Manuscrito perdido de Padre António Vieira descoberto em Roma

Original de Chave dos Profetas estava desaparecido há mais de 300 anos. Será revelado hoje. 

Foi encontrado o manuscrito original daquela que é considerada a “obra prima” de Padre António Vieira, livro que nunca chegou a publicar: Clavis Prophetarum, em latim, a Chave dos Profetas. A descoberta nos arquivos da Biblioteca Gregoriana, de Roma, que mobilizou investigadores portugueses e italianos, vai ser revelada esta tarde numa apresentação marcada para as 16h30 no anfiteatro 1 da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (eschaton.letras.ulisboa.pt).

“António Vieira, S.J. (1608-1697) era um homem de múltiplas facetas. Era jesuíta por formação, diplomata ao serviço da nova Dinastia de Bragança, autor prolífico e um dos mais talentosos e respeitados exegetas do seu tempo. Viveu entre as Américas e a Europa, ao serviço da sua fé e do seu rei”, recordam os responsáveis na página lançada para o evento, onde é possível fazer a inscrição para assistir presencialmente ou online.

“De certo modo, a sua vida foi, per se, uma celebração da expectativa escatológica. Como exegeta, estava ciente dos conteúdos dos Livros de Daniel e do Apocalipse, bem como de outros textos não canónicos referentes ao final dos tempos. Além disso, conhecia bem as expectativas judaicas sobre a vinda de um Messias antes do estabelecimento do reino divino”, prosseguem os autores, os investigadores portugueses Ana Travassos Valdez, especialista em História Moderna da Europa, e Arnaldo do Espírito Santo, que coordenou a edição crítica dos Sermões e do Livro III da Clavis Prophetarum.

“Contra todas as probabilidades, Vieira nem sempre seguiu a doutrina Agostiniana, de acordo com a qual não deveriam inquirir-se os acontecimentos históricos passados ou presentes para tentar conhecer quando teria lugar o final dos tempos. Vieira, o exegeta e escritor, lançou mão de todos os estilos escatológicos ao seu dispor – proféticos, messiânicos, milenaristas e apocalípticos – nas suas cartas, sermões, documentação escrita enquanto prisioneiro da Inquisição portuguesa e nos seus escritos posteriores. A leitura da sua obra equivale a uma nova descoberta teológica diária, daí a expressão ‘Oggi trovato’!”

Na apresentação, será revelado o manuscrito encontrado, mais de 300 páginas, e a sua leitura histórica. Foi uma obra em que Vieira trabalhou durante cinco décadas, mas cujo original parecia uma incógnita desde a sua morte, há 325 anos. O primeiro vislumbre teve lugar há 22 anos, quando a Biblioteca Nacional organizou uma edição crítica. Na altura, Arnaldo do Espírito Santo, responsável por esse empreendimento, salientou que se estava diante de um momento histórico, explicando que esta obra era uma chave para a reinterpretação do pensamento do padre António Vieira, cobrindo profecias e o sebastianismo. “Vem trazer muitas novidades à interpretação do pensamento de Vieira”, disse então ao Público.