Campeões. Eterno branco

Em 1956 jogou-se a primeira final da Taça dos Campeões Europeus, em Paris. O Real Madrid estava lá. Como estará hoje frente ao Liverpool. Como tem estado sempre ao longo dos anos.

Cantava Maurice Chevalier: «Paris sera toujours Paris/On peut limiter ses dépenses/Sa distinction son élégance/N’en ont alors que plus de prix/Paris sera toujours Paris!». No dia 13 de junho de 1956, o Parque dos Príncipes recebeu a primeira de todas as finais da_Taça dos Campeões Europeus de Futebol: Real Madrid-Stade de Reims. Ah! Se algo não faltava nessa noite de Paris era a distinção e a elegância. Nunca Real e Reims viraram as costas à elegância. Está-lhes no sangue; estar-lhes-á sempre no sangue.

No dia 28 de maio de 2022, ou seja, hoje, O Estádio de Saint-Denis irá receber a 67.ª final da Taça/Liga dos Campeões: Real Madrid-Liverpool. Paris outra vez. Real Madrid outra vez. Há coisas que parecem nunca mudar por mais que o tempo passe. «Paris sera toujours Paris!/La plus belle ville du monde». Paris será sempre Paris; o Real será sempre o Real. Ambos sempre no ponto mais alto do fascínio.

Pela sexta vez, Paris receberá a grande final do futebol europeu de clubes; pela décima-sétima (!!!) vez, o Real Madrid estará presente no jogo decisivo. Das dezasseis finais que disputou até hoje, só perdeu três – uma frente ao_Benfica, outra frente ao_Inter de Milão e, finalmente, a terceira frente ao Liverpool – em 1981, precisamente em Paris, no Parque dos Príncipes, em 1981. Impressionante? No mínimo.

O Liverpool começou a ganhar bem mais tarde, no final dos anos 70 (1977), mas já arrecadou seis Taças dos Campeões Europeus, tendo perdido três – a última, se, espanto, em 2018, frente ao Real Madrid, por 1-3, o Estádio Olímpico de Kiev. É, portanto, a terceira vez que se encontram. Com contas certas. Ou por desacertar, se preferirem assim.

 

Lenços brancos no Parque

Um vendaval de lenços brancos invadiu o Parque dos Príncipes nessa amena noite de quase-Verão em 1956. O jogo chegava ao fim com a vitória dos madrilenos (ganhariam as quatro finais seguintes de forma consecutiva) para tristeza dos franceses que tinham, através do jornal L’Équipe, inventado a competição convencidos que acabaria por premiar o football-champagne da equipa treinada por Albert Batteaux, um Stade de Reims de estilo ofensivo como poucos, em cuja equipa principal brilhavam os nomes de_Raymond Kopa, Robert Jonquet, Léon Glowacki e os extremos Michel Hidalgo e Jean Templin. Não chegou.

Ainda assim, durante a primeira parte, a estratégia de Batteaux levou a melhor sobre a do seu companheiro cordovês, o tenente José Villalonga Llorente, antigo combatente da Guerra Civil de_Espanha que se viu surpreendido pela mobilidade do avançado francês Kopa, uma figura de primeira grandeza que já tinha assinado contrato com o Real Madrid, o destino de todos (ou quase todos) os melhores futebolistas do mundo.

Foi através de um canto apontado por Raymond, logo aos seis minutos, que Michel Leblond abriu o marcador. Os espanhóis pareciam entontecidos, com um touro sujeito a faenas contínuas numa praça a rebentar pelas costuras. Quatro minutos mais tarde, Templin faz o 2-0 e, logo a seguir, está à beira do terceiro. O jogo de Paris entra na loucura completa. É um jogo digno de campeões e da nova Taça que os celebra. Di Stéfano torna-se grande como o seu nome. É ele, Don Alfredo, que reduz antes do quarto-de-hora. Como diz a canção: «Plus on réduit son éclairage/Plus on voit briller son courage». Ao passar da meia-hora, oferece o empate ao seu compatriota, José Héctor Rial Laguía, que ganhara em Madrid a alcunha de ‘El Pibe’, o ‘Homem com cara de Menino’.

40 mil pessoas observam sob uma tensão eletrizante uma segunda parte em que Di Stéfano será o príncipe do Parque. Michel Hidalgo adianta de novo o Stade de Reims aos 62 minutos, mas será o canto do cisne francês. Miguel Muñoz e José_Maria Zárraga tomam conta da luta do meio-campo, o Real ganha ascendente e vai-se superiorizando pouco a pouco. Marcos Alonso Imaz, natural de Santander, mais conhecido por Marquitos, sai da sua defesa para descobrir novo empate. Estamos no minuto 67. O momento de tudo ou nada. O momento em que o pano corre para deixar à vista de todos os rostos dos vencedores.

Raymond Kopa nunca teve dúvidas: «Foi a mais bela de todas as finais que alguma vez joguei. Não só pelo espetáculo, mas também pelos golos». Foi Rial que, no minuto 79, deu a vitória ao Real Madrid por 4-3. A primeira de 13 Taças dos Campeões que faz o clube de Chaamartín ser o mais extraordinário de todos os clubes da Europa. Hoje, ele aí está. No seu posto.