Chelsea. Foi vendido o mastodonte de Abramovich, o português

Meses depois da incerteza e dos rumores sobre a venda do Chelsea, o clube de Roman Abramovich foi oficialmente vendido.  Não sem primeiro, no entanto, ter precisado do aval do Governo português, já que o oligarca russo é, também, cidadão nacional.

É oficial: a Premier League aprovou a venda do Chelsea de Roman Abramovich, pelo estonteante valor de 4,25 mil milhões de libras (4,9 mil milhões de euros), ficando apenas por ultimar a licença para a venda do clube, cujo funcionamento está limitado a um regime de exceção que acaba a 31 de maio.

É a conclusão de um processo que se alongou durante os últimos meses, obstaculizado pela invasão russa da Ucrânia e pelas consequentes sanções aplicadas a diferentes oligarcas russos pelo mundo, entre eles Roman Abramovich, que tem laços de proximidade com Vladimir Putin, Presidente da Rússia.

“Dadas as sanções que aplicamos a quem esteja ligado a Putin e à sangrenta invasão da Ucrânia, o futuro a longo prazo do clube só pode ser garantido com um novo proprietário, anunciou a ministra da Cultura, Média e Desporto britânica, Nadine Dorries, através do Twitter, onde explicou que o Governo britânico “não quer que Abramovich receba rendimentos da venda, que irão para uma conta bancária congelada para ser doado a instituições de caridade”.

O Chelsea, campeão em título da Liga dos Campeões e um dos nomes mais proeminentes do futebol inglês, será assim entregue a um consórcio liderado por Todd Boehly. Ainda assim, a Clearlake Capital – uma empresa de capital privado – será a maior detentora das ações do Chelsea. A ela juntar-se-ão outros investidores, entre eles o milionário americano Mark Walter, também coproprietário do LA Dodgers, e o milionário suíço Hansjorg Wyss.

“Após um extenso trabalho, agora estamos convencidos de que os lucros totais da venda não beneficiarão Roman Abramovich ou qualquer outro indivíduo sancionado. Começaremos o processo de garantir que os lucros da venda sejam usados para causas humanitárias na Ucrânia, apoiando as vítimas da guerra. As medidas de hoje vão garantir o futuro do património cultural do clube e proteger os adeptos e a comunidade do futebol em geral”, pode-se ler em comunicado do Governo britânico.

Agora, a venda seguirá um processo de duas etapas. Primeiro, 2,5 mil milhões de libras (cerca de 2,9 mil milhões de euros) serão depositados numa conta de garantia até que o Governo britânico esteja convencido de que os fundos serão destinados a uma instituição de caridade para as vítimas da guerra na Ucrânia. Depois, o grupo de Boehly comprometeu-se a investir mais 1,75 mil milhões de libras (cerca de 2 mil milhões de euros) no clube.

Crucial na conclusão desta negociação foi o passo dado por Roman Abramovich relativamente às garantias juridicamente vinculativas, com as quais concordou, permitindo que o seu empréstimo de 1,6 mil milhões de libras (cerca de 1,8 mil milhões de euros) ao Chelsea fosse para uma conta congelada sob controlo do Governo britânico.

Portugal tem algo a dizer Mas a venda do Chelsea de Roman Abramovich não precisou, só, da luz verde do Governo de Downing Street. Já que o oligarca russo possui também nacionalidade portuguesa, obtida através da denominada ‘via sefardita’, o Governo nacional teve também de dar o seu aval à venda do clube, acabando por dar parecer resolutivo sobre a concretização da transação.

A notícia foi inicialmente avançada pela BBC, e depois exposta pelos meios de comunicação portugueses. O Ministério dos Negócios Estrangeiros, atualmente tutelado por João Gomes Cravinho, foi contactado pelo Governo britânico sobre a venda do Chelsea. “Em relação ao Chelsea, naturalmente que há aqui um ponto absolutamente fundamental: Portugal aplica as sanções que foram decretadas pela União Europeia. Nós fazemo-lo de forma rigorosa, fazemo-lo sem exceções, e é assim que nós aplicamos as sanções, é assim que nós vamos continuar a aplicar as sanções”, defendeu o ministro, em declarações aos jornalistas desde Cabo Verde, onde se encontrava em visita de Estado.

Gomes Cravinho, no entanto, evitou explicar quais são exatamente as obrigações jurídicas do Governo português neste assunto, garantindo apenas que Portugal será “intransigente” na sua aplicação.