Encantos do Centro de Portugal

Por Nélson Mateus e Alice Vieira

Querida avó,   

Vim passar o fim de semana à belíssima cidade de Coimbra, onde não vinha há alguns anos. Gosto muito desta cidade que, como sabes, já foi capital de Portugal. E alberga parte de uma cidade medieval que eu gosto de percorrer sempre que cá venho. Cada rua conta uma história.

Uma vez mais, visitei a histórica Universidade de Coimbra. Construída no local onde foi o Paço Real, é célebre pela sua biblioteca barroca, a Biblioteca Joanina, e pela sua torre do sino do século XVIII.

Fui ao Portugal dos Pequenitos, onde já não ia desde as visitas com a escola primária. Foi como entrar numa máquina do tempo e fazer uma viagem às memórias da infância.

Segui para a Quinta das Lágrimas. Onde somos levados, pela nossa imaginação, a reviver o trágico, e belo, amor de Pedro e Inês.

O Mosteiro de Santa Clara-a-Velha não é visitável. Mas visitei o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, onde está o túmulo da Rainha Santa Isabel.

Lá fui visitar a Sé Nova, a Sé Velha e a belíssima Igreja de Santa Cruz, que é Panteão Nacional, onde estão os túmulos reais de D. Afonso Henriques e do seu filho e sucessor, D. Sancho I.

Gostei imenso de visitar o Museu Nacional Machado de Castro que ocupa o antigo edifício do Paço Episcopal construído sobre o criptopórtico do fórum de Æminium que constitui a mais significativa obra romana, datada do século I, em território nacional.

Para acabar em beleza, vim jantar ao ‘Terraço da Alta’, um espaço onde se come muito bem.

Tem um terraço com uma bela vista sobre a cidade, onde estou a escrever-te esta carta.

Não sei se como diz a canção «Coimbra tem mais encanto/ Na hora da despedida». No entanto, posso garantir-te que ainda não me fui embora e já estou com vontade de voltar pois ficou muito por visitar.

Estou com muita vontade de trazer a tua Exposição e a do Ruy de Carvalho para o Convento de São Francisco, que é o Centro Cultura de Coimbra.

O que te parece?

Bjs

 

Querido neto,   

Vi uma peça há muito tempo, já nem me lembro do nome, e que é o retrato perfeito daquilo que vai acontecer aqui hoje.

Estavam 5 pessoas à janela de vários andares do mesmo prédio, quando na rua, mesmo em frente do prédio, acontece uma zaragata, gritos, insultos, pancadaria – a polícia aparece e leva todos para a cadeia.

Presentes ao juiz, eles indicam como testemunhas as cinco pessoas que estavam à janela do prédio e tinham assistido a tudo.

Todas tinham visto o mesmo, e todas contaram exatamente o que tinham visto. Mas cada um contava uma história diferente… sendo a mesma história! Todos estavam a falar verdade, mas as histórias eram todas diferentes. É uma peça extraordinária. Uma espécie de “copo meio cheio e copo meio vazio” – mas durante toda a peça…

Ao ler o teu texto de Coimbra, só me lembrava disso. Porque eu era capaz de dizer exatamente o que dizes, só que para justificar a forma diferente, da tua, com que olho para Coimbra.

Não é só quem estudou em Coimbra que gosta da cidade.

Acho ótima a tua ideia de levares as exposições sobre mim e sobre o Ruy de Carvalho para Coimbra.

Ílhavo e Aveiro são outras duas cidades às quais estou bastante ligada, e com quem devias falar sobre as Exposições, assim como o Luso. Fazem parte da minha vida e das minhas memórias de infância.

Aveiro, por exemplo, antes de me radicar aqui na Ericeira, eu passava lá longas temporadas. Os moliceiros (que “descendem” de barcos fenícios), os canais da ria, as duas praias completamente diferentes – com o mar bravíssimo e a calmaria da praia da ria.

Adoro as casas da Costa Nova, todas de madeira às riscas. E como os homens andam quase todos no mar o ano inteiro, ali as mulheres é que mandam. O meu sogro foi um desses pescadores, e o meu marido – nascido em Ílhavo – tinha sempre muitas histórias para contar.

Trata de tudo para as exposições realizarem-se nestas cidades!

Bjs