A atração pelo controle das redes

«Freedom for the wolves has often meant death to the sheep» – Isaiah Berlin

Por António Miguel Pina, presidente da Câmara Municipal  de Olhão e presidente da AMAL

A compra do Twitter, por Elon Musk, por 44 mil milhões de euros, tem vindo, face à inexplicável, brutal e mediática invasão da Rússia à Ucrânia, a levantar, mesmo que muito em surdina, uma discussão sobre quais as verdadeiras razões por detrás deste negócio e a perigosidade da concentração do poder financeiro no domínio das redes sociais.

Esta aquisição surpreendeu o mercado acionista de investimentos e toda a classe política, hoje, muito mais atentos a manobras e movimentações, principalmente nestas áreas emergentes e influentes (redes sociais), pouco ou nada reguladas.

Ao efetivar-se o negócio, Musk garante retirar a empresa do mercado bolsa de valores e torná-la numa de capital fechado, sem nenhuma obrigação de tornar público balanços financeiros, movimentações internas e sujeita à auditorias ou ‘assaltos’ de outros investidores (OPA).

O controlo de conteúdos e o acesso a dados pessoais dos utilizadores, numa rede que, valendo ‘apenas’ 1/5 do mercado e posicionando-se num segmento de perfis/utilizadores da mais alta esfera política, económica, estrategas/influecer e jornalistas, levou Musk a investir valores astronómicos para deter esta rede social.

Há questões importantes que se colocam, nomeadamente, qual o papel das redes sociais na sociedade: o que são, para que servem, o que devemos esperar delas e o que não lhes deve ser permitido, bem como a proteção da informação que partilhamos, analisada e segmentada ‘através’ de algoritmos.

Este ou aquele destaque; Esta ou aquela publicação em detrimento de outra; Os likes e as visualizações; Este ou aquele tema de proximidade à nossa opinião ou simpatia!

O ‘Sr. Algoritmo’ a funcionar, manobrando, sem ter uma posição de neutralidade.

Nas redes, não vemos o mundo; vemos um ‘aquele’ mundo!

Por muitos conhecimentos e precauções que tenhamos, não temos a verdadeira noção das informações que fornecemos através da nossa participação nas redes sociais e que, mais tarde, poderão ser analisadas, vendidas, adulteradas e/ou manipuladas.

Em 2018, quando estourou o escândalo da Cambridge Analytica, o mundo ficou a saber como dados sensíveis compartilhados pelo Facebook foram utilizados para influenciar o Brexit, como ficou conhecida a saída do Reino Unido da União Europeia, a eleição nos Estados Unidos e até a do Brasil.

O poder financeiro atrai, inequivocamente, a necessidade de informação, e essa, hoje, está na World Wide Web e nas redes sociais, dai o tão apetecível domínio pela comunicação e dados subtraídos em quase todos os cliques que damos! 

Colocando de novo o Twitter no centro desta espiral, faz sentido Musk adquirir uma rede social, com cerca de meio milhão de utilizadores por 44 Mil Milhões? Claro que sim… e ele sabe bem a importância desta rede, ou não tivesse já sido acusado de fraude e de tentar manipular o preço das ações da Tesla, através de um tweet!

Vejamos como se posicionaram, num futuro próximo, estas redes e os seus donos! 

O poder da internet/redes sociais/globalização num jogo de tabuleiro, onde as regras (tempos, movimentações de peças e afins) poucos conhecem e respeitam.