Esta semana o meu amigo Pedro partilhou um excerto da participação de Christine Lagarde num programa de televisão holandês destinado a estudantes. Nesse excerto, o apresentador pergunta a uma estudante se tem a ambição de ter um bom emprego, ao que esta responde: ‘Por que não? Se tiver essa oportunidade, claro, seria ótimo!’. Lagarde intervém e, de dedo em riste, diz: Ok, mude o tom! Se perguntassem a um rapaz ele não diria ‘Por que não?’, diria ‘Claro!’. Dentro de si também sente: ‘Claro!’. Diga-o! Precisa dessa confiança!’. A rapariga ri-se e concorda. Naturalmente a ideia de Lagarde foi a de incentivar a estudante a ter mais confiança, a assumir com segurança aquilo que quer. Resta saber se todos temos de ter as mesmas certezas em relação ao que queremos profissionalmente (e não só) e se todos queremos as mesmas coisas. Será que todas as raparigas têm de querer ter uma carreira de topo? Será que todos os rapazes querem? Será que ambos têm de ambicionar o mesmo?
Da premissa da igualdade de direitos passou-se para a falta de respeito ou tentativa de aniquilação da desigualdade. Naturalmente temos de ter todos os mesmos direitos, mas também temos o direito de não querermos todos o mesmo. Por exemplo, não há nenhuma razão para que uma senhora receba um salário inferior ao do colega que desempenha a mesma função, como não faz o menor sentido que o sexo masculino tenha primazia na ocupação de um posto com candidatas em pé de igualdade. Mas passou-se deste extremo para o de partir do princípio – errado – de que homens e mulheres têm os mesmos gostos, objetivos e vontades. Embora hoje em dia seja quase pecado dizê-lo, não somos todos iguais. Tão facilmente se fala em aceitar as diferenças como estas são negadas, como se fosse discriminação assumir que somos diferentes. Há diferenças óbvias entre géneros e também dentro do mesmo género. Felizmente!
É verdade que há cada vez mais mulheres empreendedoras que desejam ter carreiras de topo, mas também há muitas outras que querem por exemplo ser donas de casa e tomar conta dos filhos ou ter um trabalho menos exigente que possam conciliar com outras coisas. Tal como há homens ambiciosos e com capacidade de liderança e outros que preferem uma vida sem grandes responsabilidades. É importante não ter receio do que se quer e tentar perceber o que é melhor para cada um, com confiança e sem constrangimentos. Sabendo também que o que desejamos numa altura da vida pode não ser o mesmo que queremos noutra, devendo haver abertura para essas oscilações sempre em busca do que nos faz ter mais prazer no trabalho e na vida.
Esta comparação constante das diferenças, a exterminação dos estereótipos e a tentativa de agregar, de empurrar todos no mesmo sentido, lembra os pais que acham que fazem o melhor pelos seus filhos quando os obrigam a caminhar agrilhoados na direção que eles próprios escolheram.