Seca. Descida inédita da água usada para limpar

Um hidroavião que se afundou na albufeira do Alto Rabagão, há 25 anos, foi finalmente retirado do local.

Uma seca prolongada como a que o país tem estado a viver este ano (a terceira pior de que há registos) não costuma trazer boas notícias, mas pode haver exceções: a descida da água na albufeira do Alto Rabagão – conhecida também como a Barragem dos Pisões, no concelho de Montalegre – foi aproveitada para retirar do local um hidroavião que ali se tinha afundado há 25 anos, depois de uma tentativa de amaragem fracassada. O acidente deu-se a 13 de julho de 1997 e o aparelho acabou por nunca ser recuperado: aconteceu agora, depois do nível da água descer 30 metros. 

A operação envolveu os fuzileiros, a Agência Portuguesa do Ambiente, a Fundação Parley for the Oceanos e o município de Montalegre. “Temos a noção de que o avião teria à volta de 300 litros ainda de combustível, seria sempre um elemento estranho na barragem”, salientou David Teixeira, vice-presidente da autarquia.  “A APA aproveitou o facto de termos algumas barragens com espelho de água com uma cota inferior e aproveitamos para fazer algumas limpezas nessas albufeiras. Esta acabou por ser uma limpeza simbólica porque sabíamos que estava aqui uma aeronave, que há mais de 20 anos tinha ficado aqui e, obviamente, que era nossa intenção proceder à sua remoção e foi com alguma emoção que encontramos hoje aqui os bombeiros que ajudaram a socorrer os pilotos e um dos pilotos que esteve neste acidente”, afirmou por seu lado o secretário de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território, João Paulo Catarino, que ontem acompanhou a finalização dos trabalhos no local. Em março já tinha havido uma operação de limpeza na albufeira da Caniçada, também com o apoio dos fuzileiros.

Barragem nunca tinha descido tanto Na barragem do Alto Rabagão, a cota da albufeira desceu em abril a uma cota mínima de 850,51 metros, o que nunca tinha acontecido, revelam os dados históricos do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos, da APA, que o i consultou. 

Antes desta seca, tinha chegado a descer em 1999 a uma cota de 852,8 metros. No verão de 1997, quando o hidroavião de duas toneladas se afundou, a água estava 15 metros acima do que se encontra agora. Subiu ligeiramente nas últimas semanas mas continua abaixo do normal, nos 851,23 metros, mesmo com a produção de eletricidade parada desde o início de fevereiro. Há um ano, sem seca, estava a uma cota de 874,04m. Portugal mantém-se em situação de seca, com as chuvas de abril a ajudarem a reduzir a sua severidade. A 30 de abril, 8,5 % do país estava em seca fraca, 87.2% em seca moderada e 4,3 % em seca severa, revelou ontem o Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Nas barragens, o nível da água continua abaixo do normal.