Morgan Simpson. “Tocar ao vivo assemelha-se a enfrentar um furacão”

À conversa com Morgan Simpson, incansável baterista dos black midi, durante o NOS Primavera Sound.

Enquanto milhares dos espetadores do NOS Primavera Sound se deleitavam com a “missa” de Nick Cave, um dos melhores e mais emocionais concertos de todo o festival que aconteceu na semana passada no Porto, mais acima, na colina onde estava instalado o palco Binance, preparava-se uma tempestade de energia para varrer os corajosos que abandonavam o espetáculo do australiano.

Os black midi, uma das mais entusiasmantes novas bandas britânicas e um dos porta-bandeiras do movimento Post-brexit Punk, tiveram a hercúlea tarefa de atuar ao mesmo tempo do líder dos The Black Seeds e responderam com um dos concertos mais irrequietos e energéticos do festival. 

No centro de toda esta tempestade estava Morgan Simpson, o baterista da jovem banda, que, com a sua incansável energia e força, marcou o passo da banda e conduziu inúmeros espetadores para um suado moche e um violento headbang que durou cerca de uma hora.

O Jornal i esteve à conversa com o baterista para perceber o que vai dentro da mente deste mestre do ritmo durante o concerto.

A secção rítmica dos black midi, nomeadamente a sua bateria, foram uma das melhores que alguma vez vi ao vivo. Como é a experiência de realizar um espetáculo tão energético e como é que o seu corpo aguenta um exercício tão intenso durante quase uma hora consecutiva?

Morgan Simpson: Antes de mais, gostava de agradecer estas palavras tão generosas, é um grande elogio tendo em conta as secções rítmicas incríveis de tantas outras bandas. É muito complicado colocar em palavras e descrever o que acontece durante o concerto em si e tudo aquilo que o rodeia. Tocar ao vivo é uma experiência que se assemelha a enfrentar um “furacão”, mas posso adiantar que é muito catártica e que me permite escapar a todos os problemas que acontecem no mundo real e que estão a ocorrer na minha vida. Não existe nenhum sentimento melhor!

As músicas dos black midi tem uns ritmos e tempos muito complexos, como é que é possível um baterista acompanhar todas estas mudanças durante o concerto?

MS: Para ser honesto, sinto-me extremamente privilegiado por tocar numa banda com músicos que são extremamente competentes com os seus respetivos instrumentos o que remove qualquer complicação ou “névoa” no que diz respeito à alteração de compassos ou mudança de tempos dentro das músicas. Pode soar um pouco clichê, mas depois de tocar músicas com tantas complexidades dentro da sua composição, acabas por te tornar cada vez mais confortável enquanto musico a um ponto em que nem sequer estás a pensar o que é que estás a tentar alcançar num sentido musical.

Na criação de músicas, é você que dita qual será o ritmo em que as músicas serão tocadas ou existe uma adaptação para aquilo que é mais útil para a banda e para a música?

MS: É um pouco de ambos, se uma música for formada através de um processo mais orgânico, por exemplo, durante uma sessão de improviso, então, naturalmente, o meu som e a minha voz musical pode ser impressa na canção enquanto esta está a criada. Mas se este não for o caso, e eu entrar no processo um pouco mais tarde, quando a canção já estiver numa fase de composição mais avançada, então tento sempre tocar aquilo que eu sinto que a música necessita.

Existe algum tipo de exercício de aquecimento que faça antes de um concerto?

MS: Não tenho uma rotina muito específica. O que costumo fazer é alongar o meu corpo e antebraços, tentar relaxar e descontrair o máximo possível antes da batalha!

Como foi a sensação de competir com o Nick Cave e os The Bad Seeds pelo mesmo horário no festival, uma vez que estavam a tocar ao mesmo tempo?

MS: Para ser honesto, fiquei destroçado por perder o concerto do Nick Cave, ainda para mais, todas as opiniões e críticas que ouvi foram sobre o quão incrível foi o seu concerto.