Casos de covid voltam a subir também nos idosos. Portugal já detetou BA.5

Portugal já detetou uma das linhagens que estão a fazer soar alertas. “É preciso ter atenção ao impacto nos mais idosos”, diz ao i  Óscar Felgueiras. 

Os diagnósticos de covid-19 voltaram a aumentar nos últimos dias, um sinal que já vinha da semana passada e que agora é mais robusto. Esta terça-feira, Portugal voltou a registar perto de 15 mil novos casos de covid-19, o balanço mais elevado desde 17 de fevereiro. Nos últimos sete dias, há um aumento de 35% nos diagnósticos face à semana anterior, mesmo com o país agora a testar menos. Ao i, o matemático Óscar Felgueiras, que acompanha a monitorização da epidemia e integra os grupos de trabalho que dão apoio ao Governo na gestão da pandemia, adianta que esta subida de casos aparenta estar relacionada com o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras na maioria dos espaços fechados a 23 de abril, com a qual coincide temporalmente. “É algo expectável e nesta fase acima de tudo há que ter em atenção o impacto nos mais idosos”, sublinha.

A preocupação resulta do facto de o aumento de infeções estar de novo a ser transversal a todas as faixas etárias, “o que em princípio fará também aumentar a mortalidade”, admite o matemático, professor na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. A Direção Geral da Saúde deixou de divulgar ao público os dados desagregados por faixa etária, mas até aqui sempre que aumentam as infeções seguiu-se um aumento da mortalidade. Nas últimas semanas, mesmo com a descida e estabilização do número de infeções, Portugal ainda não atingiu o limiar apontado inicialmente como meta para o levantamento das restrições: haver menos de 20 mortes associadas à covid-19 por cada milhão de habitantes no espaço de 14 dias. O indicador definido pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças implica que se registem diariamente menos de 15 mortes associadas à covid-19, o que tem acontecido pontualmente. A mortalidade associada à covid-19 esta primavera tem estado de resto muito acima da que se verificou no ano passado. No último mês de abril, houve cinco vezes mais óbitos atribuídos à covid-19 do que em abril de 2021. O reforço da imunidade dos maiores de 80 com a quarta dose da vacina está previsto para o final do verão, antes do outono, mas a diretora-geral da Saúde já admitiu que caso se verifique um aumento de casos e do seu impacto, poderá ser antecipado.

“É um facto que não há um impacto hospitalar significativo ao nível dos internamentos mas, ainda assim, tendo em conta que a positividade está no valor máximo desde o início da pandemia, a situação atual merece alguma atenção”, diz Óscar Felgueiras.

Nova linhagem cresce em portugal

Acrescem agora os alertas sobre duas novas linhagens da Omicron, ligadas a uma nova vaga de infeções na África do Sul, no final de 2021 o primeiro país a confrontar-se com a maior transmissibilidade da nova variante. Numa semana, os casos triplicaram, o que foi associado à circulação das linhagens BA.4 e BA.5, que parecem ter assim maior potencial para escapar à imunidade.

O último relatório semanal sobre a diversidade genética do SARS-CoV-2 em Portugal, publicado esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, mostra que Portugal detetou pela primeira vez a BA.5 no fim de março, tendo representado 4% dos casos na semana que acabou a 24 de abril. O instituto nota no entanto que a monitorização que é feita em tempo real com base na falha do gene S, como acontecia na linhagem original da Omicron, permite estimar que a circulação da BA.5 em Portugal seja já “consideravelmente superior”. Por outro lado, não foi detetado nenhum caso de BA.4.

Nos EUA, com estas linhagens em 14 estados, nota-se também um aumento de infeções e, na Austrália, com o inverno à porta, o aparecimento destas variantes está também a suscitar apreensão, numa altura em que, como cá, as precauções da população baixaram. “Isto é real e está a acontecer agora”, alertou, no Twitter, o epidemiologista australiano Adrian Esterman, apelando a que a população volte a usar máscaras.