Banco Mundial. Guerra penaliza crescimento que é revisto em baixa

Analista contactado pelo i não se mostra surpreendido com a revisão em baixa e admite que metas possam novamente ser revistas.

 O Banco Mundial reviu em baixa a previsão de crescimento económico da zona euro para este ano que deverá desacelerar para 2,5%. A culpa é dos “choques de abastecimento adicionais” causados pela invasão da Ucrânia. Em causa está a revisão em baixa em 1,7 pontos percentuais, já que a guerra leva a “preços de energia mais altos, a disrupções contínuas nas cadeias de abastecimento e a condições financeiras mais apertadas”, diz no relatório Perspetivas Económicas Globais. 

O mesmo cenário repete-se a nível mundial, cujo crescimento deverá baixar de 5,7% em 2021 para 2,9% este ano, “significativamente abaixo” dos 4,1% previstos em janeiro, alertando para o risco acrescido de um cenário de estagflação – período económico marcado por uma crise económica com altas taxas de desemprego e de inflação. 

“Como resultado dos danos causados pela pandemia e pela guerra, o nível de rendimento per capita nas economias em desenvolvimento ficará este ano quase 5% abaixo da tendência pré-pandemia”, refere no documento, acrescentando que “agravando os danos da pandemia de covid-19, a invasão russa da Ucrânia amplificou a desaceleração da economia global, que está a entrar no que pode se tornar um período prolongado de crescimento fraco e inflação elevada”.

As novas projeções não surpreendem o analista da XTB, Henrique Tomé. “As recentes projeções voltam a evidenciar algumas fragilidades em torno do crescimento económico a nível mundial, que resultam das tensões no leste da Europa, bem como da condução das políticas monetárias cada vez mais restritivas por parte dos Bancos Centrais. Além disso, os constrangimentos nas cadeias de distribuição, assim como o aumento dos custos devido ao aumento dos preços do petróleo, também estão a provocar uma perda de poder de compra nos consumidores, o que poderá ter um impacto ainda maior durante os próximos meses, sendo que não se pode excluir a possibilidade de as atuais projeções serem novamente revistas em baixa”, diz ao i. 

Energia penaliza

De acordo com o mesmo documento, os “subsídios à energia em várias das grandes economias da zona euro, apesar de causarem distorções, deverão amortecer ligeiramente o impacto dos altos custos de energia no consumo das famílias”. E se, “além da energia, a exposição comercial direta da zona euro à Rússia é pequena, o que limita a impacto direto das sanções” impostas àquele país, o Banco Mundial refere que “os efeitos indiretos sobre já pressionadas cadeias de abastecimento, as tensões financeiras acrescidas e o declínio no consumo e na confiança empresarial têm abalado a atividade” na região euro.

Considerando o grupo das economias desenvolvidas, o Banco Mundial prevê que o respetivo crescimento desacelere “acentuadamente” de 5,1% em 2021 para 2,6% em 2022 – 1,2 pontos percentuais abaixo das projeções anteriores — e perspetiva “um crescimento ainda mais moderado, em torno dos 2,1%, em 2023-24, refletindo a progressiva retirada dos apoios orçamentais e monetários introduzidos durante a pandemia e o esgotamento da procura acumulada.

“Nas economias desenvolvidas, a atividade está a ser penalizada pela subida dos preços da energia, pelas condições financeiras menos favoráveis e pelas disrupções na cadeia de abastecimento, que foram agravadas pela guerra na Ucrânia”, salienta.

E considera que “um eventual agravamento da guerra na Ucrânia é o principal risco que ameaça estas previsões, já que poderia desestabilizar a já de si complicada situação geopolítica, desencadear aumentos adicionais dos preços da energia e dos alimentos, exacerbar as pressões inflacionistas, pressionar ainda mais as condições financeiras e prolongar a incerteza política”.