Acorda, PSD! Portugal precisa de reformas!

Poder-se-ia dizer que todos conhecem os dois candidatos do PSD, mas eu arriscaria dizer que 80% do povo eleitor não faz nem ideia de quem são, nem o que fazem. Também estes mesmos que os desconhecem e para quem os candidatos não se mostram, se estarão objetivamente ‘nas tintas’ para quem o PSD irá eleger. 

1. Realizam-se hoje as eleições para a nova liderança do PSD. Praticamente 4 longos e perdidos meses depois das legislativas onde o PS conseguiu a maioria absoluta, reduzindo a oposição a meros comparsas no Parlamento, Rio finalmente ‘autorizou’ que se realizassem estas diretas, sem que ninguém objetivamente percebesse porque bulas é que Rio não as fez logo a seguir a uma profunda derrota.

Seja como for, Montenegro e Moreira da Silva vão disputar hoje essa liderança, após uma das campanhas mais mornas e insonsas de que tenho memória. Candidatos que o público eleitor escassamente conhece, não houve, incompreensivelmente, um debate entre ambos que fizesse sair esta eleição da ‘apagada tristeza’.

Poder-se-ia dizer que todos conhecem os dois candidatos do PSD, mas eu arriscaria dizer que 80% do povo eleitor não faz nem ideia de quem são, nem o que fazem. Também estes mesmos que os desconhecem e para quem os candidatos não se mostram, se estarão objetivamente ‘nas tintas’ para quem o PSD irá eleger. Metade destes eleitores votarão hoje PS (porque sim!) e a outra metade sabe que PSD não vota (com a surpresa de emergir a IL entre os jovens).

Donde, depois destes quatro meses de hibernação do PSD, sobretudo por demérito de Rio, as eleições deveriam ser motivo para agitar os militantes, transmitindo para o exterior uma motivação de mudança. Os debates obrigariam a comunicação social a fazer publicidade dos candidatos, a nação ‘laranja’ ganharia uma esperança decorrente de uma visibilidade constante nos ‘media’. A opção foi diferente e o segundo partido português irá fazer umas eleições semiclandestinas de onde sairá oficialmente o candidato a líder de oposição.

Neste período tanta coisa se passou e até parece que para o PSD nada se passou. Alguém guardou na memória alguma intervenção relevante de qualquer dos seus dirigentes sobre a guerra da Ucrânia ou sobre a subida da inflação ou sobre a Lei dos Metadados ou ainda sobre a excessiva carga fiscal que afeta o trabalho em Portugal? Todos vimos Costa (e Marcelo) em bolandas, diariamente na televisão a propósito de tudo e de nada, enquanto Rio se reservava para a reforma e os putativos candidatos a líderes se limitavam a entrevistas de escasso ou nulo alcance na visibilidade pública.

Aguardemos então pelo novo líder (oficial) da oposição, Montenegro ou Moreira da Silva. Se fosse uma corrida de Fórmula 1, eu diria que o vencedor desta pré-eliminatória partiria na última fila da grelha de partida e, para chegar à frente, demasiadas ultrapassagens teria de fazer, numa pista sinuosa em que os da primeira fila (Costa) se escapuliram há muito.

Vão ser quatro anos de muito trabalho, mas no meio de tantas dificuldades, quem vencer terá de saber aproveitar um líder de primeira água no Parlamento, Paulo Mota Pinto que, no meio de tanta (des)ilusão já prometeu ser alguém que fará sombra a Costa nos debates com o Governo.

 

2. De acordo com estudos feitos pela OCDE, a carga fiscal sobre os salários subiu no país e atingiu no ano passado os 41,8%, largamente acima da média dos 38 países que pertencem à Organização e que se cifra em 34,6%. Falta acrescentar que ocupamos a 10.ª posição segundo as notícias publicadas.

Eu considero isto uma exorbitância, mas a maioria do povo português está conformado, eu diria ‘anestesiado’. Por razões salariais neste ambiente de inflação, começa a existir uma contestação que se sente transversalmente na sociedade, mas as pessoas não estão sensibilizadas para a excessiva carga fiscal. Discutem (com razão) a necessidade de aumentos salariais, sobretudo pela influência da CGTP a mobilizar, por ordens do PCP, as diferentes empresas do Estado para as greves e combates na rua, mas a fiscalidade nunca é discutida, quiçá aceite como inevitabilidade social, porventura por estar inerente ao socialismo de onde partem as contestações.

3. A situação é, aliás, muito pior do que refiro. O adormecimento público nos últimos anos do PSD, deixando o papel da contestação (alternativa) ao Governo ao Chega e IL, conduziu-nos ao atual ‘beco sem saída’. Nestes últimos anos não se vislumbraram políticas reformistas, que pudessem, a prazo, trazer maior fulgor à economia como a atração de investimento estruturante e/ou reformas da função pública, reflexos de um PS confortável num poder sem alternativa que lhe garante a governação.

Mesmo hoje, o crescimento do turismo parece ser o principal desiderato dos governantes como fautor imediato de criação de riqueza (e crescimento do PIB). Indústria absolutamente relevante, felizmente e por enquanto sem os riscos internacionais da segurança, tem o anátema da sazonalidade e uma das consequências naturais é a precariedade inevitável do emprego. Quando escasseia a receita, há que reduzir custos e se até o Bloco o fez em resultado do desastre eleitoral, jamais será de criticar que os empresários igualmente o façam.

Donde, todas as ideias de fomentar o emprego que o ministro Costa Silva possa ter, novas fontes de energia como o hidrogénio ou a construção de gasodutos para levar o gás para a Europa, serão absolutamente essenciais. Deverão ser projetos nacionais acarinhados por todos os quadrantes políticos, a serem trabalhados em conjunto para dotar o país de novas soluções de melhor futuro para as próximas gerações.

Porque não há volta a dar. As quedas nos rankings dos países europeus são consequências das políticas (socialistas) seguidas nos últimos anos. A (legítima) contestação social que iremos ter nos próximos tempos deveria igualmente incluir ‘combates’ que incluíssem a criação de maior riqueza nacional para a posterior distribuição. Dir-se-á que a visão (e missão) das esquerdas é a de lutar pelos direitos dos trabalhadores, competindo às direitas criar as riquezas para que depois as esquerdas contestem a distribuição. Continuemos assim, com este papel demasiado redutor das esquerdas e pior do que a certeza de nunca sairmos da ‘cepa torta’ é a certeza de vermos Portugal a continuar a cair nos rankings europeus.