Reino Unido. Promessas para “ajudar famílias” têm os seus céticos

Príncipe Carlos substituiu a sua mãe, a Rainha Isabel II, no discurso da sessão de abertura do Parlamento.

O príncipe Carlos substituiu a sua mãe pela primeira vez na sessão de abertura do Parlamento. Isabel II nunca tinha falhado a sessão de abertura do Parlamento, mas problemas de mobilidade impediram-na de ler o discurso preparado pelo Governo e aprovado pelo Gabinete do executivo.

Assim, foi Carlos quem apresentou as prioridades do governo, uma das quais é ajudar a “crescer e fortalecer a economia e ajudar a aliviar o custo de vida das famílias”.

“O governo de Sua Majestade impulsionará o crescimento económico para melhorar os padrões de vida e financiar investimentos sustentáveis em serviços públicos”, disse o Príncipe herdeiro.

“Estas medidas serão sustentadas por uma abordagem responsável das finanças públicas, reduzindo a dívida enquanto se reforma e corta impostos”, disse o filho da Isabel II, que ainda mencionou a vontade de realizar o Jubileu de Platina da Rainha e os Jogos da Commonwealth de 2022 em Birmingham.

Contudo, segundo alguns meios de comunicação britânicos, estas promessas dificilmente serão cumpridas.

O Independent escreve que, apesar da promessa de voltar a colocar o Reino Unido no “caminho correto” depois da pandemia provocada pela covid-19, o pacote de medidas do novo programa legislativo de Boris Johnson não continha um único apoio para famílias que lutam para fazer face ao custo de vida.

“Johnson continua a opor-se aos pedidos de um orçamento de emergência para fornecer mais assistência, oferecendo em vez disso a disponibilidade para despertar o ‘engenho, compaixão e trabalho duro’ da população em resposta ao aumento dos preços”, escreve o jornal inglês. 

A oposição também teceu duros comentários ao discurso da Rainha e às propostas de Boris Johnson.

“Este discurso da Rainha não faz nada para ajudar os milhões de famílias que enfrentam uma subida no preço das suas contas e uma inflação que traz lágrimas aos olhos”, disse o líder dos liberais democratas, Ed Davey, citado pelo Guardian.

“Os conservadores não conseguiram reduzir o IVA, que teria poupado às famílias uma média de 600 libras (cerca de 700 euros), falhado em ajudar os mais vulneráveis da nossa sociedade”, apontou Davey, acrescentando ainda que o “primeiro-ministro se recusa a ouvir a mensagem clara enviada pelos eleitores” apesar dos resultados dececionante das eleições locais da semana passada, que mostram um eleitorado “farto de ser dado como garantido por este governo conservador”.

Um passo em frente para a Irlanda do Norte Apesar do discurso da Rainha Isabel II não mencionar diretamente a legislação que permitirá abandonar os protocolos do Brexit da Irlanda do Norte, esta questão foi referida implicitamente. 

“O sucesso contínuo e a integridade de todo o Reino Unido são de suma importância para o governo de Sua Majestade, incluindo os laços económicos internos entre todas as suas partes”, disse o Príncipe Carlos, acrescentando que “o governo de Sua Majestade irá garantir que a constituição será defendida”.

Estas declarações chegam no mesmo dia em que a ministra dos negócios estrangeiros do Reino Unido, Liz Truss, estará a preparar um projeto de lei que eliminaria unilateralmente partes importantes do protocolo da Irlanda do Norte, eliminando a necessidade de verificações de mercadorias entre a Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte, e ainda removeriam todos os requisitos para as empresas da Irlanda do Norte seguirem os regulamentos da União Europeia.

Este é um passo importante para a Irlanda do Norte, uma vez que o Partido Unionista Democrático, maioritário nos últimos 20 anos, defendeu que não fará parte de um governo de coligação com o partido nacionalista Sinn Féin se as conversas mantidas por Londres e Bruxelas não levarem à eliminação do protocolo do Brexit para a região.

Os unionistas, que ganharam todas as eleições na Irlanda do Norte no último século, sofreram uma grande queda, o que ajudou à vitória do Sinn Féin. Em parte, a derrota deveu-se ao facto de terem apoiado o Brexit, na esperança de que isso diminuísse a ligação à República da Irlanda.

Contudo, acabaram a sentir-se traídos por Londres, quando Boris Johnson aceitou a “fronteira no mar da Irlanda”, que impôs à Irlanda do Norte regras comerciais diferentes do resto do Reino Unido, como parte das suas negociações com Bruxelas.