novobanco. Mark Bourke substitui António Ramalho num virar de página

Mark Bourke, atual administrador financeiro, é o nome escolhido pelos americanos da Lone Star para substituir António Ramalho na liderança do novobanco. Novo conselho de administração sobe para sete membros e já foram submetidos para serem avaliados pelos reguladores. 

O irlandês Mark Bourke foi o nome escolhido para substituir António Ramalho na liderança do novobanco. De acordo com a instituição financeira, Bourke foi considerado “o candidato ideal” por ter “mais de 20 anos de experiência como administrador executivo (em funções de CEO e de CFO) em instituições financeiras reguladas”, pela sua “experiência e conhecimento significativo do mercado e sistema bancário português, adquiridos como CFO nos últimos três anos do novobanco”, e devido às suas “competências e experiência necessárias para liderar o novobanco nesta próxima fase de desenvolvimento”.

A instituição financeira disse ainda que o Conselho Geral e de Supervisão (CGS) escolheu para administrador financeiro Leigh Bartlett, diretor executivo do Masthaven Bank desde 2020. O novobanco disse ainda saber que o número de membros do conselho de administração executivo vai passar de seis para sete, com a criação de um novo cargo executivo de Chief Credit Officer e revelou que já submeteu toda a informação relevante da nova administração ao Banco de Portugal e ao Banco Central Europeu para aprovação.

A equipa liderada por Mark Bourke iniciará um novo mandato até 2025, não havendo continuidade do que foi iniciado por António Ramalho. “Por existirem dois novos membros do conselho de administração executivo e pelo facto de as funções e responsabilidades de dois atuais membros mudarem substancialmente, deveria existir um novo mandato de quatro anos”, justificou o CGS.

Esta alteração foi anunciada depois de o banco ter duplicado os lucros no primeiro trimestre do ano, passando de 70,7 milhões para 142,7 milhões de euros. De acordo com a instituição financeira, “o desempenho da atividade está em linha com as expectativas, apresentando pelo quinto trimestre resultados positivos”, referindo que “apresenta melhorias de desempenho financeiro apesar do atual contexto macroeconómico caracterizado por pressões inflacionistas e consequente volatilidade das taxas de juro.

O banco ainda liderado por António Ramalho revelou que esta evolução “se justifica pela melhoria do produto bancário (um aumento 36,9 milhões) e pelo menor nível de imparidades e provisões (-64,7%, ou seja, uma redução de 40 milhões). Em março deste ano, António Ramalho garantiu ao nosso jornal que 2021 tinha sido o ano do virar de página e de rentabilidade positiva: “Um ano de marcos históricos, com o regresso aos mercados financeiros, uma nova marca e do novo modelo de distribuição. Os quatro trimestres de lucros consecutivos revelam um crescimento sustentável do modelo de negócio, para continuar a apoiar as empresas e as famílias portuguesas”.

Em relação ao valor solicitado ao Fundo de Resolução, relativo ao exercício de 2020, a instituição garante que “subsistem duas diferenças que resultam de divergências, entre o banco e o Fundo de Resolução, quanto à provisão para operações descontinuadas em Espanha e valorização de unidades de participação, que estão sujeitos a uma decisão arbitral”, referindo que a instituição financeira “considera estes valores (165 milhões) como devidos ao abrigo do Mecanismo de Capitalização Contingente, estando a despoletar os mecanismos legais e contratuais à sua disposição no sentido de assegurar o recebimento dos mesmos.

Desafios Desde a resolução do BES, o novobanco foi passando por vários desafios. Ativos não produtivos e passivos caros pesaram nas contas e impuseram novas exigências de capital. Em 2015, contava com uma elevada exposição a imóveis (5,2%) e o nível de crédito não produtivo – em inglês, non-performing loan ou NPL –, em 2016 fixava-se nos 33%, quando a média em Portugal era se 17% e a da União Europeia era de 5%. A missão de recuperação era quase impossível.

No entanto, tal como o nosso jornal já avançou, a a venda, as entradas de capital e a criação do Mecanismo de Capital Contingente (CCA), permitiram não só a reestruturação do passivo como a limpeza do balanço. E antes disso, as previsões de resultados foram sendo ultrapassadas num curto período de um ano.

Cronologia 

Agosto de 2014 

Surge o Novo Banco após o colapso do banco da família Espírito Santo, tendo sido aplicada uma medida nunca usada em Portugal: a resolução. A ‘nova’ instituição financeira recebeu uma injeção de 4,9 mil milhões, dos quais 3,9 mil milhões do Estado. Mas três meses antes já tinha sido alvo de um aumento de capital de 1050 milhões de euros.

