Ucrânia. Bloqueio lituano a Kaliningrado enfurece o Kremlin

Carvão, metais, materiais de construção ou tecnologia já não chegam a este enclave russo através da Lituânia. O Kremlin está preocupado com o quartel-general da sua frota do Báltico e promete retaliar.

Enquanto o poderio militar russo se concentra em Severodonetsk e Lysychansk, no leste da Ucrânia, as tensões crescem no flanco oeste da Rússia. O Kremlin está furioso devido ao bloqueio a Kaliningrado, lançando até ameaças, prometendo “sérias consequências” caso a Lituânia não permita que bens como carvão, metais, materiais de construção ou tecnologia avançadas sejam transportadas através da sua rede ferroviária, da Rússia até este enclave russo. O anuncio do bloqueio a Kaliningrado, no fim de semana passada, levou muitos dos seus habitantes a acorrer em massa aos supermercados, fazendo compras freneticamente, não fosse haver escassez de bens essenciais. Manter este enclave – rodeado pela Lituânia a nordeste e pela Polónia a sudoeste, ambos países membros da NATO – sob controlo não é uma preocupação menor para o Kremlin.

Kaliningrado, uma antiga região alemã que foi anexada pela União Soviética no rescaldo da II Guerra Mundial, tendo hoje cerca de um milhão de habitantes, não só tem valor simbólico, como é dos oblasts – uma divisão administrativa russa, equivalente aos nossos distritos – mais prósperos da Rússia. Além de ter uma enorme importância militar, sendo o único porto do Kremlin no mar Báltico que não tem gelo o ano todo, o quartel-general da frota báltica russa. E a marinha em Kaliningrado ainda esta segunda-feira deu início aos seus exercícios para treino de artilharia e mísseis, contando com mais de mil efetivos, avançou a agência noticiosa RIA Novosti. 

Não é algo que deixe os países vizinhos de Kaliningrado particularmente descansados, ainda para mais com a retórica do Kremlin a escalar face ao bloqueio lituano. “A Rússia certamente vai responder a essas ações hostis”, prometeu Nikolai Patrushev, secretário do Conselho de Segurança da Federação Russa, à RIA Novosti. “Medidas estão a se trabalhadas num formato interdependental e serão tomas num futuro próximo. As suas suas consequências serão tão um impacto negativo para a população lituana”, acrescentou. O problema é que, pelo menos no que toca à guerra económica, faltam trunfos ao Kremlin, tendo a Lituânia já deixado de comprar gás natural russo. 

A Lituânia, que tem uma população russófona significativa, teme explicado que está simplesmente a aplicar as sanções europeias devido à invasão da Ucrânia, que abrangem cerca de metade dos bens russos que costumavam ser transportados através do seu território até Kalinegrado. Mas naturalmente que o Kremlin não está a satisfeito. E até a própria União Europeia tem algum receio que Vladimir Putin decida retaliar. 

“Estou sempre preocupado quanto à retaliação russa”, admitiu Josep Borrell, o responsável da Comissão Europeia para a política externa. “Não há nenhum bloqueio. O trânsito por terra entre Kaliningrado e outras partes da Rússia não foi proibido”, frisou Borrell. “Segundo, o transito de pessoas e bens que não são sancionados continua. Terceiro, a Lituânia não levou a cabo nenhuma restrição nacional unilateral”. 

A força aérea russa falhou Entretanto, a ofensiva do Kremlin no Donbass continua a avançar, lentamente e com grande custo para os invasores. Um dos motivos que é apontado para a surpreendente ineficácia das forças russas tem sido o falhanço da sua força aérea. Que, apesar de ter causado grandes estragos à infraestrutura militar ucraniana, sobretudo nos primeiros momentos da invasão, não conseguiu estabelecer uma supremacia aérea avassaladora.

Isto “apesar da Rússia ter um rol impressionante de caças relativamente modernos e capazes”, considerou o ministério da Defesa britânico. “Durante anos, muito do treino de combate aéreo da Rússia foi altamente coreografado e desenhado para impressionar oficiais seniores, em vez de desenvolver dinâmica e iniciativa entre as tripulações”, explicou. Como tal, durante a invasão da Ucrânia, a força aérea russa “tem operado num estilo adverso a riscos, raramente penetrando em profundidade atrás das linhas ucranianas”, lia-se num tweet, esta segunda-feira.

Como que para provar a análise do ministério da Defesa britânico, logo no dia seguinte a força aérea ucraniana anunciou ter atingido a Ilha das Serpentes – que ficou famosa pelo áudio de militares ucranianos a recusarem render-se perante um navio de guerra russo, lançando insultos por rádio – e causado “baixas significativas” às forças do Kremlin.