Liga das Nações. Uma estranha combinação de cargas de pancada

A Alemanha repetiu a maior goleada de sempre frente à Itália (1939); a Hungria não deu seis em Wembley como em 1953, mas tornou-se na primeira selecção continental a vencer lá por quatro golos de diferença.

Alemanha, 5 – Itália, 2??!!! Eis algo a que não estávamos decididamente habituados. Nem nós nem ninguém. O jogo do Borussia Park ficou para a história do futebol entre os dois países e, já agora, para a história do futebol em geral, sem exageros. Repare-se apenas no pormenor: desde 1923 que italianos e alemães disputam jogos entre si, tendo o primeiro decorrido em Milão, no dia 1 de Janeiro, com vitória da Itália por 3-1.  Nos anos que seguiram, e com uma guerra mundial pelo meio, a Alemanha foi sendo superior em quase todos os particulares disputados – o primeiro jogo oficial só teve lugar em 1962, a contar para o Campeonato do Mundo do Chile (0-0). No dia 26 de Novembro de 1939, no Estádio Olímpico de Berlim, os dois aliados nessa macabra construção que eram as Potências do Eixo, defrontaram-se em mais um amigável. Tal como aconteceu na passada segunda-feira, a Alemanha goleou a Itália por 5-2. Ah! Pois. Ainda dizem que a história não se repete. Era a Itália campeã do mundo de Vittorio Pozzo (tal como esta é a Itália campeã da Europa de Roberto Mancini), mas os germânicos estiveram-se positivamente nas tintas para isso. Franz Binder fez um hat-trick, Ernst Lehner e Edmund Cohen fecharam as contas do lado alemão e os italianos responderam com golos de Giacimo Neri e Attilio Demaria, chegando a estar a ganhar por 2-1. Foi, até esta semana, o resultado com mais golos entre ambos e a maior goleada aplicada por um deles, embora tenha havido mais dois 4-1, ambos a favor da Alemanha, em amigáveis disputados em 2006 e 2016. Já agora, a pior derrota da história da seleção da Itália foi frente à Hungria, num humilhante 1-7, em Budapeste, no dia 6 de Abril de 1924. Fale-se, portanto, na Hungria…

 

Por falar em… Hungria, uma daquelas pátrias românticas do futebol onde o jogo sempre foi tratado com uma elegância incomum. No mesmo dia em que a Itália era espancada sem dó nem piedade pela Alemanha, os húngaros alcançavam outro êxito que ficará para sempre na história do jogo: nunca uma equipa do continente alguma vez vencera a Inglaterra em Wembley por quatro golos de diferença. 0-4! Abracadabrante para os ingleses sempre tão senhores do seu Imperial Stadium. No dia 31 de Março de 1928 tinham sido alegremente esculhambados pela Escócia por 1-5 mas, vendo bem, era um assunto lá entre eles, pessoal das ilhas.

Só que depois veio a Hungria (vá, digam lá que a história não se repete, se são capazes): no dia 25 de Novembro de 1953, no que foi considerado pela imprensa da época como ‘O Jogo do Século’, Hidegkuti (3), Puskás (2) e Bozsik desfizeram a defesa britânica com seis golos, oferecendo ao público embasbacado de Londres um festival de futebol ofensivo de primeiríssima qualidade. Não chegou para fazer da Hungria campeã do mundo porque, ao fim de três anos imbatíveis, os Mágicos Magiares perderiam a final do Mundial de 1954, em Berna, frente à Alemanha, embora ninguém ficasse com a mais pequena dúvida sobre quem era, na verdade, o melhor conjunto do planeta. Nesse jogo de 25 de Novembro, a Inglaterra respondeu com três golos: Sewell, Mortensen e Ramsey (de penalti) – depois, na desforra de Budapeste, as coisas foram piores, com 7-1 para a Hungria – , mas nunca mais houve quem fosse capaz de repetir a proeza de lhe impor em casa goleada do género. Até que, por falar em Hungria, os húngaros foram a Wembley vencer por 4-0, tornando-se, de novo, os fantasmas de um estádio cujo nome ressoa pelas paredes da história como o eco de uma lenda.