OMS associa disseminação do Monkeypox a raves que aconteceram em Espanha e na Bélgica

David Heymann, que anteriormente chefiou o departamento de emergências da OMS, disse que a principal teoria para explicar a propagação da doença é a da transmissão sexual nestas festas.

No dia em que foi anunciado que Portugal já registou, na totalidade, 37 casos de varíola-dos-macacos e que se trata do primeiro país do mundo a identificar o genoma do vírus, um importante conselheiro da Organização Mundial da Saúde (OMS) descreveu o surto sem precedentes de Monkeypox nos países desenvolvidos como “um evento aleatório” que pode ser explicado pelo comportamento sexual dos participantes de duas raves recentes que aconteceram na Europa.

David Heymann, que anteriormente chefiou o departamento de emergências da OMS, disse à Associated Press que a principal teoria para explicar a propagação da doença era a transmissão sexual em raves realizadas em Espanha e na Bélgica, tendo lembrado que o vírus não desencadeou anteriormente surtos generalizados para além da África, onde é endémico em animais.

“Sabemos que a varíola pode disseminar-se quando há contacto próximo com as lesões de alguém infectado, e parece que o contato sexual agora amplificou essa transmissão”, afirmou Heymann, estabelecendo um afastamento significativo do padrão típico de propagação da doença na África central e ocidental, pois nestas regiões as pessoas são infectadas principalmente por animais como roedores selvagens e primatas e os surtos não se espalham além-fronteiras.

Ainda que as autoridades de saúde tenham dito que a maioria dos casos conhecidos na Europa ocorreu entre homens que fazem sexo com homens, mas sublinhando que qualquer pessoa pode ser infetada por contacto próximo com uma pessoa doente, pelas suas roupas ou até lençóis, a maioria dos cientistas continua a deixar claro que será difícil desvendar se a propagação está a ser impulsionada devido a comportamentos sexuais ou apenas pelo contacto próximo com aqueles que estão infetados.

“A maioria dos casos atuais apresentou sintomas leves da doença e, para a população em geral, a probabilidade de disseminação é muito baixa”, salientou a diretora do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), Andrea Ammon. “No entanto, a probabilidade de propagação do vírus através de contacto próximo, por exemplo, durante atividades sexuais entre pessoas com múltiplos parceiros sexuais, é considerada alta”, destacou.

Mais de 100 casos confirmados Até agora, a OMS registou mais de 90 casos de varíola numa dúzia de países, incluindo Canadá, Espanha, Israel, França, Suíça, EUA e Austrália. Na segunda-feira, a Dinamarca anunciou o seu primeiro caso, Portugal atualizou o número total para 37, Itália relatou mais uma infeção e a Grã-Bretanha adicionou mais 37 casos.

Também hoje, como o i já havia veiculado, de acordo com um relatório de avaliação de riscos, o ECDC recomenda aos países da UE e do Espaço Económico Europeu que “se concentrem na rápida identificação, gestão, localização de contactos e notificação de novos casos de Monkeypox”. “Os países devem também atualizar os seus mecanismos de rastreio de contactos, a capacidade de diagnóstico […] e rever a disponibilidade de vacinas contra a varíola, antivirais e equipamento de proteção pessoal para profissionais de saúde”, adiantou o organismo.

Entre os dias 15 e 23 maio, foram comunicados ao ECDC 85 casos de Monkeypox em oito Estados-membros da UE, entre os quais Bélgica, França, Alemanha, Itália, Holanda, Portugal, Espanha, Suécia. No domingo, a OMS havia confirmado que 92 os casos reportados e, na segunda-feira, já seriam mais de 100.