Montenegro é favorito, mas Moreira da Silva vai à luta

O antigo líder parlamentar de Passos Coelho vai colhendo apoios das distritais de norte a sul. Moreira da Silva não baixa os braços e procura capitalizar no ‘voto livre’ das bases do partido.

Mais do que numa corrida à sucessão de Rui Rio, os dois candidatos à liderança do PSD têm andado num autêntico frenesim pelo país na conquista do voto dos militantes. Luís Montenegro vai somando apoios de norte a sul e, a duas semanas das eleições internas, marcadas para 28 de maio, torna-se mais evidente o seu favoritismo no aparelho social-democrata.

Na volta nacional da sua campanha, tem privilegiado as ações de contacto direto com militantes, autarcas e dirigentes locais do partido. Começou no Porto, passou por Santa Maria da Feira, Coimbra, Beja, Castelo Branco, Setúbal, Portalegre, Leiria, Santarém, Guarda e ainda juntou quase todos os dirigentes da distrital de Lisboa num jantar discreto no Parque das Nações. Este sábado ruma de novo ao sul, para apresentar a sua candidatura aos militantes de Évora e Loulé. 

Mas o ponto alto desta tournée pelo território português foi nas ilhas, especialmente a passagem pela Madeira – cujo peso na conquista de votos não é de desvalorizar por ser casa da quinta maior estrutura do partido. Depois de juntar na mesma sala Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional, Pedro Calado, autarca do Funchal, e o histórico Alberto João Jardim, conseguiu arrancar o apoio do antigo líder e governante social-democrata da região, algo inesperado, já que os dois nem sempre estiveram do mesmo lado da barricada.

Depois, nos Açores, juntou à sua causa o presidente do Governo Regional, José Manuel Bolieiro. E, além ilhas, Luís Montenegro tem somado uma longa lista de apoios dos líderes de várias estruturas distritais, a começar por Ângelo Pereira, em Lisboa, entre outros, como Carlos Condesso (Guarda), Paulo Cunha (Braga), Alberto Machado (Porto), Luís Santos (Castelo Branco), Olegário Gonçalves (Viana do Castelo), Hugo Oliveira (Leiria), Paulo Ribeiro (Setúbal), Paulo Leitão (Coimbra), Emídio Sousa (Aveiro) e Francisco Figueira (Évora).

Depois de Jorge Moreira da Silva ter avançado com um trunfo forte – o de Francisco Pinto Balsemão, militante número um do PSD –, Montenegro deu a conhecer na quinta-feira, depois de um longo segredo, o seu mandatário nacional: Miguel Albuquerque. Uma escolha praticamente sem precedentes, uma vez que, por norma, no arquipélago, a estratégia é de não declarar apoio explícito para não dividir as hostes regionais sociais-democratas.
 Na sede nacional do PSD, em Lisboa, o candidato à liderança entregou 2.800 assinaturas para formalizar o processo e reiterou que procura vencer as diretas com a mira apontada às legislativas: «O nosso foco, o nosso objetivo, o que temos como desígnio é vencer as legislativas de 2026.»

E, ao que o Nascer do SOL apurou, Montenegro já tem nomes pensados e poderá surpreender – Mónica Ferro, ex-vice-presidente do grupo parlamentar do PSD entre 2011 e 2015, ou Gonçalo Saraiva Matias, consultor jurídico da Casa Civil do Presidente da República, são hipóteses para as próximas eleições europeias (em que Carlos Coelho voltará, por certo, a Bruxelas). 

Moreira da Silva, que partiu em desvantagem, já com Montenegro no terreno, também tem  palmilhado o país medindo apoios, mas não fica alheio às andanças do adversário e, esta semana, aproveitou para desferir um golpe dissimulado: «Digo as coisas de forma clara: não ando em conspirações, nem em almoços, nem em jantares.»

A frase não passou em branco, pois a ala que apoia Moreira da Silva não deixou de interpretar como um sinal a presença do Presidente da República e antigo líder dos sociais-democratas junto de Luís Montenegro no aniversário de Virgínia Estorninho, militante histórica do PSD, que na quinta-feira marcou presença na sede nacional do partido, aquando da formalização da candidatura do antigo líder parlamentar de Passos Coelho. E as fotografias partilhadas pelos presentes nas redes sociais mostram o candidato e o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa sentados à mesma mesa , quase lado a lado, confirmando o ambiente de proximidade entre ambos.

Apesar do embalo que Montenegro leva, os  apoiantes de Moreira da Silva ainda não dão as diretas como perdidas. Contudo, até agora, nenhum líder distrital do PSD declarou apoio ao antigo ministro de Passos Coelho. Se é verdade que não há donos de votos, também é verdade que há pessoas capazes de mobilizar votos.  Uma dessas figuras é Salvador Malheiro, que, embora seja muito próximo de Moreira da Silva e esteja a atuar na sombra da sua candidatura, esta semana disse que não tornaria público o apoio a qualquer um dos candidatos – mas esteve presente na ação de campanha de Moreira da Silva em Ovar.

E, argumentam os mais próximos colaboradores do ex-ministro, a realidade é que «aqueles que estão  ao lado de Moreira da Silva em grosso modo são praticamente os mesmos que deram a vitória a Rio. Uns de forma mais explícita, outros de forma mais encapuzada».

Afinal de contas, as últimas diretas provaram quem efetivamente tinha o controlo do aparelho, quando todos davam largamente a vitória a Paulo Rangel. Distritos como Braga, Porto e Aveiro – este último dominado por Malheiro – caíram, afinal, para Rio. E, das quatro principais distritais, só uma acabou por cair efetivamente nas mãos do eurodeputado: a de Lisboa.

Moreira da Silva: os mandatários 
Com o apoio não oficial da máquina rioísta, aquela que soube derrotar Rangel, e parte do aparelho herdado do passismo nas últimas diretas, Moreira da Silva vai «lutando com algum ânimo e efusividade», procurando capitalizar no ‘voto livre’ das bases do partido.

«O partido está cada vez mais autonomizado dos aparelhistas, o voto é cada vez mais livre e menos radicado», atiram as mesmas fontes partidárias, dando conta que nas principais distritais – Braga, Aveiro, Porto e Lisboa – a situação está «muito equilibrada» e em algumas Montenegro «vai atrás», porque a máquina que sustenta Moreira da Silva «está bem montada».

Concentrando figuras fortes do partido, a direção nacional de campanha conta com o deputado Carlos Eduardo Reis, peça decisiva nas expressivas votações de Rio no concelho de Barcelos e no distrito de Braga, o também deputado eleito por Viseu Hugo Carvalho, vice da bancada parlamentar social-democrata, e ainda o deputado eleito por Aveiro Ricardo Bastos Sousa.

O Nascer do SOL apurou que entre os mandatários distritais de Moreira da Silva constam, entre outros, o deputado António Topa Gomes (Aveiro), a Bastonária da Ordem dos Enfermeiros  Ana Rita Cavaco (Lisboa), o presidente da Câmara de Barcelos Mário Constantino (Braga), e o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, António Tavares (Porto).