importantes variáveis do crescimento económico português conseguiram compensaram, e muito, a considerável subida dos combustíveis e dos cereais no final do trimestre em resultado da invasão da Ucrânia pela Rússia».    

Em relação ao futuro, Paulo Rosa fala dos efeitos da invasão russa na Ucrânia que «muito provavelmente», podem vir a agravar-se «e fazer-se sentir já no atual trimestre, e um abrandamento da procura interna poderá ser uma realidade, mas a contribuição do turismo deverá continuar a crescer com o final da pandemia, e números ainda mais positivos são esperados e deverão ser visíveis sobretudo no verão».

Ao Nascer do SOL, sobre este assunto, Mário Martins diz que «apesar de alguns pontos favoráveis nos próximos trimestres, como o turismo, dificilmente a economia nacional conseguirá suportar sem quebras a subida vertiginosa da inflação, bem como dos constrangimentos a vários níveis provocados pela guerra na Europa, assim como da subida dos juros por parte do BCE, provavelmente já neste verão».

E realça que a maior economia do mundo, os EUA, reportaram esta semana uma queda de -1,4% no primeiro trimestre contra as previsões de um crescimento de 1%, acresce que a segunda maior economia do mundo, a chinesa terá o seu crescimento restringido devido aos confinamentos das últimas semanas, bem como do aumento do custo da energia.

Comparando com o trimestre anterior, o PIB cresceu 2,6% em volume, tendo sido verificado «um contributo mais positivo da procura interna para a variação em cadeia do PIB, em parte motivada pela aceleração do consumo privado, enquanto o contributo da procura externa líquida se manteve ligeiramente positivo». 
Também os preços continuam a disparar no país. A taxa de variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) terá aumentado para 7,2% em abril, um aumento muito superior face aos 5,3% registados em março. Este é o valor mais elevado registado desde março de 1993. 

O organismo estima ainda que a taxa de variação homóloga do índice relativo aos produtos energéticos se situe em 26,7% (19,8% no mês precedente), valor mais alto desde maio de 1985, enquanto o índice referente aos produtos alimentares não transformados terá apresentado uma variação de 9,5% (5,8% em março). 

Leão deixa excedente 
Estes dados surgem, numa altura, em que o ministério das Finanças revelou que a execução orçamental em contabilidade pública registou um excedente de 672 milhões no primeiro trimestre face a igual período do ano passado, «período em que a atividade económica foi fortemente afetada por um confinamento geral», o saldo melhorou 3071 milhões. «Tendo por comparação o primeiro trimestre 2019, ainda sem efeito da pandemia, o saldo degradou-se em 170,5 milhões de euros», revelou.

A evolução nos primeiros três meses, altura ainda liderada por João Leão, «traduz a melhoria da atividade económica e do mercado de trabalho bem como a redução dos encargos associados às medidas de prevenção e combate da covid-19 em face da melhoria verificada na situação pandémica». 

De acordo com os mesmos dados, a receita cresceu face a 2021 (+15,4%) e registou-se uma ligeira redução da despesa (-0,5%). «Excluindo o efeito da despesa associada à covid-19, a despesa primária cresceu 3% em termos homólogos». Já o saldo primário, que exclui juros da equação orçamental, foi positivo em 2360 milhões.
A receita fiscal e contributiva aumentou 15,2% face ao primeiro trimestre 2021, destacando-se o contributo da receita fiscal (18,4% face a 2021 e 6,4% face a 2019) em particular a recuperação do IVA (+24,6%), «que evidencia a recuperação económica dos últimos meses», acrescentando que também se destaca o efeito do Plano de Recuperação e Resiliência para o acréscimo de 15,6% em receita de transferências de capital. Do lado da despesa assistiu-se a uma redução de -0,5% face a 2021, nas nos gastos do SNS foi registado um acréscimo de 8,4% em termos homólogos, destacando-se a componente de aquisição de bens e serviços (+16,6%). Também as despesas com salários nas administrações públicas cresceram 3,9%, destacando-se a evolução no SNS (+5,1%) e no pessoal docente dos estabelecimentos de ensino não superior (+4,9%), «refletindo o impacto do aumento no número de contratações, aumentos salariais e das valorizações remuneratórias».