Outubro de 2017 

É assinado o acordo para a venda de 75% ao fundo norte-americano Lone Star. O fundo de investimento injetou mil milhões de euros – 750 milhões no fecho do negócio e mais 250 milhões até ao final desse ano. Os restantes 25% ficaram nas mãos do Fundo de Resolução, uma medida que só foi possível porque a resolução aconteceu antes de terem sido implementadas as novas regras europeias sobre resoluções bancárias.

Maio de 2018

Depois de ter apresentado, em 2017, os maiores prejuízos da sua história (1395 milhões), o Estado é obrigado a injetar 792 milhões de euros, após ter sido forçado a acionar o mecanismo de capital contingente. Esta verba serviu para compensar as imparidades superiores a dois mil milhões de euros registadas no final do ano anterior e elevar o rácio de capital do banco para 12,8%.

Maio de 2019

O Estado empresta 850 milhões de euros ao Fundo de Resolução para a injeção de 1149 milhões de euros no Novo Banco, depois de ter registado perdas de 1412 milhões em 2018. Os restantes 289 milhões de euros foram provenientes dos recursos próprios do Fundo de Resolução.

Maio de 2020

Os 850 milhões de euros saem dos cofres do Tesouro para o Fundo de Resolução mediante um empréstimo, possibilitando a injeção de 1037 milhões de euros destinada a compensar os maus resultados do Novo Banco no exercício de 2019, tendo apresentado um prejuízo de 1059 milhões de euros.
 
Junho de 2021

O Fundo de Resolução transfere apenas 317 milhões de euros, em vez dos 429 milhões previstos ao abrigo do mecanismo de capital contingente. E adianta que a verba de 112 milhões de euros se encontra retida e ‘condicionada’ até às conclusões de uma ‘averiguação complementar’ relacionada com a ‘opção do Novo Banco de não aplicar a política de contabilidade de cobertura aos instrumentos financeiros derivados contratados para cobrir risco de taxa de juro resultante da exposição a obrigações de dívida soberana de longo prazo’. O Novo Banco avança para o Tribunal da Relação de Lisboa, considerando banco considera que o Fundo de Resolução lhe deve o valor total pedido, pelo que falta receber 277,4 milhões de euros dos 598 milhões de euros solicitados. 

Maio de 2021

O Novo Banco regista um lucro de 70,7 milhões de euros no primeiro trimestre, que compara com os prejuízos de 179,1 milhões registados no mesmo período de 2020. Trata-se do primeiro resultado positivo do banco, sendo que António Ramalho já tinha prometido que a instituição ia começar a dar lucros logo a partir de janeiro deste ano, depois de terminada a fase de reestruturação em 2020.

Agosto de 2021

Apresenta lucros de 137,7 milhões de euros no primeiro semestre do ano. Valor que compara com um prejuízo de 555,3 milhões que tinha registado na primeira metade do ano passado.
 
Outubro de 2021

Nova vida, nova imagem. Banco passa a designar-se no novobanco. 

Março de 2022

Divulgação de resultados. A instituição financeira apresentou um resultado positivo de 184,5 milhões no ano passado, um valor que contrasta com as perdas do ano anterior de 1.329,3 milhões de euros. “O resultado representa o primeiro resultado positivo anual do grupo desde a sua criação, sendo determinante para o fim do processo de reestruturação iniciado em 2017”, disse a instituição financeira liderada por António Ramalho. Mas apesar deste resultado, o banco vai pedir mais 209,2 milhões de euros ao Fundo de Resolução. Isto porque o contrato com o Lone Star estipula um rácio de 12%, que não será cumprido caso não seja levado a cabo esta nova injeção. 

Março de 2022

António Ramalho anuncia a saída da liderança do banco. 

Abril de 2022

A instituição financeira revela valores referentes a salários e prémios. António Ramalho recebeu 410 mil euros em 2021: 372 mil euros foram pagos e 38 mil euros têm pagamento diferido. A este valor há que acrescer ainda um prémio de 1,6 milhões de euros à sua equipa, não revelando quanto caberá a cada administrador executivo. E lembra que este prémio “teve como base o desempenho individual e coletivo de cada membro, avaliado pelo Comité de Remunerações”, mas a sua “atribuição não deu origem a direitos adquiridos e nenhum pagamento foi realizado a estes membros, estando a mesma sujeita à verificação das condições previstas na política de remunerações”.

Maio de 2022

O banco apresenta resultados dos primeiro trimestre do ano. Os lucros passaram de 70,7 milhões para 142,7 milhões de euros. De acordo com a instituição financeira, “o desempenho da atividade está em linha com as expectativas, apresentando pelo quinto trimestre resultados positivos”.

Banco anuncia nova liderança: Mark Bourke é nomeado novo CEO.