Das promessas à realidade!

Acusar (e insultar) Cavaco como discurso oficial pode estar na moda e ser politicamente correto, mas não resolve os nossos problemas. Costa foi eleito com maioria absoluta para melhorar as condições de vida dos portugueses e jamais para nos asfixiar com impostos ou introduzir discursos populistas, com soundbites tipo refrão, como o de ponderar estudar…

1. Cavaco fez prova de vida e logo saltaram os escribas oficiais do regime PS a zurzir como se não houvesse amanhã, entre epítetos (alguns insultuosos) que só demonstram o pânico que a sua figura gera entre os socialistas. Até Ana Catarina Mendes (na qualidade de ministra-adjunta e dos Assuntos Parlamentares) veio referir que Cavaco tem «azedume e ressentimento»! De quê, pergunto eu? Qual a obra feita desde 2015 pelos governos de Costa que constitua uma referência para as futuras gerações e que pudesse gerar esse despeito por parte de Cavaco?

De tal forma o artigo (e posterior entrevista) de Cavaco marcou a atualidade, que vimos Costa vir pressurosamente prometer (escassos dias depois do Governo ter assumido estudar a possibilidade da semana de 4 dias), o aumento dos salários médios em 20% nos próximos 4 anos! De imediato, esta promessa saltou para as parangonas oficiais, sem (quase) ninguém questionar umas coisinhas básicas: 

(i) Nominalmente ou em valores reais?

(ii) A quem se dirigia? 

a. Aos privados? Se forem estes, é fácil fazer promessas que outros terão que pagar; ou

b. Ao setor público, em resposta às reivindicações salariais quer da função pública (aumentos de 0,9% no OE de 2022) quer de empresas como o Metro ou CP (em constantes greves a reivindicar aumentos)? Será que possui uma ‘varinha mágica’ para incrementar a produtividade na função pública que suporte esses aumentos? Porque a alternativa é aumentar impostos…

Vamos lá dar de barato que a inflação já anda pelos 8% e que a meta do Governo para 2022 (4%) dificilmente vai ser atingida. Ou que já se sente, e bem, o aumento do custo dos juros na dívida pública, a onerar o OE 2022. A realidade é que a carga fiscal sobre o rendimento já ascende a 41,8%, conforme estudos da OCDE e, em 2021, o peso dos impostos no PIB ascendeu ao nível mais alto de sempre: 35,8%. Será que Costa acha pouco? 

Que tal um caminho diferente? Se pretendemos a reposição do poder de compra dos trabalhadores, porque não reduzir o peso do Estado na economia para se diminuírem os impostos? Ou a única receita conhecida para se cortar a despesa são as cativações que nada reduzem na despesa, mas só causam problemas na tesouraria das empresas fornecedoras de serviços ou bens? 

Acusar (e insultar) Cavaco como discurso oficial pode estar na moda e ser politicamente correto, mas não resolve os nossos problemas. Costa foi eleito com maioria absoluta para melhorar as condições de vida dos portugueses e jamais para nos asfixiar com impostos ou introduzir discursos populistas, com soundbites tipo refrão, como o de ponderar estudar os impactos da semana de 4 dias, num país com problemas de produtividade ou prometer aumentar em 20% os salários médios apenas em 4 anos, sem explicar o como.

2. A Saúde continua a ‘ferro e fogo’. A covid não dá tréguas. Os números de contágios (e mortes) continuam a colocar Portugal a liderar tristes estatísticas internacionais, sem se vislumbrarem medidas para cercear a propagação da pandemia, a não ser apelos à sensatez e prudência dos portugueses. Em vésperas dos Santos Populares, já se especula em atingirmos os 350 mil novos contágios… 

Mas não ficamos só pelo Covid. Notícia desta semana no Público refere que há atrasos nas juntas médicas a chegar a 2 (dois) anos. Na Provedoria da Justiça entraram 133 queixas provenientes de atrasos na sua realização, entre janeiro e maio de 2022. O Governo contrapõe que foram realizadas cerca de 107 mil juntas desde junho de 2020 e a ministra Temido, deveras consternada, reconhece a grande preocupação que constitui esta realidade. 

Por sua vez, um artigo desta semana no Observador de Alexandre Valentim Lourenço (Ordem dos Médicos) faz um apelo a mudanças drásticas no SNS ao referir que «os problemas são inúmeros, desde a estagnação remuneratória, (…), ao bloqueio da progressão na carreira médica – os raros concursos arrastam-se anos, às vezes em infindáveis processos nos tribunais que acabam com a sua anulação».

Acrescenta um lamento profissional ao referir que «os médicos não têm tempo para aprender e ensinar (…), os hospitais e centros de saúde tornaram-se meras repartições públicas (…) empenhadas em produzir números».

Termina com «a cereja amarga no topo do bolo azedo é a contratação de empresas prestadoras de serviços e tarefeiros para as urgências (…) e se paga, à peça ou à hora, 5 a 7 vezes mais do que aos especialistas que ainda permanecem no SNS».

Ao lermos estas afirmações, ficamos estupefactos. Qual a esperança que podemos ter que este Governo PS, com Costa desde 2015 como primeiro-ministro, consiga resolver estes problemas? Será, afinal, assim tão difícil, dissecar os mesmos para dar respostas integradas, como por exemplo promover concursos ou pagar melhor aos profissionais de Saúde, em detrimento dos tarefeiros?

P.S. 1- Christine Ourmières-Widener (CEO da TAP) já quantificou o significado do aumento do preço dos combustíveis nas Contas da TAP: 300 milhões! Mas não se assustem nem pensem que os contribuintes é que vão pagar isso… porque logo acrescentou, sem dizer quando, que «quer devolver o mais rapidamente possível aos contribuintes o dinheiro emprestado pelo Estado à TA». Há qualquer milagre que me está a escapar…

P.S. 2 – A emissão de juros a 9 anos foi esta semana conseguida com uma taxa de 2,33%, mais do dobro da anterior em fevereiro de 2022 (1,008%). Meus Senhores: acabou ‘a farra’ dos juros baixos, porque a partir de agora vai ser a doer!