Cinema ao ar livre de volta a Lisboa no Terraço do Carmo

A Cine Society traz uma experiência de cinema ao ar livre com antigos e novos clássicos.

Chega o verão e o que se quer é uma certa leveza, aquele encanto que nos permite lavar os sentidos nas coisas. Ficar mudo diante delas, ser só o olhar que se enche num pasmo absoluto com o desfile das coisas na retina. Dá para ir buscar uns versos de Paulo Leminski: “Podem ficar com a realidade/ esse baixo astral/ em que tudo entra pelo cano// eu quero viver de verdade/ eu fico com o cinema americano”. O cinema, desde logo, é uma chamada de volta à infância, e o verão serve de extensão a essa imensa praia, de recreio para o passado assaltar o presente, e pôr-nos diante das nossas memórias como uma longa fita projectada no grande ecrã, numa sala escura. Também assim se ensaia uma defesa, como explicou entre nós Dinis Machado, no seu Reduto Quase Final: “Quando a infância começou a ser perturbada por desentendimentos mais amplos com o real, insisti na defesa da minha alegria, do meu prazer de viver. E até na dor que retirava dos que amava (dos meus avós, das minhas velhas tias, por exemplo), e até na morte, que sempre me surpreendia, protegia-me com essa frase defensiva, essa armadura de sol, de chuva e de subir a escada a quatro e quatro. Creio que os cómicos do cinema me compreendiam melhor que ninguém. Habitavam o coração do desastre com a desenvoltura e a paciência evangélica dos grandes missionários da naturalidade.”

E isto tudo serve de balanço para subirmos ao Terraço do Carmo (no lugar do antigo Topo Chiado) por estes dias, onde terão lugar um conjunto de sessões de cinema ao ar livre. Estas noites de verão promovidas pela Cine Society só não são mais convidativas porque o preço é estupendamente alto: 12 euros! Infelizmente, isto já não espanta ninguém numa cidade entregue ao nível de vida dos turistas. E aqui os versos de um outro poeta brasileiro, Mário de Andrade, também se mostram bastante úteis: “Eu insulto o burguês-funesto! (…) Fora os que algarismam os amanhãs! (…) Morte à gordura!/ Morte às adiposidades cerebrais!/ Morte ao burguês-mensal!/ ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!”

Mas voltando ao motivo da notícia, as sessões começam pelas 20h30, tendo o disparo para o arranque da programação sido dado já esta semana, na terça-feira, com The Grand Budapest Hotel (2014), de Wes Anderson. Entre os outros filmes já anunciados para ver no terraço no coração da Baixa estão Her (2013), de Spike Jonze, no dia 8, 500 Days of Summer (2009), de Marc Webb, a 15, Cães Danados (1992), de Quentin Tarantino, dia 22, ou Trainspotting (1996), de Danny Boyle, no dia 29. É uma programação que merecia um preço mais miúdo.