O PSD é uma horta de nabos e nabiças

A primeira lição que os nabos e as nabiças do PSD deveriam aprender é o conceito de Verdade. Desde que Pilatos colocou a questão filosófica a Jesus – o que é a verdade? – que a humanidade discute esta complexa questão. Mas na política portuguesa a resposta é muito simples: os portugueses não estão interessados…

por João Cerqueira

O PSD pós Passos Coelho é o partido mais nabo da democracia portuguesa. Aliás, o próprio Passos, não esquecendo o mérito de ter resgatado o país de uma bancarrota, cometeu grandes nabices na forma como comunicou aos cidadãos as medidas duras que foi forçado a tomar. Ainda assim, ganhou as eleições. Os que vieram a seguir, nunca mais ganharam nada – e arriscam-se a continuar perdedores.

Rui Rio conseguiu tomar as decisões mais erradas da história do partido. Desde a recusa a fazer oposição ao Governo e se aliar ao CDS, à tentativa de ser um clone do PS, não acertou uma. É verdade que venceu os debates com António Costa e apresentou um argumento irrebatível na discussão sobre a Saúde e a Educação – se os privados conseguem prestar melhores serviços a um preço mais barato, então o serviço público terá que conseguir fazer o mesmo –, mas tal não foi suficiente para impedir uma derrota estrondosa.

Depois desta humilhação, os próximos dirigentes do PSD deveriam fazer como os japoneses fizeram nos anos oitenta e os chineses estão agora a fazer: aprender com quem sabe e copiar. Benchmarking. E quem sabe de política em Portugal é o PS.

A primeira lição que os nabos e as nabiças do PSD deveriam aprender é o conceito de Verdade. Desde que Pilatos colocou a questão filosófica a Jesus – o que é a verdade? – que a humanidade discute esta complexa questão. Mas na política portuguesa a resposta é muito simples: os portugueses não estão interessados nisso – sobretudo se a verdade for desagradável de ouvir. Porque se a verdade lhes interessasse, Manuela Ferreira Leite teria vencido José Sócrates. Ela avisou que o país caminhava para o abismo, ele garantiu que estávamos no bom caminho. Em vez da verdade, os eleitores preferiram um conto de fadas de sucesso económico que acabou numa bancarrota.

Infelizmente para o PSD, dizer a verdade sobre o atraso económico de Portugal e demonstrar que o PS é o principal responsável por essa estagnação não resulta. Resulta noutros países mais a norte, deu votos à IL, mas não impediu a derrota. Assim sendo, é preciso prometer um futuro radiante de felicidade laranja e – palavras mágicas – apoios e aumentos. Portugal é o país dos apoios sociais, dos apoios culturais, dos apoios empresariais, dos apoios aos jornais, dos apoios excecionais, dos apoios a isto e àquilo. Toda a gente precisa de um apoio, a começar pelo próprio Estado que não sobreviveria sem os apoios europeus, e toda a gente exige um aumento.

Depois de ter sido o Pai Tirano dos cortes, o PSD terá de se tornar na Mãezinha de todos os apoios e aumentos. Nos próximos anos, terá de repetir vezes sem conta que se chegarem ao poder não vão cortar nada a ninguém, nem privatizar seja o que for. Se Catão terminava cada discurso dizendo «e devemos destruir Cartago», os nabos laranjinhas devem terminar cada intervenção dizendo «e não vamos fazer cortes nenhuns, não se assustem!».

E quem irá pagar a conta? A essa pergunta, nabinhos laranja, devem dar uma resposta socialista: como dizia Ana Bola na rábula A mulher do Sr. Ministro, «alguém há de pagar».

Se o PSD seguir o conselho grego de se conhecer a si próprio, só poderá concluir que é um gigantesco, gordo e inútil nabo. No entanto, também talvez descubra outras coisas importantes. Por exemplo, quem é o seu inimigo. E o inimigo da Laranja é a Rosa – mais ninguém.

Ora se a política é a continuação da guerra por outros meios, os nabos e as nabiças do PSD deverão preparar-se para abater o seu inimigo – tal como o PS os têm vindo a abater desde a troika com mira telescópica. Se lerem os jornais, irão decerto descobrir todas as semanas um alvo fácil: negócios obscuros, contratos públicos ruinosos, favorecimento de familiares, a gasolina, a TAP, etc.

Por fim, vem o Chega. Filho bastardo do sistema político nacional, tendo como mãe o PS e pai os restantes partidos, o Chega é o partido das pessoas revoltadas que encontraram em Ventura alguém que diz em público o que elas pensam. E o que o povo pensa nem sempre é simpático, nem obedece às regras do politicamente correto.

Com o apoio dos media, o PS decretou que o PSD não podia fazer alianças com o Chega – porque o Chega critica os ciganos. A autarquia socialista de Leiria isolou em 2019 a comunidade cigana com um muro, mas isso não era grave. Os muros caem, as vacas voam, os ciganos não decidem eleições. Grave, gravíssimo, é criticar. Nesta lógica, eles, sim, podiam aliar-se com partidos que apoiam ditaduras e renegam os valores europeus, mas o PSD não podia aliar-se com um partido reconhecido pelo Tribunal Constitucional que não tem como modelo tiranias e que condenou a Rússia pela invasão da Ucrânia.

Linhas vermelhas para o PSD, via verde para o PS.

Ora os nabos e as nabiças do PSD devem deixar de obedecer às ordens do PS e deixar de ter medo de jornalistas que fazem propaganda rosa. O discurso anti-Chega – cujo reverso é a defesa do BE e PCP – faz emergir pretorianos da democracia em cada esquina, é um bom tema para o chá das cinco, mas nada significa para o eleitorado que decide as eleições.

Portanto, os nabos e as nabiças laranjinhas devem olhar para o Chega como um aliado temporário para chegar ao poder. E depois, se tiverem a habilidade de António Costa, desfazem-se do aliado, fazem um teatrinho de vitimização como se viu na recente campanha eleitoral, e talvez conquistem uma maioria absoluta.