Boris Johnson encurralado pelo Partido Conservador

Primeiro-ministro do Reino Unido enfrentou uma moção de censura por iniciativa de deputados do seu próprio partido, Conservador. Para já, resistiu. Mas a sua liderança é cada vez mais contestada.

Cada vez uma figura mais polémica no Parlamento britânico, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, foi alvo alvo de uma moção de censura por parte do próprio partido, Conservador. Apesar de ter ganho, com 211 votos a favor e 148 contra, o seu futuro enquanto líder do país continua incerto.

O presidente do grupo parlamentar dos Conservadores, Graham Brady, revelou que pelo menos 15% dos deputados deste partido (54 entre os 359 tories) exigiram a demissão de Johnson, atingindo assim o número necessário para dessencadear o processo. Apesar de ter saído vitorioso desta moção de censura, o que permite que, no espaço de 12 meses, o primeiro-ministro não possa ser alvo de uma nova moção de censura, isto não quer dizer que Johnson continue no poder por muito mais tempo. 

A antecessora de Boris, Theresa May, sorriu no  final de um processo semelhante, em 2018, no entanto, seis meses depois, foi forçada a apresentar a demissão. Isto aconteceu porque os legisladores ameaçaram mudar as leis e efetuar uma nova votação.

A dificultar ainda as contas de Johnson, está o facto deste ter perdido uma grande parte do seu apoio no Parlamento, uma quantidade ainda maior do que May quando esta enfrentou a moção de censura.

Muitos membros do partido conservador acreditam que esta moção representa o “princípio do fim” de Johnson no Parlamento.

Uma das principais razões para este voto de desconfiança está ligado ao “Partygate”, o escândalo à volta das sucessivas festas secretas que o Governo deu enquanto o resto de país era obrigado a estar fechado em casa devido à pandemia da covid-19.

Após o anúncio da moção, um porta-voz de Downing Street divulgou uma breve declaração afirmando que Boris Johnson está confiante que esta moção de censura possa ser a “oportunidade de terminar com meses de especulação e permitir que o Governo estabeleça um limite e siga em frente, cumprindo as prioridades do povo”. 

“O primeiro-ministro aprecia a oportunidade de apresentar a sua posição aos deputados e lembrá-los de que, quando eles estão unidos e focados nas questões que importam para os eleitores, não há força política mais formidável”, disse o mesmo porta-voz de Downing Street.

Segundo o professor de política de Queen Mary University, em Londres, Tim Bale, esta decisão não foi recebida com surpresa. 

“As sondagens revelam que o Partido Conservador sofreu uma queda dramática nas últimas semanas, em particular os números relacionados com Boris Johnson, apesar de nunca terem sido muito bons, estes caíram rapidamente nas últimas semanas”, disse o professor ao Al Jazeera.

“Para os deputados conservadores, a questão-chave é quem será mais capaz de ajudá-los a manter os seus assentos nas próximas eleições e Boris Johnson tornou-se mais um obstáculo do que uma ajuda nesse sentido”, afirmou Bale.

No caso de Johnson acabar por sair do poder, quem é que estará alinhado para a sucessão? Segundo o Guardian, não existe um claro candidato para assumir o poder, algo que poderá complicar a decisão de diversos membros do partido conservador, no entanto, estes apontaram dez nomes entre os tories, afirmando que as escolhas com mais chances de sucesso são Liz Truss, Jeremy Hunt e Rishi Sunak.

Truss é a ministra dos Negócios Estrangeiros, a primeira mulher inglesa a ocupar este cargo. Algumas das suas maiores vitórias recentes consistiram na libertação de Nazanin Zaghari-Ratcliff, uma cidadã britânica-iraniana que esteve seis anos na prisão no Irão por suposta espionagem, e a imposição de diversas sanções a oligarcas russos, apesar de acusações de um “começo preguiçoso” e de o seu gabinete não estar preparado para a guerra com a Ucrânia, escreve o jornal inglês.

Contudo, a ministra dos Negócios Estrangeiros é uma personalidade que divide o partido, onde, apesar de ser considerada como “brilhante” ou uma “nova Maggie [Thatcher]”, há também quem a acuse de ser “louca” devido às suas obsessões políticas excêntricas e a uma estranha forma de falar em público. Truss confessou “apoiar a 100% Boris Johnson” durante este processo. “Ele conseguiu efetuar uma recuperação da Covid-19 e apoiou a Ucrânia face à iminente agressão russa. Ele já pediu desculpa pelos erros que cometeu no passado. Agora temos que nos concentrar no crescimento económico”, disse a ministra.

O outro grande candidato é Hunt, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e atual ministro da Saúde, que em 2019 concorreu contra Boris para a liderança do partido conservador, após a renuncia de Theresa May, mas que acabou por perder. Ao contrário de Truss, Hunt motivou os seus colegas a aprovar o voto de não confiança a Boris Johnson.

Mesmo que não tenha o mesmo favoritismo de Truss e Hunt, o último dos três candidatos, Sunak, ministro das Finanças, que também expressou o seu apoio a Johnson, até poderia ser considerado o sucessor ideal, no entanto, um escândalo relacionado com a sua família e fraude de impostos fez com que a sua popularidade sofresse uma grande queda.