Só Espanha cresce menos que Portugal até 2027

O Fórum para a Competitividade dá ainda cartão vermelho à forma como Portugal está a gastar os fundos do PRR.

O nosso país diverge da União Europeia até 2027 e só Espanha tem comportamento pior. O alerta é do Fórum para a Competitividade e diz ainda que “pior é que crescemos menos de metade do que a maioria destes países, alguns dos quais até já nos ultrapassaram. O mau desempenho é especialmente grave porque os países de Leste devem ser dos Estados mais afetados pela guerra”. 

E lembra que o FMI foi a primeira grande instituição a divulgar novas previsões após a invasão da Ucrânia, mais pessimistas do que as previsões individuais que vinham sendo apresentadas. O crescimento mundial deve desacelerar de 6,1% em 2021 para 3,6% em 2022 e em 2023, menos 0,8 e menos 0,2 pontos percentuais, respectivamente, que o projectado em Janeiro. A inflação deve permanecer alta durante mais tempo, devido ao impacto da guerra sobre os preços dos combustíveis e produtos agrícolas.

O Fórum para a Competitividade dá ainda cartão vermelho à forma como Portugal está a gastar os fundos do PRR. E recorda que de acordo com a informação prestada pela Estrutura de Missão “Recuperar Portugal” , que acompanha a execução do PRR, a 6 de Abril, encontravam-se assinados 100% do valor em contratos dos três segmentos: Resiliência, Transição Climática e Transição Digital. No entanto, ainda só foram feitos pagamentos de 1600 milhões de euros (9,6% do total), dos quais apenas 489 milhões a Beneficiários Directos e Finais (2,9% do total), enquanto os restantes 1111 milhões ainda estão em trânsito em Beneficiários Intermediários. Tem ainda que se assinalar que daqueles 489 milhões de euros, 93,6% foram pagos a entidades do sector público. 

"O argumento do Governo de que, em última instância, os beneficiários são as empresas privadas não colhe, por duas razões: 1) porque, em muitos casos, não é verdade; 2) porque o tipo de empresas privadas beneficiadas indirectamente são, sobretudo, as produtoras de bens não transaccionáveis, quando o que precisamos de expandir é o sector transaccionável", acrescentando que o "mais grave é a ideia – profundamente errada – de estimular a procura interna. Se o PRR for um mero estímulo da procura, pode acelerar o processo de atingir o pleno emprego, mas não terá qualquer impacto no aumento do potencial de crescimento da economia. Relembremos que, entre 1995 e 2011, não houve falta de procura, pelo contrário. Nesse período, o que houve foi fraco crescimento e uma explosão da dívida externa que nos levou à “troika”. Como é que se pode pensar que um PRR dirigido em mais de 90% ao sector público, que apenas representa cerca de 15% do emprego, pode servir para acelerar o crescimento e convergir com a UE? Por tudo isto, insistimos na necessidade de os novos fundos do PRR corrigirem este problema".