Do início do teste ao “sucesso esmagador”

A redução do período laboral está a ganhar força mas a ideia não é nova. No entanto, a pandemia veio acelerar esta necessidade. Um pouco por todo o mundo a ideia vai sendo posta em prática e há já casos de sucesso, como a Islândia.

Se em Portugal a semana de quatro dias de trabalho começa em fase de estudos, lá fora há quem já esteja mais avançado ou fale até em “sucesso esmagador”.

Esta é cada vez mais uma realidade um pouco por todo o mundo e o caso mais recente pertence ao Reino Unido onde, na passada semana, milhares de trabalhadores começaram a testar a semana de quatro dias. Este teste será o maior do mundo e envolve 3300 trabalhadores de 70 empresas de vários setores. O programa tem a duração de seis meses e estes trabalhadores não vão ter qualquer corte salarial mas, mesmo trabalhando 80% do seu horário habitual, terão de prometer 100% de produtividade.

O principal objetivo é ajudar as empresas na transição para uma semana de quatro dias de trabalho sem que sejam sacrificados lucros. E já foram feitos testes semelhantes em Espanha, Islândia, Estados Unidos ou Canadá. Mas já lá vamos.

Este ensaio foi criado pelo grupo 4 Day Week Global, que faz campanha para reduzir os dias de trabalho, juntamente com o grupo de reflexão Autonomy, as universidades de Cambridge e de Oxford e a Boston College.

Para este estudo, os investigadores vão tentar perceber a forma como os trabalhadores reagem e vão ser analisados fatores como o stresse, a satisfação profissional, o sono, saúde ou níveis de energia. E as empresas vão ser apoiadas através de seminários, coaching, formação e desempenho.

Aqui ao lado, o país vizinho tenta também implementar esta modalidade. Na Espanha, a semana de quatro dias foi proposta a pedido do partido de esquerda Más País. Cerca de 6 mil funcionários de 200 pequenas e médias empresas poderão prolongar o fim de semana em mais um dia, também com pagamento integral. O Ministério da Indústria, Comércio e Turismo até ao final do primeiro semestre do ano, vai lançar um programa de ajudas financeiras para as empresas que decidam implementar a jornada laboral de quatro dias, passando de 40 horas para 32 horas semanais. O orçamento para esta medida, que surge na sequência do projeto-piloto acordado entre o Governo espanhol e o Más País, é de dez milhões de euros.

Aqui, a gigante Telefónica Espanha anunciou já o novo modelo de trabalho. Semana de quatro dias para toda a equipa. Mas este modelo implica redução salarial. Esta ideia acontece depois de ter sido realizado um projeto-piloto que envolveu 150 colaboradores. A semana mais curta está disponível para todos os trabalhadores dessa empresa e, apesar da redução salarial, a operadora assegura 20% dessa perda de rendimento. E, assim, os colaboradores que aderirem ao modelo trabalham 32 horas semanais, oito horas por dia, de segunda a quinta-feira.

De Espanha passamos para a Bélgica que tem outro modelo dando hipótese aos trabalhadores de escolherem se querem trabalhar quatro ou cinco dias. No entanto, seja qual for a escolha, mantém-se a carga horária total. De acordo com o primeiro-ministro belga, Alexander de Croo, o objetivo do projeto é tornar a economia mais dinâmica e melhorar a compatibilidade entre família e trabalho.

Assim, desde meio do mês de fevereiro que a Bélgica entra então para o grupo de países que dão ao trabalhador a opção de distribuir a sua semana como lhes der mais jeito mas sempre a manter a mesma carga horária. 

Na Escócia, esta semana mais curta começou a ser testada no início do ano e no País de Gales estava em discussão.

Já na Suécia, esta semana de quatro dias de trabalho foi testada em 2015 mas as conclusões foram muito ambíguas e os políticos locais acharam a sua implementação dispendiosa. Mas as empresas gostaram da ideia e há quem a tenha mantido: a Toyota, por exemplo, já reduziu os turnos dos mecânicos há cerca de dez anos, e mantém essa política desde então.

Por sua vez, o país tem vindo a pressionar os empregadores a optarem pela redução da semana de trabalho para quatro dias, resultado de uma série de novas orientações económicas, que surgiram após a pandemia e que exigiram alterações profundas no mercado de trabalho. A ideia passa por promover um equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal.

Na Alemanha, são essencialmente as pequenas start-ups que têm experimentado a semana mais curta e ainda não há muitos dados sobre o assunto.

Caso de sucesso A Islândia foi um dos países pioneiros e um claro caso de sucesso. Durante quatro anos, o país nórdico promoveu um teste em 1% da população, que cortou um dia útil de trabalho na semana, sem redução de salário.

Resultado? Funcionários igualmente produtivos, mas mais satisfeitos e motivados. E também o stresse reduziu. A experiência consistiu em passar a semana de 40 horas de trabalho para 35-36 horas, durante 5 anos, sem baixar ordenados, e perceber o impacto em termos de produtividade e bem-estar dos trabalhadores. 

No entanto, é preciso perceber que esta experiência não será aplicável da mesma forma em todos os países até porque a Islândia tem dados muitos característicos: a população ativa representa 87% da população total. Em média os islandeses trabalham 44 horas por semana (3.º valor mais alto do Eurostat). E trabalham, em média, 47 anos, o valor mais alto da Europa.

Os investigadores que fizeram parte deste estudo não têm dúvidas: “É um sucesso esmagador”.

Recorde-se que o modelo de quatro dias de trabalho e 32 horas semanais já revelou inúmeros benefícios além do bem-estar dos funcionários. O World Economic Forum (WEF) enumerou três razões que tornam a semana de quatro dias o padrão do futuro: não reduz a produtividade, podendo até aumentá-la, promove a igualdade de direitos e reduz as emissões de carbono.

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